quarta-feira, 8 de abril de 2015

Redução da maioridade penal: os argumentos de O Globo


  

O jornal O Globo publicou nesta segunda-feira (6) um editorial intitulado “Destravar o debate”, defendendo a redução da maioridade penal. Nada demais um jornal defender uma opinião sobre um tema que faz parte da pauta nacional. Mas chamam a atenção os fracos argumentos que embasam a posição de O Globo na questão da maioridade penal. Tão fracos que nos fazem pensar que O Globo só defende a redução por uma questão de coerência histórica. 



O editorial começa com a seguinte afirmação: “O Unicef estima que 1% dos homicídios no Brasil é cometido por adolescentes com 16 ou 17 anos”. Ora, segundo projeção do IBGE, em 2015 jovens de 16 e 17 anos representam 3,35% da população em geral. Portanto, se 3,35% da população respondem por 1% de todos os assassinatos, não é nesta faixa etária que está o principal problema, sem contar o fato óbvio de que, de acordo com a própria informação de O Globo, 99% dos assassinatos são cometidos por maiores. O Globo também argumenta que “os indicadores evidenciam que a política brasileira para enfrentar a crescente criminalidade juvenil é um fracasso”. Nem tanto. O índice de reincidência de jovens infratores que passam por medidas socioeducativas não chega a 30%, enquanto que entre os adultos do sistema prisional o índice é de 70%. Maíara Fernandes, que assina a seção “outra opinião”, contraditando a posição do jornal, apresenta dados que desmentem inclusive a suposta “crescente criminalidade juvenil”. 

O Globo coerente com sua história

Ao defender a redução da maioridade penal,O Globo é coerente com sua história. Senão, vejamos: criação do 13º salário? O Globo foi contra. Instalação da Ditadura militar? O Globo foi a favor. Privatização do patrimônio público? O Globo é a favor. Reforma agrária? O Globo sempre foi contra. Programa mais médicos? O Globo é contra. Ganho real para o salário mínimo? O Globoé contra. E assim vai. O Globo só não faz pressão para revogar a lei da gravidade porque ainda não pensou em um jeito de ganhar dinheiro com isso. Termina assim o editorial de O Globo em defesa da redução da maioridade penal. “Jovens com plena capacidade de discernimento são atraídos pelo crime, e devem responder perante a Justiça por seus atos”. Isso ninguém discute, pois somos contra a impunidade seja de jovens de 16 ou 17 anos, seja de empresas com quase 50 anos e que fraudam a receita e subornam funcionários públicos para encobrir a fraude. Todo o rigor da lei para estes delinquentes!

Um “Instituto” contra o diploma obrigatório para os jornalistas

Sob o título “Uma ideia fora do lugar” a Folha de S. Paulo publica artigo de Patricia Blanco, presidenta do Instituto Palavra Aberta, contra a obrigatoriedade da exigência de curso superior em comunicação para a prática do jornalismo. Segundo o jornal informa, o “Palavra Aberta” é uma “organização dedicada à promoção da liberdade de expressão e da livre iniciativa”. Apenas a segunda parte do enunciado é verdadeira. O IPA é defensor da mídia empresarial o que, como sabemos, não guarda qualquer relação com a liberdade de expressão. A entidade foi criada pela Associação Nacional do Jornais (ANJ) e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), ambas controladas pelas organizações Globo e a ela subservientes. A articulista afirma que “apenas em países onde a democracia e a liberdade de expressão sofrem severas ameaças” existe a obrigatoriedade do diploma. Como Patricia Blanco acredita que “liberdade de imprensa” é a mesma coisa que “liberdade de empresa”, um conceito como “democracia” adquire significado especial para ela. Por exemplo, o conceito de democracia, na visão de pessoas como a Patricia, é tão inusitado, que foi em nome da “democracia” que a mídia empresarial ajudou a implementar a ditadura militar no Brasil.

