quinta-feira, 2 de junho de 2016

Valton de Miranda Leitão: Brasil torturado e golpeado



Justiça?Justiça?
Tal dispositivo modelar continuou inspirando até os nossos dias, instalações similares espalhadas pelo mundo, turbinadas por governos ditatoriais ou Estados de Exceção, travestidos de democracia.
É sabido que até hoje, a base norte-americana de Guantánamo é um destes espaços onde o sistema constitucional da nação que se proclama a maior defensora da liberdade e dos direitos do homem, pratica essa atividade abjeta.

O Estado de Exceção está embutido na própria Constituição, pois sua interpretação por juristas incapazes de apreender a relação dialética entre legalidade e legitimidade, forma e conteúdo, majoritariamente conservadores, impregnados de culturalismo racial, torna o sistema jurídico-político brasileiro, a espinha dorsal do abuso de poder.

O pensamento jurídico de Weimar deu o necessário suporte ao nazismo que convalidou a tortura. O judiciário brasileiro, na atual conjuntura política, resultante de um golpe de Estado praticado por forças combinadas do congresso, da mídia, do judiciário e da oligarquia empresarial, abre como em 1964, o perigoso caminho que leva ao fascismo.

A partida foi dada nesse sentido, por Jair Bolsonaro, quando fez a apologia globalmente transmitida do modelo de torturador, Carlos Alberto Brilhante Ustra. A tortura como já mostrei em trabalho científico apresentado no 25º Congresso Brasileiro de Psicanálise, em São Paulo, não visa prioritariamente obter informação, mas o silêncio do torturado e, como função vicariante, silenciar aqueles que pensam da mesma forma.

O torturador como nos julgamentos políticos de Moscou, sob Stalin e nos campos de concentração de Auschwitz sob Hitler, usa uma combinação de técnicas de desmoralização e extrema dor física para alcançar o objetivo principal: o desmonte da mente que alguns chamam alma ou espírito.
O técnico torturador precisa ter alto nível de agressividade sádica, visando quebrar a resistência do individuo, nu e indefeso, que ao final submete-se passivamente e cai sob o peso do próprio masoquismo. O método e a técnica deste processo foram brilhantemente mostrados pelo psiquiatra e psicanalista francês Jean Claude Rolland, que acompanhou no exílio o já delirante e destroçado mentalmente, Frei Tito de Alencar.

O Brasil encontra-se na obscura via do que Schmitt chamou ditadura comissária, por delegação judiciária e cujo combustível é o mercado especulativo nacional e aliança com investidores norte-americanos. Os direitos trabalhistas e a cultura devem ser afastados para não obstaculizar o processo baseado na falsificação, na mentira e na sujeira!

A urdidura golpista foi transparentemente mostrada em toda sua extensão, nas gravações feitas por Sérgio Machado, caracterizando o governo interino, Temer, como pura usurpação!


*Valton de Miranda Leitão é médico e psicanalista.

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