O capitalismo não organiza a sociedade a partir de uma estrutura racional de funcionamento. Uma das bases de sustentação é produzir, por meio da indústria cultural, o desejo de adquirir e acumular bens materiais e enriquecer. O problema, observa o escritor paquistanês Tariq Ali, é que as pessoas são convencidas a enriquecer, mas só uma escassa minoria consegue.
Por Renata Silver, na Rede Brasil Atual
Jornalistas Livres
Tenda Darcy Ribeiro reuniu a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Tariq Ali e Roberto Amaral
O sistema baseado no aumento infinito dos preços – em que como diz Marx, o valor de uso é sempre superado pelo valor de troca – mas há algumas décadas cresce o volume de bens descartáveis mais rapidamente para que as pessoas sejam convencidas a substituí-los. “É como se não pudessem viver sem os novos aparatos tecnológicos”, observa.
Para ele, o mercado desmoronará quando o mundo encontrar uma forma coletiva de lidar com essa equação insustentável. “Mas eles se asseguram de que isto não aconteça, e, aos poucos, absorvemos isto. O sistema é muito eficiente e inteligente em dizer que o que estão nos oferecendo nunca existiu antes”, disse Ali.
O escritor mencionou como até no mercado de artes existe a lógica de atribuição de valor. “O quadro renascentista A Bela Princesa não tem assinatura e é avaliado entre US$ 15 mil a R$ 20 mil. Se especialistas dissessem que essa obra foi pintada por Leonardo Da Vinci, o valor passaria a R$ 150 milhões. Se um grande negociador de arte oferecesse dinheiro aos especialistas para dizer que o quadro foi mesmo pintado por Da Vinci, será que não diriam que foi?”, ironizou. “Se oferecessem aos membros do Congresso brasileiro, eles com certeza aceitariam. E de muitos outros parlamentos do mundo também.”
O paquistanês destacou que também nos negócios ilegais prevalece esta lógica. “Uma das mais clássicas formas de circulação de capital é o trafico de drogas. Por isso nenhum governo o derruba, porque cria um fluxo de dinheiro, mesmo que ilegal. Este dinheiro é usado para construir prédios, comprar largas extensões de terra, fazer os preços aumentarem. Por isso, há tanta pressão para legalizar. Assim que se legaliza, como na Holanda – e cada vez mais em estados americanos –, o preço diminui e o crime, também”, ressaltou.
Enfrentamento
O escritor acredita que os partidos que tentam fazer reformas estruturais sempre sofrem ataques, como aconteceu na Venezuela, Bolívia e Equador. No caso do Brasil, a diferença é que as reformas estruturais não foram realizadas. “O Bolsa Família não fez as reformas. Claro que foi importante, porque as pessoas a quem se deu dinheiro não tinham nada, mas não houve mudanças no sistema”, destacou. Para Ali, a falha do PT em não tentar reformar o sistema, mas tentar funcionar dentro dele, levou à situação em que a direita retoma a ofensiva. “Não se pode derrotar o inimigo se você luta no mesmo campo de batalha”, afirmou.
Tariq Ali apela, porém, aos ativistas para que não devem desanimem. “Nunca aceitem quando disserem que não há alternativa, que são tempos difíceis. Eles são difíceis para as pessoas que defendemos e representamos, a favor de quem discutimos. Qual a dificuldade para o 1%, para um milionário, um bilionário?”, questionou. “Temos de entender, analisar o sistema e como mudá-lo e também aceitar que, apesar das dificuldades, temos que lutar por uma alternativa.”
É nas lutas por mudanças e na busca de caminhos para contornar os obstáculos historicamente impostos pelos donos do pode que se projetam as alternativas transformadoras. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) lembrou que a primeira utopia que imaginou quando iniciou sua militância foi a ausência de Estado, que expressa o antagonismo de classes. “A luta de classes não acabou, apesar de todas as tentativas de dizer que sim e de defender a conciliação de classes. Não concordo”, destacou a deputada.
“Enquanto se trilha o caminho para o socialismo, é preciso construir coletivamente um Estado, discutindo para que e para quem. A utopia, como não-lugar, como horizonte que se quer alcançar, é necessária para que continuemos lutando pelo mundo que queremos”, disse. “Mas é importante não adotar modelos que funcionaram em outros países, já que cada nação tem suas especificidades e precisa encontrar sua própria forma de se organizar, sem fórmulas prontas.”
Jandira destacou que o capital, o Estado e a sociedade civil sempre atuaram separadamente, mas que, na Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição de 1988, criou-se a possibilidade de a sociedade atuar junto a governos, através de órgãos como os conselhos setoriais, por exemplo nas áreas de educação e saúde. As forças políticas mais identificadas com as causas populares aproveitaram esses instrumentos para incluir essa demandas nas políticas de Estado.
A deputada respondeu à observação feita por Tariq Ali sobre a atuação do PT, destacando que os governos petistas nunca se pretenderam revolucionários. Mas que, ainda assim, promoveram avanços importantes, mesmo sem realizar mudanças estruturais, tanto internamente quanto em sua política internacional de fortalecer relações comerciais com América Latina, África e Ásia.
Quando o governo é de conciliação e busca evitar as rupturas, o desafio disputar o papel estratégico do Estado. Para o cientista político Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, o Estado é um instrumento da luta de classes controlado pela classe dominante. Mas a esquerda tem, por meio de mecanismo democráticos de ação, como exigir sua atuação na defesa dos interesses do povo. “O Estado tem o papel de administrar a exploração, para não deixar que destruam a ‘galinha dos ovos de ouro’, que é o proletariado.”
