Por Dedé Rodrigues
Eu participei da última Oficina oferecida pelo projeto pioneiro da
UFPE no Meu Quintal em Tabira no dia 21 de julho de 2017, em parceria com o Governo Sebastião Dias, na
Escola José Odano de Góes Pires, ministrada pelos universitários Raisa Almeida
e Rogério Oliveira com o tema Violência Escolar: Desconstrução do Bullying e do
Racismo. Os debates em torno desses dois fenômenos sociais me inspiraram a escrever essa matéria no
intuito de contribuir com a sensibilização dos atores envolvidos para a desconstrução
dessas duas violências ainda presentes na
escola e na sociedade brasileira. Leia mais abaixo e veja mais fotos dos participantes.
Uma questão importante foi levantada na oficina sobre as
consequências do bullying. Ou seja, quem
sofre com as agressões físicas ou verbais é só a vítima? Normalmente a gente
atribui a vítima o único sofrimento de uma agressão, mas se investigarmos a
história do agressor é possível a gente descobrir que ele também sofre ou tem
um histórico de violência familiar que o leva a agredir. Evidente que isso não
impede a escola ou as vítimas de usarem a legislação ou as leis de proteção
contra o agressor. Isso não redime o agressor ou impede a sua punição, embora
possa contar como atenuante da sua pena.
Outra questão não
menos relevante que a anterior é tentar responder a seguinte questão: com desconstruir
o bullying e o racismo na escola? A desconstrução deve começar com o nosso
policiamento, ou seja, precisamos fazer uma autoavaliação sobre a porcentagem
de preconceito e racismo que cada um de nós traz dentro si. Como assim? Somos
todos preconceituosos e racistas? Sim,
talvez essa seja a constatação mais difícil de detectarmos, pois poucas pessoas
admitem carregar dentro de si uma porcentagem histórica de racismo e de preconceito,
por menor que ela seja. Talvez por isso tenhamos
mais dificuldades em combatê-la, haja vista que só corrigimos um erro quando o
identificamos.
Nesse sentido cabe a gente questionar: até que ponto a escola
está cumprindo com a sua função social? Se
essa instituição quiser avançar na função social precisa tentar substituir, na
medida do possível, a punição pela
persuasão ou recuperação do educando agressor. É preciso ouvir também o
agressor, estudá-lo, conhecer a sua história familiar e estabelecer relação
entre a história familiar com a história política\econômica\ social do país. Quando
ampliamos a compreensão da parte sobre o todo, de forma dialética, passamos a
ter um novo olhar sobre o fenômeno da violência escolar que envolve os
indivíduos, que são parte de um modelo de sociedade.
Quando ampliamos a nossa visão histórica sobre o preconceito,
aliado ao bullying e ao racismo percebemos
que todos somos vítimas, especialmente os pobres, os negros, os índios e as
mulheres de um modo de produção colonial,
capitalista e predatório que desenvolveu a ideia de seres civilizados e não civilizados, o branco e o índio e, posteriormente, a teoria do Darwinismo Social para justificar que haveria seres superiores,
o branco europeu e os seres inferiores para serem escravizados, os
negros, alimentando posteriormente a ideia de uma raça superior com o regime nazista, que levou ao extermínio de milhões de judeus, comunistas, democratas, religiosos, pessoas com necessidades especiais, idosos etc. Com o processo de desenvolvimento desse modelo de sociedade
capitalista, irracional e concentrador de renda, multiplicou-se a miséria e a pobreza, mantendo-se o machismo, proveniente do
tratamento desigual sobre a mulher que vem desde a Idade Média, entre outras formas de preconceito.
Mesmo vivendo nesse modelo de sociedade capitalista não
podemos resumir o combate ao racismo e as outras formas de preconceito na
escola e na sociedade às nossas ações positivas, individuais, por mais
importantes que elas sejam. Cabe aqui um registro sobre a importância das
políticas afirmativas dos governos Lula e Dilma. O Estatuto da Igualdade
Racial, a Política de Cotas nas Universidades, o apoio aos quilombolas, a Lei
Maria da Penha, o ECA, a criação do Conselho Tutelar, o apoio a Polícia Federal
e ao Ministério Público, a democratização da instituição escolar, eleições para
gestores, Conselho Escolar e o apoio aos Grêmios Estudantis como importantes
parceiros no combate a toda forma de preconceito na escola e na sociedade, no geral, decorrentes desses avanços democráticos.
A
construção de uma sociedade justa e democrática no Brasil passa hoje pelo restabelecimento da democracia, com eleições diretas para presidente, a manutenção
das conquistas sociais e um novo projeto de desenvolvimento, com crescimento econômico, geração de emprego e distribuição de renda. O governo de Michel Temer, que tomou o poder mediante
um golpe, está destruindo, com as suas
reformas, tudo o que conquistamos no período anterior. Caso contrário, mesmo
que cada um de nós faça a sua parte, se
tornará muito mais difícil a desconstrução do Bullying e do racismo na escola e
na sociedade brasileira.
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