Os principais fatos do dia analisados pela cientista política Ana Prestes.
Hoje, 6 de junho, comemora-se o 75º. aniversário do “Dia D”, parte da operação Overlord, que em 1944 marcou o início do desembarque de tropas aliadas na Normandia. É um dia muito comemorado especialmente pelos europeus, quando as tropas do Reino Unido, EUA, Canadá e França, atacaram as forças alemãs nazistas no litoral francês e forçaram passagem para a França. O dia D veio para os alemães na sequencia de duas derrotas importantes em Stalingrado e Kursk. Entre outros fatores, o Dia D, demonstrou um aceno às abordagens da União Soviética para que britânicos e americanos se engajassem mais na luta contra os nazistas. Este ano, Trump está no Reino Unido, onde participa das celebrações do Dia D ao lado da Rainha Elizabeth.
Bolsonaro estará hoje (6) na Argentina e pode ser uma visita incômoda para seu anfitrião. Em profunda crise econômica, o país vive o contexto da véspera de uma eleição presidencial que pode abater o macrismo e reconduzir o kichnerismo para o centro o poder, caso seja eleita a chapa peronista composta por C. Kirchner na posição de vice, ainda a ser legitimada pelas prévias eleitorais partidárias de agosto. A proximidade com Bolsonaro pode deixar Macri ainda pior avaliado pela opinião pública argentina. O presidente brasileiro é visto no país como perseguidor de LGBTs, misógino e defensor dos crimes de morte e tortura durante a ditadura brasileira dos anos 60 e 70. Na Argentina, o tema das reparações e condenações de responsáveis pelo desaparecimento de quase 30 mil pessoas entre 1976 e 1983 mobiliza muito a cidadania, de todo o espectro político. Comemorar golpes militares é algo impensável na Argentina. Na área da economia Bolsonaro também não é bem visto, principalmente por sua postura quanto ao Mercosul e o fato de o Brasil ter passado a comprar mais trigo dos EUA, em detrimento do produto argentino. O atoleiro econômico em que se encontra o Brasil também é desesperador para a economia dos vizinhos. Está convocado para as 18h de hoje (6), na Plaza de Mayo em Buenos Aires, um protesto que leva o nome de “Argentina Rechaza Bolsonaro”.
Mais um ex-presidente latino-americano pode ser alvo de processo por vínculos com a construtora brasileira Odebrecht. Trata-se de Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia que está sendo investigado e deve depor no próximo dia 17 de junho, em Bogotá. Um documento do Departamento de Justiça dos EUA, de 2017, relaciona 12 países da América Latina que teriam tido relações “duvidosas” com a Odebrecht. O interesse norte-americano em ser polícia da política latino americana revela também uma perseguição a dirigentes políticos que contrariam seus interesses. Santos, por exemplo, foi responsável pela condução exitosa de uma pacificação do país com as FARC, ganhando inclusive o Nobel da Paz pelo feito.
Por falar em Colômbia, Farc e Nobel da Paz, após a chegada de Iván Duque à presidência e seu trabalho de modificar os acordos de paz, com insistentes tentativas de prisões, assassinatos encobertos e deportações de ex-líderes, os rumos tomados pelo país foram outros, diferentes do esperado com a pacificação. Uma forte dissidência está se produzindo, após a morte de pelo menos 139 ex-combatentes, segundo matéria veiculada ontem (5) na FSP.
Aos poucos os EUA vão dando notícias do fracasso de sua tentativa de golpe na Venezuela. A última constatação do governo Trump é de que a oposição na venezuelana é muito dividida, coisa que todos que acompanham o cenário venezuelano sabem muito bem. Uma das últimas declarações do secretário de Estado, Mike Pompeo, dá conta de que caso o presidente Maduro seja derrubado, “40 pessoas tentarão substituí-lo”. A declaração foi pescada de uma reunião entre Pompeo e a comunidade judaica em NY e publicada pelo Washington Post.
Enquanto isso, no Brasil, ao contrário do que teriam aconselhado seus assessores militares (segundo fontes da imprensa), o presidente Bolsonaro recebeu na última terça (4), as cartas credenciais da embaixadora para o Brasil do autoproclamado presidente e cada vez mais desprestigiado representante da oposição venezuelana, Juan Guaidó. A cerimônia foi no Palácio do Planalto e María Teresa Belandria foi reinserida às pressas no protocolo, após ter sido desconvidada nos dias anteriores. O credenciamento de Belandria ocorre no mesmo momento em que há melhoras substantivas da situação na fronteira entre Brasil e Venezuela em Roraima. A embaixada da Venezuela em Brasília é a sede dos representantes do Estado venezuelano no Brasil e hoje, corretamente, ocupada por designados pelo governo Maduro. Não se sabe se Belandria e seu staff tentarão forçar passagem.
