Na última quinta-feira (23) foi realizado no Reino Unido um plebiscito para que os britânicos decidissem entre permanecer (remain) ou deixar (leave) a União Europeia.
Por Thiago Cassis*
O resultado do Brexit(trocadilho em inglês com as palavras british e exit) demonstrou que 51,9% dos eleitores preferem que a ilha não faça mais parte do bloco europeu, enquanto 48,1% prefeririam que o Reino Unido permanecesse na União Europeia. Porém os motivos que levaram os eleitores a decidirem seus votos são diversos, e isso só reforça a complexidade e as “rachaduras” que podem ser notadas na sociedade britânica através dos resultados.
Logo após o referendo o primeiro-ministro do Reino Unido, o conservador David Cameron, que apoiou a permanência dos britânicos na UE, renunciou ao cargo, aumentando ainda mais as incertezas sobre o destino dos britânicos.
Saída pela direita?
Um tema específico acabou polarizando as campanhas pelo leave e pelo remain: a questão da imigração. É inegável o fato, e ficou evidente durante as campanhas pré-referendo, de que no senso comum britânico um voto para o leave era um voto a favor do estabelecimento de controles rígidos nas fronteiras para conter a “ameaça” que representa os imigrantes. O remain, ou o voto de permanência, se transformou em grande parte em uma forma de expressar a rejeição às ideias xenófobas que a direita conseguiu inserir inclusive em grande parte da classe trabalhadora britânica.
A esquerda poderia ter disputado de forma mais contundente o voto pela saída da UE, mas não o fez. Valores como soberania e democracia, tão em voga no ano passado quando a Troika passou por cima da Grécia e da vontade dos seus eleitores, acabaram não sendo trabalhados por quem poderia apoiar a saída da União Europeia, porém pela esquerda. A direita aproveitou o vácuo e hoje comemora o Brexit, como sendo uma vitória de suas pautas preconceituosas e conservadoras.
É importante disputar a narrativa e trazer à tona pautas históricas da esquerda como a defesa dos direitos dos trabalhadores que a UE, e sua imposta austeridade a serviço do grande capital, tem destruído no velho continente. Lutar contra a xenofobia e retomar para si valores que a própria esquerda construiu será uma tarefa crucial no período que se inicia.
Mais jovens x Mais velhos
Os resultados do referendo da última semana evidenciaram também a diferença entre a opinião dos mais jovens e dos mais velhos. Entre as pessoas na faixa de 18 e 24 anos, 64% votaram na permanência do Reino Unido na UE. Entre os que tem 50 e 64 anos idade apenas 35% votaram no “remain”. Já para os que estão acima dos 65 anos, a vontade de deixar a UE foi a opção de 58% das pessoas.
Entre as razões que moveram os mais jovens, derrotados no referendo, a querer permanecer no bloco, a questão de um mercado de trabalho mais amplo que a UE representa contou muito, assim como uma maior rejeição aos ideais xenófobos da direita. O que é, no mínimo, animador.
Porém, é justamente a juventude que arcará por mais tempo com as consequências de uma decisão que não foi exatamente a “sua” decisão, e sim de gerações mais velhas, justamente onde a campanha que fomentou o “medo” da imigração teve maior aderência.
Reino (des)Unido
Um terceiro ponto que vale ressaltarmos para traçar o quadro pós-referendo é a diferença de opinião entre os diferentes países que compõe o Reino Unido e essa questão pode ter implicações enormes em um futuro próximo.
O único país britânico que acompanhou a Inglaterra nos votos pelo “leave” foi o País de Gales. Se para 53,4% dos ingleses prevaleceu o desejo de deixar a UE, para os galeses esse número foi de 52,5%.
Porém na Escócia, 62% votaram “remain”, ou seja, desejam permanecer na União Europeia. Na Irlanda do Norte, 55,8% demonstraram preferência por continuar na UE. Sobretudo na Escócia, esses dados podem representar o esfacelamento do Reino Unido com conhecemos hoje, e o que explica o fato é que recentemente os escoceses foram às urnas decidir entre se tornar um país independente ou permanecer atrelado aos britânicos. A campanha pela permanência da Escócia no Reino Unido obteve a vitória justamente por que se mantendo junto aos demais países britânicos as portas da União Europeia estariam abertas aos trabalhadores escoceses, uma vez que o Reino Unido não faça mais parte do bloco, a opinião do povo da Escócia tende a mudar radicalmente.
