domingo, 20 de março de 2011

MARINA SILVA: “Dilma sempre questionou o alto custo da energia nuclear”

Marina
Marina Silva - Foto - Evelson de freitas. A\U 
Em suas conversas com a presidenta Dilma Rousseff sobre energia nuclear, a ex-senadora Maria Silva (PV) lembra que o argumento da então ministra de Minas e Energia para combater o investimento do Brasil em energia nuclear era o desperdício de recursos comparado a outras fontes alternativas. “Dilma sempre questionou o alto custo da energia nuclear”, afirma Marina, nesta entrevista, concedida na sede do Instituto Democracia e Sustentabilidade, ao Poder Online – a primeira depois do desastre do Japão que, para ela, deixa uma grande lição para a Humanidade e coloca em xeque o programa brasileiro. “É como se, no meio de todos os soldados, só nós é que estamos marchando certo”, questiona. Leia os principais trechos e assista ao vídeo.
Poder Online – O que o desastre no Japão deixa de lição para o Brasil na questão da energia nuclear?
Marina Silva – O que esse acidente terrível deixa para o Brasil e para a Humanidade é a lição de nos reconectarmos com o princípio da realidade. A nossa tecnologia e o nosso conhecimento são muito importantes e necessários para vários avanços na melhoria da qualidade de vida, mas, por outro lado, ela gera também um efeito de nos sentirmos quase que onipotentes, de decretarmos que as coisas estão seguras e de que estamos no controle. E aí vem um acidente com essa magnitude para nos mostrar que não é seguro, que não estamos no controle e que temos que ter um pouco mais de humildade frente a fenômenos que nós não conhecemos e que não controlamos. A grande lição é de nos reconectarmos com a nossa impotência para podermos ficar no lugar da potência, e não da onipotência.
Poder Online – Como muitos países, o Brasil também deveria rever seu programa?
Marina Silva - É como se, no meio de todos os soldados, só nós é que estamos marchando certo. É o que eu sempre digo: sábios são os que aprendem com os erros dos outros. Agora, estúpidos são os que não aprendem nem com os seus próprios erros. E neste momento não há erros dos outros. É o erro da humanidade. E a reação dos outros países é se colocando no lugar do Japão. Não é olhando para Japão, é olhando para si mesmo. E o único que não consegue olhar para si mesmo neste momento é o Brasil. A humanidade está em xeque. Fomos colocados em xeque por ousarmos achar que estamos no controle. Aquele navio no meio da pista, aquele caldo de carros, de lanchas, de navios, depois de uma onda gigante, que transformou tudo aquilo num pão de ló, que parecia uma sopa, que parecia lego. Aquilo é para nos conectar com a nossa impotência. Estamos vivendo um período nonsense. Temos que reconectar de novo.
Poder Online – Houve uma certa arrogância em relação à questão nuclear?
Marina Silva – Da Humanidade. Eu não digo que foi só por parte dos japoneses porque o paradoxo é porque o Japão é a segunda economia mais desenvolvida do mundo, todos tomavam o Japão e as usinas nucleares do Japão como um paradigma. Se no Japão acontece algo dessa magnitude, imagine em outras regiões do mundo em que não se tem as mesmas condições, até mesmo de lidar com eventos naturais de proporções da magnitude como aconteceu no Japão. Há uma coisa que temos que reconhecer, para não sermos injustos: em termos de lidar com terremotos, eles têm uma cultura secular, milenar de lidar com isso e com certeza são um exemplo para a Humanidade. Por outro lado, existem acontecimentos que derivam de eventos semelhantes a esses que fazem com que a junção desses eventos naturais de magnitude insondável com o nosso estilo inadequado de viver causa danos muito grandes. É um grande ensinamento.
Poder Online – Por que a senhora defende que o Brasil não precisa de energia nuclear?
Marina Silva - O Brasil não precisa da energia nuclear. Não precisa, não precisa, não precisa. O Brasil tem sol, o Brasil tem vento, o Brasil tem biomassa, o Brasil tem água, o Brasil tem, inclusive, petróleo e gás. Mas, para produzirmos energia, as pessoas estão fazendo um investimento caro para uma energia que não é segura. No meu entendimento, a grande lição é rever o programa nuclear no Brasil. O mundo todo está fazendo isso. Por que não o Brasil? O que nos faz ser diferentes em relação aos outros países nessa discussão é que nós temos alternativas. E uma boa parte não tem as alternativas que nós temos. Em relação a termos a maior área de insolação do planeta, termos um potencial de eletricidade muito grande, o próprio ex-ministro Roberto Rodrigues disse que nós teríamos quatro usinas de Belo Monte só da palha e do bagaço da cana-de-açúcar. Quem tem tudo isso fora o Brasil? Não vejo necessidade de investirmos recursos que não temos para uma energia que é cara e perigosa.
Poder Online – Por que a senhora acha que existem pessoas que defendem tanto a energia nuclear aqui no Brasil?
Marina Silva – É difícil a gente fazer qualquer tipo de especulação. Existem aqueles que querem dominar essa tecnologia. Do ponto de vista da pesquisa científica, não tem problema. Podem continuar pesquisando. Com certeza o Brasil já tem o domínio dessa tecnologia. Mas em relação ao suprimento de energia, nós temos outras fontes mais seguras, mais abundantes e até mais baratas. É uma pergunta bem interessante a que você faz. Por que, em que pesa circunstâncias, se insiste tanto na geração de energia nuclear quando a gente poderia investir em outras fontes?

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