Xi Jinping, presidente da China, está na Rússia. A visita marca a passagem do aniversário de 70 anos de relações diplomáticas entre os dois países. A visita terá a duração de três dias, com direito a discurso de Xi no 23º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. Até aqui o encontro já gerou palavras como “querido amigo”, em uma referência de Putin a Xi e “estamos começando uma nova era”, que consta de uma declaração conjunta a ser assinada pelos dois. Como bem lembrou um conselheiro do Kremlin, citado na imprensa nos últimos dias, a ex-União Soviética foi “a primeira a reconhecer a República Popular da China”, logo após sua proclamação em 1949. O conselheiro, Iuri Uchakov, disse ainda que a China é o principal parceiro comercial russo e seu intercâmbio aumentou em 25% em 2018, referente ao período anterior. Agora, Xi e Putin querem “atingir um nível de 108 bilhões” em trocas comerciais. Em um momento de grande tensão entre EUA e China, mas também entre EUA e Rússia, os dois países tem alinhado seus posicionamentos em questões internacionais, tais como a questão nuclear da Coreia do Norte, a guerra na Síria, a crise na Venezuela e a política nuclear do Irã. Deverá fazer parte de suas declarações, ao longo dos próximos dias, uma defesa dos atuais tratados de controle de armamentos e não proliferação, como um recado ao presidente Trump que se retirou do acordo sobre o programa nuclear do Irã e também do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) que tinha com a Rússia desde 1987.
A tentativa de Salvini de formar um novo bloco de extrema-direita no parlamento europeu sofreu um revés ontem (5). O Partido do Brexit do Reino Unido e o Partido Direito e Justiça da Polônia se recusaram a integrar o bloco puxado por Salvini (Liga), Le Pen (Reunião Nacional) e AfD da Alemanha. Os parlamentares europeus britânicos devem integrar o parlamento até a conclusão do Brexit. Nos últimos dias, o Fidesz, de Viktor Orban, também havia se distanciado de Salvini. Algumas alegações dos partidos dissidentes são a proximidade de Salvini e Le Pen com o governo russo e o medo, por parte de Orban, por exemplo, de tensionar ainda mais sua relação com líderes europeus e gerar sanções econômicas ao país. Salvini também tem tido problemas em casa, na Itália. Nos últimos dias, o primeiro ministro Giuseppe Conte ameaçou deixar o cargo e alertou Salvini para que “deixe de causar problemas”. O governo italiano é formado por uma composição entre a Liga de Salvini e o 5Estrelas de Di Maio e os dois andam às turras nos últimos dias. Os pontos de tensão são as politicas anti-imigração e a negociação do orçamento com a União Europeia.
De alguma forma o Brasil se beneficiou da tensão comercial entre EUA e México nos últimos dias. Tradicional consumidor do milho americano, o México comprou 2,5 milhões de toneladas de milho brasileiro. Trump tem ameaçado um tarifaço sobre as importações mexicanas caso o país não detenha o fluxo migratório que atravessa seu território rumo aos EUA.
Bolsonaro estará hoje (6) na Argentina e pode ser uma visita incômoda para seu anfitrião. Em profunda crise econômica, o país vive o contexto da véspera de uma eleição presidencial que pode abater o macrismo e reconduzir o kichnerismo para o centro o poder, caso seja eleita a chapa peronista composta por C. Kirchner na posição de vice, ainda a ser legitimada pelas prévias eleitorais partidárias de agosto. A proximidade com Bolsonaro pode deixar Macri ainda pior avaliado pela opinião pública argentina. O presidente brasileiro é visto no país como perseguidor de LGBTs, misógino e defensor dos crimes de morte e tortura durante a ditadura brasileira dos anos 60 e 70. Na Argentina, o tema das reparações e condenações de responsáveis pelo desaparecimento de quase 30 mil pessoas entre 1976 e 1983 mobiliza muito a cidadania, de todo o espectro político. Comemorar golpes militares é algo impensável na Argentina. Na área da economia Bolsonaro também não é bem visto, principalmente por sua postura quanto ao Mercosul e o fato de o Brasil ter passado a comprar mais trigo dos EUA, em detrimento do produto argentino. O atoleiro econômico em que se encontra o Brasil também é desesperador para a economia dos vizinhos. Está convocado para as 18h de hoje (6), na Plaza de Mayo em Buenos Aires, um protesto que leva o nome de “Argentina Rechaza Bolsonaro”.
Mais um ex-presidente latino-americano pode ser alvo de processo por vínculos com a construtora brasileira Odebrecht. Trata-se de Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia que está sendo investigado e deve depor no próximo dia 17 de junho, em Bogotá. Um documento do Departamento de Justiça dos EUA, de 2017, relaciona 12 países da América Latina que teriam tido relações “duvidosas” com a Odebrecht. O interesse norte-americano em ser polícia da política latino americana revela também uma perseguição a dirigentes políticos que contrariam seus interesses. Santos, por exemplo, foi responsável pela condução exitosa de uma pacificação do país com as FARC, ganhando inclusive o Nobel da Paz pelo feito.
