terça-feira, 7 de outubro de 2014

Assis Aderaldo: Aécio é a direita genuína, Marina é produto genérico

 

Conta milenar lenda chinesa haver um Mandarim que era fascinado pela figura mitológica dos dragões. Seu palácio reproduzia gigantesco dragão, assim como todos os ornamentos, vestuário, roupas de cama, louças, etc, tudo a reproduzir dragões. Um dia alguém bateu insistentemente na aldraba do portão, e estando sozinho no palácio, o mandarim foi atender.

Por Assis Aderaldo*, especial para o Vermelho


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Ao abrir deparou-se com um dragão de verdade, medonho, a soltar fogo pelas ventas; apavorado, exalou, ao confrontar-se com o objeto de sua fantasia.

O resultado do primeiro turno trouxe a ressaca e susto que muitas pessoas tomaram ao dar-se conta de que o dragão está à porta, e suas ventas exalam o enxofre da alta dos juros, do desemprego, da usurpação de 
DIREITOS TRABALHISTAS, da restrição ao crédito de consumo e o abandono da política de acesso à educação, notadamente de nível superior. Em oito anos de tucanato não foi criada nenhuma universidade pública. Esse filme já passou, e o povo brasileiro apanhou dos bandidos.

Muita gente embarcou de boa fé nas fantasias de Marina, uma terra do nunca onde ela instalaria o “governo dos bons”, uma “nova política”, acima e ao largo de partidos políticos, sem explicar, todavia, quem escolheria os bons a nos governar. Um conselho de sábios, talvez, mas quem e como o definiria? 

A inconsistência do discurso de Marina foi desmascarada por ela mesma, nas reiteradas mudanças de posição em questões que mexem com a vida e liberdade das pessoas, como a descriminalização do aborto, o reconhecimento da união homoafetiva, a contrariedade à revisão da anistia aos torturadores (que lhe valeu o apoio oficial dos gorilas do Clube Militar) e a proposta da banca internacional, de “independência do Banco Central”, a atribuir ao capital financeiro privado as decisões sobre câmbio, moeda, juros, etc. A suscetibilidade a pressões de subprodutos da política como o pastor Malafaia, a ricona Neca Setúbal e as ONGs do ecocapitalismo é que defenestraram Marina, não as críticas dos outros candidatos. 

O grande capital, que realmente dá as cartas, nunca ganhou tanto 
DINHEIRO no Brasil, como nos últimos anos. Ele precisa e gosta de estabilidade econômica e jurídica, essa última garantida pela produção legislativa de um Congresso que não vacila em enfrentar o executivo quando se trata de defender os interesses dos grandes financiadores das campanhas políticas. Os pitís e chororôs de Marina não oferecem essa segurança ao grande capital, que antes já inflara, para, em seguida, descartar o justiceiro Barbosa, por instável pitbull capaz de morder os donos. Como diria o lesa-pátria FHC, “assim não pode, assim não dá”.

O crescimento de Aécio e a desconstrução de Marina são mais que turbulências eleitorais; representam o sinal de alerta do conservadorismo tradicional, a demarcar território de poder e bradar: “ei, a direita genuína sou eu, Marina é produto genérico”. E acenar ao rentismo internacional a fragilização moral da Petrobrás, porta aberta à privatização ambicionada desde os tempos de Getúlio Vargas. Os tucanos nem precisaram brandir o tacape da barbárie, Fidelix e pastor Everaldo o fizeram, também a disputar nesgas do território do ódio político e religioso que credenciou Bolsonaro, Feliciano e as bancadas da bala como campeões de votos na eleição. É preocupante, mas muito real.

Aécio é o cavalo de santo mais conveniente a ser montado pelos orixás perversos da direita orgânica, a que tem partidos, mídia a soldo, e confiabilidade dos donos da grana. Com cinismo suficiente a brandir discurso moralista contra a corrupção, como exclusiva ao PT. 

O segundo turno não tem talvez nem depois: dele sairá quem vai governar o Brasil, o dragão do retrocesso ou a continuidade de uma experiência que, com todos os erros e vacilações, elevou os indicadores sociais e o bem estar dos brasileiros a patamares nunca antes alcançados. Não é o PT ou Dilma que estão em jogo, é o Brasil. É hora de sair às ruas, essa briga é conosco e com nossos filhos!

*É advogado.

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