O desafio colocado em 2017 no Brasil não é de símbolos ou palavras de ordem, apenas, mas a esquerda precisa mostrar para a sociedade quais as saídas que poderão ser adotadas para a grave crise. É preciso enfrentar com clareza o novo momento, e levar em consideração que o atual estágio da economia não permitiria mais um Governo de consenso. Como diria o poeta: Nada será como antes, amanhã!
Por Camilo Feitosa Daniel
O processo que culminou no impeachment da presidenta Dilma e na mais grave crise econômica e política trouxe novos elementos para o debate sobre o Brasil que queremos, trazendo reflexões sobre a construção de um novo ciclo de desenvolvimento econômico mantendo politicas sociais inclusivas e a sua política externa econômica e política.
É apressado afirmar que o erro dos governos do PT foram alianças realizadas para manter a governabilidade, aliás, poderíamos afirmar que sem essas alianças não seria possível manter 4 mandatos seguidos na presidência da república, perdendo o posto apenas por conta da força conspiratória, que associado aos interesses estrangeiros e nacionais do grande capital rentista, provocaram um golpe de Estado.
Em apenas um ano ficou evidente para a maior parte da sociedade brasileira o que estava em jogo naquele Abril de 2016, mas da mesma forma que a política de alianças foi bem sucedida pelos Governos do PT, dificilmente essa tática poderá ser reproduzida. No atual momento é preciso reestabelecer um novo debate na esquerda, que tem como questão central o combate ao avanço do neoliberalismo em todo o continente.
As forças democráticas, em todo o continente latino americano, conseguiriam governar os seus países distribuindo renda, impondo valorização real do salário e democratizando a política. Em casos mais expressivos, como a Venezuela, o poder também foi democratizado, diferente do caso Brasileiro, onde a esquerda apenas compartilhou do poder, sem ter realizado uma ampla reforma no Judiciário e política.
O crescimento econômico na ultima década ocorreu em toda a América Latina e o Brasil garantiu durante esse boom de crescimento a menor taxa de desemprego já registrada e o aumento real de 100% no salário mínimo. A ampliação do acesso ao crédito para toda a sociedade e a utilização de Bancos Públicos para investimentos produtivos, colocaram o capital nacional em outro patamar de valorização e obtenção de lucros.
No mesmo caminho, o capital financeiro nunca obteve tanto lucro, assim como a taxa Selic se manteve sempre em alta e nunca as desonerações fiscais foram tão grandes em favorecimento da burguesia, que apresentava um discurso falacioso onde estas serviriam para atrair investimentos na cidade ou no Estado. Como não lembrar do caso Olívio Dutra e a Ford e fazer relação direta com a desoneração das exportações da soja e a grave crise fiscal sofrida no Rio Grande do Sul?
O desafio colocado em 2017 no Brasil não é de símbolos ou palavras de ordem, apenas, mas a esquerda precisa mostrar para a sociedade quais as saídas que poderão ser adotadas para a grave crise. É preciso enfrentar com clareza o novo momento, e levar em consideração que o atual estágio da economia não permitiria mais um Governo de consenso. Como diria o poeta: Nada será como antes, amanhã!
Por mais que os setores que dirigem o PT acreditem na possibilidade de alianças regionais ou até nacionais com parcelas da burguesia brasileira, essa mesma burguesia não se sente representada pelas bandeiras que a candidatura de Lula representaria para o conjunto das classes trabalhadoras brasileiras, já que as classes trabalhadores pedem mais Estado e mais direitos, e a burguesia brasileira, vem conquistando o seu maior trunfo, que é a desvalorização do Trabalho e do salário, conseguindo com o aumento do desemprego a ampliação do exército de reserva e o rebaixamento do salário e do poder de barganha dos trabalhadores.
O quadro é realmente grave. O povo que vinha dando saltos qualitativos de participação na política, com o crescimento de greves e mobilizações, Junho de 2013, a batalha eleitoral de 2014, a luta a favor e contrário ao impeachment da Presidenta Dilma e recentemente, a luta contra os retrocessos, agora amarga o gosto perverso da descrença e apatia generalizada, não tendo acumulado forças para derrotar o projeto golpista nas ruas, destruindo a auto-estima do povo brasileiro.
A estratégia socialista se defronta com a realidade social do período pós-golpe, e requer uma decisão mais aprofundada sobre a tática para o próximo período histórico.
A esquerda que acumulou no último Ascenso da luta de massas da década de 80, precisa reinventar-se sobre novos símbolos, tentando capitanear os saldos das ultimas lutas de massa, buscando vencer na narrativa do golpe, aumentando ainda mais o trabalho de base na sociedade brasileira para derrotar o projeto conservador nas ruas e nas urnas.
Assim como na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, as forças democráticas apresentaram um modelo eleitoral subestimando o inimigo, tratando a globalização, os direitos civis e as liberdades individuais como verdade absoluta. O resultado eleitoral demonstra exatamente o contrário.
