A crise atual recolocou em pauta o velho receituário liberal de reduzir o papel da Estado na economia, como se a contração do setor produtivo não decorresse de um corte brutal nas despesas públicas. Essa concepção se baseia no mito de que “a economia é regida por leis naturais e a política, por ser arbitrária, prejudica o funcionamento do sistema econômico”, como observa o economista Pedro Rossi em seu livro Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil.
Por Mauricio Puls
Arquivo/Senado
Desse ponto de vista, o Estado deveria se abster de qualquer tipo de intervenção no setor produtivo. Essa era, por exemplo, a ideologia que norteava a atuação dos governantes na República Velha (1889-1930). Na prática, porém, todos esses governos se revelaram bastante intervencionistas. Em 1890, Deodoro da Fonseca fundiu quatro companhias de navegação no Lloyd Brasileiro, que foi estatizado em 1913. O atual Banco do Brasil surgiu em 1893 da estatização de duas instituições. As ferrovias já recebiam subsídios desde a era Imperial, mas mesmo assim muitas faliram. Para não interromper o transporte de mercadorias, metade da malha foi estatizada até 1929. E os mesmos liberais que criticavam a intervenção estatal defendiam a caríssima política de valorização do café, adotada a partir de 1906.