Bélgica e Itália, o “eixo do mal”

Assim, ao falar sobre países que “ameaçam a liberdade de expressão”, na verdade Patrícia muitas vezes está se referindo a países verdadeiramente democráticos, mas onde a mídia não é escrava de interesses comerciais. Mas será que o IPA acha que até na Bélgica, onde o diploma é obrigatório, a liberdade de expressão é ameaçada? Na Itália, não existe a exigência de diploma de jornalista, mas por outro lado o cidadão só pode exercer a profissão depois de conseguir um registro na “Ordem dos Jornalistas” e este registro só é concedido após um estágio de 18 meses e aprovação em um exame de proficiência. Lorenzo Del Boca, presidente da Ordem até 2010, defende que a Itália passe a adotar a obrigatoriedade e diz que "não pode haver improvisação na formação do jornalista". 

O que o monopólio da mídia verdadeiramente defende

Independente das opiniões sobre este tema da obrigatoriedade do diploma, polêmico até entre a esquerda, é necessário desmascarar argumentos como os usados pela presidenta do Instituto Palavra Aberta, que relaciona a exigência do diploma a uma suposta restrição ao direito de qualquer um se expressar. Na verdade, quem impede que a pluralidade de opiniões aconteça é justamente a mídia empresarial, monolítica e monopolizada. O próprio tema do artigo é prova disto. Para os jornalões só existe uma opinião: a que é contra o diploma. Assim aconteceu também na época da proposta de criação do Conselho de Jornalistas. A mídia demonizou em uníssono esta iniciativa da Fenaj, sem dar espaço a qualquer contraditório. Muita gente boa é contra a exigência do diploma para jornalistas com argumentos respeitáveis, mas quando representantes da mídia hegemônica se pronunciam a este respeito está em jogo o interesse de manter a comunicação brasileira totalmente desregulamentada, vivendo ao sabor dos interesses comerciais e políticos do principal patrão da dona Patricia, o grupo Globo, cuja sinceridade em relação à defesa da liberdade de expressão é a mesma de um ator canastrão interpretando pela centésima vez um antigo papel.

Festa na Folha

Vejam a foto abaixo, publicada nesta terça-feira (7), no jornal Folha de S. Paulo. Dilma parece se esconder atrás de uma parede e aparenta estar indecisa entre entrar ou não. Na verdade ela estava chegando à cerimônia de posse do novo ministro da Educação no Palácio do Planalto, quando pronunciou um firme discurso onde, entre outras coisas, defendeu a Petrobras e a educação pública. Mas o que importa para o “isento” jornal da família Frias é reforçar cada vez mais a imagem de uma Dilma acuada e “com medo”. Imagino a festa na redação, com o editor comemorando: “mais uma para f* com essa petralhada”. E viva a isenção da “mídia hegemônica”!



Estadão a um passo da cova

O jornal O Estado de S. Paulo, na véspera do dia do jornalista, comemorado nesta terça-feira (7), iniciou um processo de demissão em massa de 120 profissionais, sendo 40 jornalistas e 80 funcionários de diversas áreas, revelando o tamanho da crise do grupo. O repórter especial Lourival Sant'Anna, o repórter de cultura Jotabê Medeiros; os de política Fábio Brandt e Roldão Arruda; Sílvio Barsetti, de "Esporte", da sucursal do Rio de Janeiro; e Gabriel Perline, do caderno "Divirta-se"; Caio do Valle, de "Metrópole" e a editora de arte Andrea Pahim, estão entre os demitidos. Em fevereiro o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo já reclamava das 10 demissões ocorridas naquele mês e denunciava que oEstadão estava com um plano de dispensa em massa, o que de fato aconteceu. Muitos jornalistas não dão bola para o sindicato da categoria com o argumento de que são “amigos” dos patrões, a quem chamam de colegas, alegando tratar com os “colegas” sobre aumento salarial e outros direitos e, portanto, prescindindo do sindicato. Se entre os demitidos tem alguém que pense assim, esta é uma excelente ocasião para se testar o alcance desta amizade.

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