quarta-feira, 26 de abril de 2017

Brasileiros de todos os credos e convicções, uni-vos!



Luciana Waklawovsky/CUT
 O Presidente da CNBB debateu a reforma da previd~encia com dirigentes das centrais sindicais O Presidente da CNBB debateu a reforma da previd~encia com dirigentes das centrais sindicais
O artigo em apreço, publicado no site da CNBB (1), que pela sua pertinência, clareza e firmeza, merece a atenção da sociedade brasileira, independentemente do credo ou convicção político-partidária. 

O texto inicia pela referência ao significado histórico da celebração do 1º de Maio, "evocando a luta heróica pela jornada das 8 horas acontecida em Chicago, no 1º de maio de 1886, quando por um atentado simulado, a justiça executou 4 operários condenados sem o devido processo legal". 

Coerente com o seu percurso histórico, a Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) assume um papel relevante no campo progressista da luta política de hoje e alerta: "nos deparamos que conquistas alcançadas com o suor e sangue de irmãos do povo simples e trabalhador estão a perigo de desaparecer", criticando com toda a clareza o ataque que se assiste à legislação que protege e tutela os direitos do trabalho, "um ataque tão virulento e sistemático, que com a promessa de uma flexibilização que poderia ampliar os postos de trabalho, se impõe sem escrúpulos a agenda neoliberal, do fim da segurança, empregabilidade e os princípios mais claros da justiça trabalhista qual sejam: a prioridade do trabalho sobre o capital, a irrenunciabilidade dos direitos sociais, e a tutela do mais fraco diante da desigualdade imposta pelo dinheiro". 

A CNBB, pela voz dos Bispos brasileiros, aponta os processos de precarização, pelo "trabalho intermitente, part time, horista, terceirizado, sem vínculos nem proteção, deixando a negociação por si dessimétrica a cargo do consenso das partes" e, numa afirmação de uma "doutrina social da Igreja pensada a partir do Evangelho" sublinha: "quebra-se o pacto social e civilizatório que mantinha um marco regulatório que servia ao bem comum, uma vez que colocava limites a torpe ganância e ao lucro predador".

A posição da CNBB a respeito da questão trabalhista é formulada de forma precisa: "o trabalho deve ter um salário digno que permita sustentar a família e ter aceso a propriedade, participação nos rendimentos e nas decisões, lembrando o destino universal dos bens e a função social que hipoteca e onera todo empreendimento financeiro e econômico". 

E, na sequência, a crítica é contundente, afirmando: "é verdadeiramente míope trazer de volta o capitalismo selvagem, pois se reduz o mercado interno e se inviabiliza o verdadeiro desenvolvimento humano, integral, solidário e sustentável. As reformas que estão em pauta não são um salto para o futuro, mas um regresso aos piores tempos da exploração quando o "exército de reserva dos desempregados" baixava os salários e as condições do trabalho, ao nível cruel da sobrevivência e da total precariedade. A competitividade destrutiva e predatória não promove pessoas e não gera uma civilização do trabalho responsável, eficiente e verdadeiramente criativa"(1).

As posições da CNBB em defesa do trabalhador e na afirmação do empenho da Igreja numa ética social do trabalho como critério para tratar os problemas económicos e laborais, levou a muitos outros dignatários da Igreja Católica no Brasil a manifestar-se publicamente contra as políticas regressivas do governo de Michel Temer, governo ilegítimo no seu surgimento e ilegítimo também no modo político de agir. Ilegítimo até pela amoralidade da sua forma de fazer política, pretendendo impôr uma agenda de reformas sem diálogo com a população brasileira.

Pelas razões tão claramente expressas no artigo citado, a CNBB empenha-se ativamente na mobilização do povo brasileiro, em defesa dos seus direitos e das conquistas trabalhistas, numa forma que é também militante, e que justifica o título desta notícia: brasileiros de todos os credos e convicções, uni-vos!



(1) http://www.cnbb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20661:por-uma-cultura-do-trabalho-decente-justa-e-solidaria&catid=391&Itemid=204


 *Alexandre Weffort é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura

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