Um novo plebiscito deve ser marcado em breve, para nova consulta popular junto aos escoceses. E o Reino Unido nunca pareceu tão desunido.
*Thiago Cassis é jornalista
Logo após o referendo o primeiro-ministro do Reino Unido, o conservador David Cameron, que apoiou a permanência dos britânicos na UE, renunciou ao cargo, aumentando ainda mais as incertezas sobre o destino dos britânicos.
Saída pela direita?
Um tema específico acabou polarizando as campanhas pelo leave e pelo remain: a questão da imigração. É inegável o fato, e ficou evidente durante as campanhas pré-referendo, de que no senso comum britânico um voto para o leave era um voto a favor do estabelecimento de controles rígidos nas fronteiras para conter a “ameaça” que representa os imigrantes. O remain, ou o voto de permanência, se transformou em grande parte em uma forma de expressar a rejeição às ideias xenófobas que a direita conseguiu inserir inclusive em grande parte da classe trabalhadora britânica.
A esquerda poderia ter disputado de forma mais contundente o voto pela saída da UE, mas não o fez. Valores como soberania e democracia, tão em voga no ano passado quando a Troika passou por cima da Grécia e da vontade dos seus eleitores, acabaram não sendo trabalhados por quem poderia apoiar a saída da União Europeia, porém pela esquerda. A direita aproveitou o vácuo e hoje comemora o Brexit, como sendo uma vitória de suas pautas preconceituosas e conservadoras.
É importante disputar a narrativa e trazer à tona pautas históricas da esquerda como a defesa dos direitos dos trabalhadores que a UE, e sua imposta austeridade a serviço do grande capital, tem destruído no velho continente. Lutar contra a xenofobia e retomar para si valores que a própria esquerda construiu será uma tarefa crucial no período que se inicia.
Mais jovens x Mais velhos
Os resultados do referendo da última semana evidenciaram também a diferença entre a opinião dos mais jovens e dos mais velhos. Entre as pessoas na faixa de 18 e 24 anos, 64% votaram na permanência do Reino Unido na UE. Entre os que tem 50 e 64 anos idade apenas 35% votaram no “remain”. Já para os que estão acima dos 65 anos, a vontade de deixar a UE foi a opção de 58% das pessoas.
Entre as razões que moveram os mais jovens, derrotados no referendo, a querer permanecer no bloco, a questão de um mercado de trabalho mais amplo que a UE representa contou muito, assim como uma maior rejeição aos ideais xenófobos da direita. O que é, no mínimo, animador.
Porém, é justamente a juventude que arcará por mais tempo com as consequências de uma decisão que não foi exatamente a “sua” decisão, e sim de gerações mais velhas, justamente onde a campanha que fomentou o “medo” da imigração teve maior aderência.
Reino (des)Unido
Um terceiro ponto que vale ressaltarmos para traçar o quadro pós-referendo é a diferença de opinião entre os diferentes países que compõe o Reino Unido e essa questão pode ter implicações enormes em um futuro próximo.
O único país britânico que acompanhou a Inglaterra nos votos pelo “leave” foi o País de Gales. Se para 53,4% dos ingleses prevaleceu o desejo de deixar a UE, para os galeses esse número foi de 52,5%.
Porém na Escócia, 62% votaram “remain”, ou seja, desejam permanecer na União Europeia. Na Irlanda do Norte, 55,8% demonstraram preferência por continuar na UE. Sobretudo na Escócia, esses dados podem representar o esfacelamento do Reino Unido com conhecemos hoje, e o que explica o fato é que recentemente os escoceses foram às urnas decidir entre se tornar um país independente ou permanecer atrelado aos britânicos. A campanha pela permanência da Escócia no Reino Unido obteve a vitória justamente por que se mantendo junto aos demais países britânicos as portas da União Europeia estariam abertas aos trabalhadores escoceses, uma vez que o Reino Unido não faça mais parte do bloco, a opinião do povo da Escócia tende a mudar radicalmente.
Um novo plebiscito deve ser marcado em breve, para nova consulta popular junto aos escoceses. E o Reino Unido nunca pareceu tão desunido.
*Thiago Cassis é jornalista
As opiniões aqui expressas não representam a opinião do portal Vermelho
Fonte: portal da UJS
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