quinta-feira, 12 de abril de 2018

EUA e Rússia evocam a Guerra Fria: "paz impossível, guerra improvável"


  

O Portal Vermelho entrevistou Reginaldo Nasser, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador do INEU (Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os EUA), sobre a tensão diplomática que está ocorrendo entre as potências presentes na Síria. Ele fala que as chances de uma guerra são "praticamente zero", e sobre o Irã, que agora é uma potência difícil de ser invadida

Por Alessandra Monterastelli *

Nada novo sob o sol: para o professor Reginaldo Nasser, as ameaças de Trump de bombardear a Síria podem até se concretizar, mas não seriam "nada que eles já não estejam fazendo nesse momento". O que está acontecendo é um “jogo de encenação”. O confronto não é em relação aos interessas das grandes potências, como foi nas guerras mundiais, portanto a probabilidade de guerra é praticamente zero, apesar de "não termos uma bola de cristal". "Já estão bombardeando a síria a muito tempo", diz. 

Para o professor, as diferenças entre os Estados Unidos e a Rússia são notórias, mas não devemos nos deixar levar: eles têm diversos interesses em comum, como por exemplo os acordos comerciais. Nasser relembra a frase imortalizada durante a Guerra Fria, proferida por Raymond Aron e muito válida para a ocasião: “Paz impossível, guerra improvável”. Essa é a relação entre as potências envolvidas nos confrontos na Síria.

Nasser lembra que houve momentos muito mais tensos em termos geopolíticos entre Estados Unidos e Rússia (por exemplo o episódio da Bahia dos Porcos, que terminou com a Rússia retirando seus mísseis de Cuba, ou a invasão do Afeganistão pela União Soviética, que os EUA responderam dando armas aos Talibãs, causando drásticas consequências que ecoam até hoje no país do Oriente Médio), mas que mesmo assim ambos os países nunca entraram em um confronto direto; dessa vez não seria diferente. 

Segundo o professor, não teria chances dos Estados Unidos atacarem a Rússia com mísseis, e muito menos o Irã, a quem o presidente Donald Trump acusa de estar envolvido com terrorismo. "As acusações dos Estados Unidos contra o Irã são completamente infundadas. O país não está envolvido com terrorismo, pelo contrário, ele foi alvo de terroristas. Não existem fatos objetivos contra o Irã", lembra Nasser. 

"As chances dos Estados Unidos entrarem em um confronto em solo iraniano é baixo, uma vez que o Irã não é o Iraque desmantelado da época da Guerra no Iraque, e sim uma potência", diz o professor. Ele explica a situação, isto é, o porque dos EUA ameaçarem tanto Teerã: o Irã incomoda, e muito, Israel, o aliado de uma vida toda dos Estados Unidos e que antes era a única potência na região.

"O Irã é pragmático e não causa danos diretos aos EUA, mas é uma pedra no sapato de Israel por ser outra potência na região; além disso, o Irã apoia o Hamas, o Hezbollah e confronta a Arábia Saudita, país árabe que sempre foi parceiro de Israel. O lobby nos EUA é poderoso, e Israel pressiona os norte-americanos para que enfrentem o Irã" explica Nasser, sem deixar de lembrar a crise interna vivida pelo país israelita. "Isso porque Israel já passa por uma crise moral, um porque Benjamin Netanyahu está sendo acusado de corrupção, e dois porque a violência dos israelenses contra os palestinos está chocando o mundo, incluindo países que antes não se envolviam no conflito", conta. 

O que pode acontecer, conclui Nasser, é a continuidade e o agravamento dos confrontos violentos, mas sempre em território sírio que, segundo o professor, não seria uma mudança, uma vez que estes embates já estão acontecendo. Os EUA já estão financiando terroristas e já estão bombardeando a síria; o que pode acontecer é o aumento desses ataques sustentados por uma nova justificativa. 


Do Portal Vermelho 
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