Fevereiro – 100 anos: Como o movimento russo
influenciou o Brasil
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Sputnik/ RIA Novosti
18:00
25.02.2017URL curta
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A
Revolução de 27 de Fevereiro foi a primeira fase da Revolução Russa de 1917. Os
movimentos daquele ano transformaram a Rússia e o mundo, e desde então têm
repercutido intensamente também no Brasil. O especialista Diego Pautasso
comenta.
© SPUTNIK/ ARQUIVO DA SPUTNIK
O
ano de 1917 foi atípico na História da Rússia. Então, o país que vivia sob a
monarquia do Czar Nicolau II terminou radicalmente transformado, gerido por uma
república socialista implantada por Vladimir Lenin e seus seguidores, entre os
quais, Josef Stalin.
No plano externo, a Rússia se via às
voltas com a participação na Primeira Guerra Mundial. E, no plano interno, o
país mudou de regime e de nome: o antigo Império Russo deu lugar à URSS, União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou, mais simplesmente, União Soviética.
A Revolução Comunista de 1917 foi
realizada em duas etapas: a primeira em fevereiro daquele ano (ou março,
conforme o calendário gregoriano ou juliano a ser considerado), e a segunda, em
outubro (ou novembro, também de acordo com o calendário escolhido).
Na primeira fase, a do início do ano,
a pretensão era a de substituir o governo autocrático de Nicolau Segundo por um
regime mais liberal, comandado pelo Príncipe Georguy Livov e pelo Ministro da
Defesa Aleksander Kerensky. O objetivo foi alcançado porém Kerensky ficou pouco
tempo no poder, sendo afastado (na segunda fase da Revolução) por Lenin e seus
seguidores.
AP PHOTO / ALEXANDER ZEMLIANICHENKO
Para
o professor de Relações Internacionais Diego Pautasso, da Universidade do Vale
dos Sinos e do Colégio Militar de Porto Alegre, RS, o movimento de 1917
acentuou as inúmeras contradições que havia na Rússia. Especialista em
História Russa, Diego Pautasso explica à Sputnik Brasil o que representou para
a Rússia a primeira fase da Revolução Comunista:
"Esse primeiro movimento
refletiu o acúmulo de contradições na Rússia. Do ponto de vista estrutural, o
rápido desenvolvimento do capitalismo nas cidades tencionava acabar com
as estruturas agrárias (feudais) e políticas (czaristas) arcaicas. Do
ponto de vista conjuntural, a Primeira Guerra aprofundou os conflitos em função
do desabastecimento, de reveses militares e divergências políticas. Trata-se de
um período de transição em que o velho já morreu mas o novo ainda não tem
forças para se estabelecer."
Para Diego Pautasso, o que se deu
entre o início e o final do ano de 1917 na Rússia foi um período de transição
até que o movimento liderado por Lenin se
tornasse vitorioso:
"Esse período representa uma
transição após o fim do czarismo. Um intervalo de conflito entre o Governo
Provisório da Duma e o Soviete de Petrogrado para forjar outro ordenamento
político (hegemônico) em meio à desorganização econômica e institucional. Há
uma dualidade de poderes no país e uma crise política e paralisia
institucional. Enquanto a Duma sob a liderança de Kerensky realiza reformas e
recrudesce a repressão, os sovietes são atravessados por disputas políticas
intestinas, mas crescentemente sob liderança bolchevique. O caos e a
radicalização tornaram o Governo Provisório insustentável."
Mas o que, efetivamente, representou
para a Rússia a queda do Império e sua subsequente substituição por uma
República de linha esquerdista? O especialista Diego Pautasso responde:
© SPUTNIK/
"Imediatamente,
representou a superação das estruturas feudais com a reforma agrária, a saída
da guerra mundial, a estatização das fábricas, a autodeterminação dos povos não
russos do antigo Império, entre outras medidas. Mas a questão central foi o
conjunto de ações que norteou a primeira experiência socialista da humanidade e
converteu a URSS numa superpotência – não obstante as contradições que
levaram ao seu colapso entre 1989 e 1991."
O Professor Diego Pautasso acrescenta
que "a experiência soviética teve repercussão no mundo todo. Impactou a
formação dos Partidos Comunistas em todos os países, influenciou todas
as lutas reivindicatórias e revolucionárias, moldou a Guerra Fria e a
formação da noção de cidadania a partir de um conjunto de direitos (educação,
saúde, moradia, trabalho, entre outros, como responsabilidade do poder
público)".
E no Brasil? "A formação do
Partido Comunista, as greves, a luta por direitos foram inspiradas nas
conquistas conseguidas na URSS", conclui Diego Pautasso. "Quanto a
outros movimentos, como o próprio regime militar, eles se deram como oposição a
esta experiência. Em suma, como destaca Domenico Losurdo [filósofo italiano de
formação marxista], o movimento comunista, referenciado na experiência
soviética, teve papel central na luta contra as três grandes
discriminações do século XX: a racial, a de gênero e a de classe, bem como na
construção dos Estados de bem-estar social."
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