Por falar em Colômbia, Farc e Nobel da Paz, após a chegada de Iván Duque à presidência e seu trabalho de modificar os acordos de paz, com insistentes tentativas de prisões, assassinatos encobertos e deportações de ex-líderes, os rumos tomados pelo país foram outros, diferentes do esperado com a pacificação. Uma forte dissidência está se produzindo, após a morte de pelo menos 139 ex-combatentes, segundo matéria veiculada ontem (5) na FSP.
Aos poucos os EUA vão dando notícias do fracasso de sua tentativa de golpe na Venezuela. A última constatação do governo Trump é de que a oposição na venezuelana é muito dividida, coisa que todos que acompanham o cenário venezuelano sabem muito bem. Uma das últimas declarações do secretário de Estado, Mike Pompeo, dá conta de que caso o presidente Maduro seja derrubado, “40 pessoas tentarão substituí-lo”. A declaração foi pescada de uma reunião entre Pompeo e a comunidade judaica em NY e publicada pelo Washington Post.
Enquanto isso, no Brasil, ao contrário do que teriam aconselhado seus assessores militares (segundo fontes da imprensa), o presidente Bolsonaro recebeu na última terça (4), as cartas credenciais da embaixadora para o Brasil do autoproclamado presidente e cada vez mais desprestigiado representante da oposição venezuelana, Juan Guaidó. A cerimônia foi no Palácio do Planalto e María Teresa Belandria foi reinserida às pressas no protocolo, após ter sido desconvidada nos dias anteriores. O credenciamento de Belandria ocorre no mesmo momento em que há melhoras substantivas da situação na fronteira entre Brasil e Venezuela em Roraima. A embaixada da Venezuela em Brasília é a sede dos representantes do Estado venezuelano no Brasil e hoje, corretamente, ocupada por designados pelo governo Maduro. Não se sabe se Belandria e seu staff tentarão forçar passagem.
Xi Jinping, presidente da China, está na Rússia. A visita marca a passagem do aniversário de 70 anos de relações diplomáticas entre os dois países. A visita terá a duração de três dias, com direito a discurso de Xi no 23º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. Até aqui o encontro já gerou palavras como “querido amigo”, em uma referência de Putin a Xi e “estamos começando uma nova era”, que consta de uma declaração conjunta a ser assinada pelos dois. Como bem lembrou um conselheiro do Kremlin, citado na imprensa nos últimos dias, a ex-União Soviética foi “a primeira a reconhecer a República Popular da China”, logo após sua proclamação em 1949. O conselheiro, Iuri Uchakov, disse ainda que a China é o principal parceiro comercial russo e seu intercâmbio aumentou em 25% em 2018, referente ao período anterior. Agora, Xi e Putin querem “atingir um nível de 108 bilhões” em trocas comerciais. Em um momento de grande tensão entre EUA e China, mas também entre EUA e Rússia, os dois países tem alinhado seus posicionamentos em questões internacionais, tais como a questão nuclear da Coreia do Norte, a guerra na Síria, a crise na Venezuela e a política nuclear do Irã. Deverá fazer parte de suas declarações, ao longo dos próximos dias, uma defesa dos atuais tratados de controle de armamentos e não proliferação, como um recado ao presidente Trump que se retirou do acordo sobre o programa nuclear do Irã e também do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) que tinha com a Rússia desde 1987.
A tentativa de Salvini de formar um novo bloco de extrema-direita no parlamento europeu sofreu um revés ontem (5). O Partido do Brexit do Reino Unido e o Partido Direito e Justiça da Polônia se recusaram a integrar o bloco puxado por Salvini (Liga), Le Pen (Reunião Nacional) e AfD da Alemanha. Os parlamentares europeus britânicos devem integrar o parlamento até a conclusão do Brexit. Nos últimos dias, o Fidesz, de Viktor Orban, também havia se distanciado de Salvini. Algumas alegações dos partidos dissidentes são a proximidade de Salvini e Le Pen com o governo russo e o medo, por parte de Orban, por exemplo, de tensionar ainda mais sua relação com líderes europeus e gerar sanções econômicas ao país. Salvini também tem tido problemas em casa, na Itália. Nos últimos dias, o primeiro ministro Giuseppe Conte ameaçou deixar o cargo e alertou Salvini para que “deixe de causar problemas”. O governo italiano é formado por uma composição entre a Liga de Salvini e o 5Estrelas de Di Maio e os dois andam às turras nos últimos dias. Os pontos de tensão são as politicas anti-imigração e a negociação do orçamento com a União Europeia.
De alguma forma o Brasil se beneficiou da tensão comercial entre EUA e México nos últimos dias. Tradicional consumidor do milho americano, o México comprou 2,5 milhões de toneladas de milho brasileiro. Trump tem ameaçado um tarifaço sobre as importações mexicanas caso o país não detenha o fluxo migratório que atravessa seu território rumo aos EUA.
*Ana Prestes é socióloga, membro da direção nacional do PCdoB, especialista em Relações Internacionais. Portal Vermelho Dia: 06/06/2019
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