Para ele, o mercado desmoronará quando o mundo encontrar uma forma coletiva de lidar com essa equação insustentável. “Mas eles se asseguram de que isto não aconteça, e, aos poucos, absorvemos isto. O sistema é muito eficiente e inteligente em dizer que o que estão nos oferecendo nunca existiu antes”, disse Ali.
O escritor mencionou como até no mercado de artes existe a lógica de atribuição de valor. “O quadro renascentista A Bela Princesa não tem assinatura e é avaliado entre US$ 15 mil a R$ 20 mil. Se especialistas dissessem que essa obra foi pintada por Leonardo Da Vinci, o valor passaria a R$ 150 milhões. Se um grande negociador de arte oferecesse dinheiro aos especialistas para dizer que o quadro foi mesmo pintado por Da Vinci, será que não diriam que foi?”, ironizou. “Se oferecessem aos membros do Congresso brasileiro, eles com certeza aceitariam. E de muitos outros parlamentos do mundo também.”
O paquistanês destacou que também nos negócios ilegais prevalece esta lógica. “Uma das mais clássicas formas de circulação de capital é o trafico de drogas. Por isso nenhum governo o derruba, porque cria um fluxo de dinheiro, mesmo que ilegal. Este dinheiro é usado para construir prédios, comprar largas extensões de terra, fazer os preços aumentarem. Por isso, há tanta pressão para legalizar. Assim que se legaliza, como na Holanda – e cada vez mais em estados americanos –, o preço diminui e o crime, também”, ressaltou.
Enfrentamento
O escritor acredita que os partidos que tentam fazer reformas estruturais sempre sofrem ataques, como aconteceu na Venezuela, Bolívia e Equador. No caso do Brasil, a diferença é que as reformas estruturais não foram realizadas. “O Bolsa Família não fez as reformas. Claro que foi importante, porque as pessoas a quem se deu dinheiro não tinham nada, mas não houve mudanças no sistema”, destacou. Para Ali, a falha do PT em não tentar reformar o sistema, mas tentar funcionar dentro dele, levou à situação em que a direita retoma a ofensiva. “Não se pode derrotar o inimigo se você luta no mesmo campo de batalha”, afirmou.
Tariq Ali apela, porém, aos ativistas para que não devem desanimem. “Nunca aceitem quando disserem que não há alternativa, que são tempos difíceis. Eles são difíceis para as pessoas que defendemos e representamos, a favor de quem discutimos. Qual a dificuldade para o 1%, para um milionário, um bilionário?”, questionou. “Temos de entender, analisar o sistema e como mudá-lo e também aceitar que, apesar das dificuldades, temos que lutar por uma alternativa.”
É nas lutas por mudanças e na busca de caminhos para contornar os obstáculos historicamente impostos pelos donos do pode que se projetam as alternativas transformadoras. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) lembrou que a primeira utopia que imaginou quando iniciou sua militância foi a ausência de Estado, que expressa o antagonismo de classes. “A luta de classes não acabou, apesar de todas as tentativas de dizer que sim e de defender a conciliação de classes. Não concordo”, destacou a deputada.
“Enquanto se trilha o caminho para o socialismo, é preciso construir coletivamente um Estado, discutindo para que e para quem. A utopia, como não-lugar, como horizonte que se quer alcançar, é necessária para que continuemos lutando pelo mundo que queremos”, disse. “Mas é importante não adotar modelos que funcionaram em outros países, já que cada nação tem suas especificidades e precisa encontrar sua própria forma de se organizar, sem fórmulas prontas.”
Jandira destacou que o capital, o Estado e a sociedade civil sempre atuaram separadamente, mas que, na Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição de 1988, criou-se a possibilidade de a sociedade atuar junto a governos, através de órgãos como os conselhos setoriais, por exemplo nas áreas de educação e saúde. As forças políticas mais identificadas com as causas populares aproveitaram esses instrumentos para incluir essa demandas nas políticas de Estado.
A deputada respondeu à observação feita por Tariq Ali sobre a atuação do PT, destacando que os governos petistas nunca se pretenderam revolucionários. Mas que, ainda assim, promoveram avanços importantes, mesmo sem realizar mudanças estruturais, tanto internamente quanto em sua política internacional de fortalecer relações comerciais com América Latina, África e Ásia.
Quando o governo é de conciliação e busca evitar as rupturas, o desafio disputar o papel estratégico do Estado. Para o cientista político Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, o Estado é um instrumento da luta de classes controlado pela classe dominante. Mas a esquerda tem, por meio de mecanismo democráticos de ação, como exigir sua atuação na defesa dos interesses do povo. “O Estado tem o papel de administrar a exploração, para não deixar que destruam a ‘galinha dos ovos de ouro’, que é o proletariado.”
Amaral considera que o erro principal dos governos petistas, que levou à situação que temos hoje, foi não politizar os trabalhadores. “Criamos o Bolsa Família, democratizamos o acesso à universidade, mas não incluímos conteúdo e significado político”, criticou. Ele destacou ainda que o PT, Lula e Dilma devem fazer autocrítica política e dar satisfação ao povo e à esquerda.
O golpe em curso, segundo ele, é ainda mais grave e mais bem planejado do que o de 1964. “Não há improviso, tudo já estava planejado. O objetivo é impedir o avanço das massas e de um projeto nacional de distribuição de renda e construção de sociedade equilibrada. Poderá ser uma fase tenebrosa e mais duradoura do que a ditadura. Mas vamos nos organizar em nosso partidos e enfrentar o novo 64.”
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