segunda-feira, 3 de julho de 2017

Datafolha aponta crescimento do apoio as bandeiras da esquerda



Conversa Afiada
  
A pesquisa chegou a esse retrato por meio de perguntas elaboradas a partir das bandeiras associadas à direita e à esquerda, em temas econômicos e comportamentais. Com base nas respostas, os eleitores são agrupados em uma das cinco posições da escala ideológica (esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita).

De acordo com o Datafolha, na comparação com o levantamento feito em setembro de 2014, ano da eleição da presidenta Dilma Rousseff, o brasileiro reivindica mais questões que envolvem a igualdade. Isso porque subiu de 58% para 77% a parcela que acredita que a pobreza está relacionada à falta de oportunidades iguais para todos. Já a que crê que a pobreza é fruto da preguiça para trabalhar caiu de 37% para 21%.

Para o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo William Nozaki, a atual conjuntura econômica deve ser levada em conta ao analisar esses números.

“Quando se chega a uma taxa de desemprego da ordem de quase 14 milhões, isso desperta nas pessoas a sensação correta de que o mercado por si só não vai dar conta de resolver o problema da crise”, destaca.

De acordo com o Datafolha, as respostas com viés mais progressista aumentaram, em comparação à pesquisa de 2014, mas ainda se mantêm em empate de forma geral. As opiniões intituladas por eles de viés de esquerda e centro-esquerda subiram de 35% para os atuais 41%. O centro manteve-se com 20%. Já as posições de direita e centro-direita representam 40% da população, sendo que na anterior eram 45%. 

A Folha diz que após o impeachment de Dilma Rousseff, a tese de que “a direita teria se beneficiado do declínio petista e do desgaste sofrido por algumas das principais lideranças do partido” fica em xeque. O que o jornal das família Frias não diz é que o golpe foi desmascarado e o falso discurso vendido pela direita de que tudo ia melhorar com a saída de Dilma caiu por terra.

O golpe

O consórcio da direita, encabeçado por Temer, PSDB e a grande mídia, deu um golpe sob a bandeira de combate à corrupção e prometendo tirar o país da crise. Ao tomar o poder, implantou uma agenda de retrocessos e ataques aos direitos sociais e de cortes nos investimento públicos, abrindo o caminho para o comando do mercado financeiro.

“Me parece que para além da discussão sobre um viés comportamental mais de direita ou de esquerda, o que os dados da pesquisa apresentam é uma população que tomou um choque de realidade e está se dando conta de que ela precisa do Estado para se recompor dessa crise e, ao mesmo tempo, ela requer um Estado mais eficiente.”

O professor reforça que o levantamento do Datafolha não pode ser analisado sem levar em conta alguns elementos da conjuntura política, já que a pesquisa foi realizada em junho, mês em que foi revelado o conteúdo da delação premiada do empresário Joesley Batista, que atingiu o governo de Michel Temer.

“Ao ir a campo no final de junho, a pesquisa ainda vai traduzir o reflexo de uma espécie de efeito Joesley. Esse efeito tem a ver com a identificação da perda de legitimidade do governo Temer, tanto porque ele perdeu o discurso de recuperação econômica, pois a crise a se aprofunda, mas também porque o governo perdeu o discurso de combate à corrupção, porque a delação do Joesley colocou o problema num outro patamar”, argumentou.

Maior participação do Estado

Nazaki salienta que o levantamento também mostra contradições. Ao mesmo tempo que os entrevistados defendem maior participação do Estado, considerando que este deve ser o principal responsável por fazer a economia crescer (76%) e assumem que o mercado não é a instância capaz de resolver a crise profunda, também reivindicam menos impostos (51%) e dizem que querem depender menos do governo (54%).

Para ele, mais do que uma escolha ideológica, a pesquisa revela a divisão e a luta de classes existentes na sociedade.

“No fundo, não me parece mais adequado tentar captar uma escala ideológica. Do ponto de vista concreto, elas se dividem muito mais entre ricos e pobres do que esquerda ou direita”, frisou. “Do ponto de vista analítico, para os pesquisadores é importante considerar esse instrumental de análise que faz essa divisão entre direita, esquerda e centro. Isso deve ser tratado como um elemento teórico conceitual. Na vida concreta e material das pessoas elas não organizam sua visão de mundo a partir desses esquemas rígidos”, explicou.

Comportamento

A pesquisa também apontou que cresceram a tolerância à homossexualidade (64% para 74%) e a aceitação de migrantes pobres (63% para 70%).

No entanto, quando se trata de temas ligados à segurança pública, naturalmente, as bandeiras mais conservadoras ganham um pouco mais de força, diante de um quadro de desmonte do setor em que a população se vê como refém.

Sobre a liberação das drogas, prevalece a ampla defesa da proibição (82% para atuais 80%). Já a rejeição à pena de morte subiu de 52% para 55%.

A maioria da população também defende a manutenção da política de desarmamento, sendo 55%. Em 2014 era de 62%. Já os que defendem a tese de que todo cidadão pode ter uma arma, subiu de 35% para 43%.

Eleições

Para Nosaki, o cenário ainda é de muita incerteza política e o aprofundamento da crise e a explicitação da corrupção estão funcionando como uma espécie de vetor que alimenta uma nova polarização no eleitorado.

“Estamos no exato movimento em que isso está acontecendo. É como se estivéssemos navegando numa linha muito tênue entre a sociedade que é desencantada, apática, beirando a anomia. E outra que começa a perceber que é preciso tomar lado e que, dado ao aprofundamento da crise, terá que tomar uma posição e, portanto, deverá participar da polarização que está concentrada na vida institucional”, conclui o professor.



Do Portal Vermelho, Dayane Santos, com informações de agências

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