Se por um lado a integração das economias latino americanas provocou um fortalecimento do continente na ultima década, por outro a crise econômica forçada dos commodities foi gerada para colocar em xeque os governos da Rússia, Venezuela e Brasil, para enfraquecer o grande bloco que se formava com os BRICS.
A direita cresce em todo o continente sem conseguir provocar o desenvolvimento que o mesmo neoliberalismo provocou nos anos 80 e 90. Mesmo assim demonstra uma articulação regional nas narrativas e nas ações, com o mesmo conteúdo para os golpes de estado no Brasil, Honduras, Paraguai e as investidas golpistas contra todos os governos que constrói a sua gestão com autonomia.
Para a esquerda, as velhas receitas não resolvem os novos problemas. O crescimento exponencial de Lula nas pesquisas eleitorais do Brasil reflete que o povo brasileiro quer a volta daquele Governo que ampliava o Estado e a política, garantindo o crescimento econômico com garantias sociais. Mas o problema é maior que esse!
O próximo governo terá que enfrentar o congelamento dos gastos públicos e a desestruturação completa do mundo do trabalho. A mesma esquerda que aprendeu a lutar contra o imperialismo construindo um novo bloco econômico, poderá ter que aprender a fazer os seus investimentos no mercado e na produção interna.
A esquerda precisará de um novo aglutinador continental, com um conteúdo programático capaz de impulsionar um novo ciclo de crescimento e integração frente a nova ofensiva neoliberal; pautando além do debate econômico e político, deve resgatar todo o acúmulo do ultimo período, como a defesa da mãe terra, a luta pela reforma agrária, a defesa do meio ambiente e dos animais, o direito a cidade e tantas outras pautas nessa diversidade que é a América Latina.
É apressado afirmar que o erro dos governos do PT foram alianças realizadas para manter a governabilidade, aliás, poderíamos afirmar que sem essas alianças não seria possível manter 4 mandatos seguidos na presidência da república, perdendo o posto apenas por conta da força conspiratória, que associado aos interesses estrangeiros e nacionais do grande capital rentista, provocaram um golpe de Estado.
Em apenas um ano ficou evidente para a maior parte da sociedade brasileira o que estava em jogo naquele Abril de 2016, mas da mesma forma que a política de alianças foi bem sucedida pelos Governos do PT, dificilmente essa tática poderá ser reproduzida. No atual momento é preciso reestabelecer um novo debate na esquerda, que tem como questão central o combate ao avanço do neoliberalismo em todo o continente.
As forças democráticas, em todo o continente latino americano, conseguiriam governar os seus países distribuindo renda, impondo valorização real do salário e democratizando a política. Em casos mais expressivos, como a Venezuela, o poder também foi democratizado, diferente do caso Brasileiro, onde a esquerda apenas compartilhou do poder, sem ter realizado uma ampla reforma no Judiciário e política.
O crescimento econômico na ultima década ocorreu em toda a América Latina e o Brasil garantiu durante esse boom de crescimento a menor taxa de desemprego já registrada e o aumento real de 100% no salário mínimo. A ampliação do acesso ao crédito para toda a sociedade e a utilização de Bancos Públicos para investimentos produtivos, colocaram o capital nacional em outro patamar de valorização e obtenção de lucros.
No mesmo caminho, o capital financeiro nunca obteve tanto lucro, assim como a taxa Selic se manteve sempre em alta e nunca as desonerações fiscais foram tão grandes em favorecimento da burguesia, que apresentava um discurso falacioso onde estas serviriam para atrair investimentos na cidade ou no Estado. Como não lembrar do caso Olívio Dutra e a Ford e fazer relação direta com a desoneração das exportações da soja e a grave crise fiscal sofrida no Rio Grande do Sul?
O desafio colocado em 2017 no Brasil não é de símbolos ou palavras de ordem, apenas, mas a esquerda precisa mostrar para a sociedade quais as saídas que poderão ser adotadas para a grave crise. É preciso enfrentar com clareza o novo momento, e levar em consideração que o atual estágio da economia não permitiria mais um Governo de consenso. Como diria o poeta: Nada será como antes, amanhã!
Por mais que os setores que dirigem o PT acreditem na possibilidade de alianças regionais ou até nacionais com parcelas da burguesia brasileira, essa mesma burguesia não se sente representada pelas bandeiras que a candidatura de Lula representaria para o conjunto das classes trabalhadoras brasileiras, já que as classes trabalhadores pedem mais Estado e mais direitos, e a burguesia brasileira, vem conquistando o seu maior trunfo, que é a desvalorização do Trabalho e do salário, conseguindo com o aumento do desemprego a ampliação do exército de reserva e o rebaixamento do salário e do poder de barganha dos trabalhadores.
O quadro é realmente grave. O povo que vinha dando saltos qualitativos de participação na política, com o crescimento de greves e mobilizações, Junho de 2013, a batalha eleitoral de 2014, a luta a favor e contrário ao impeachment da Presidenta Dilma e recentemente, a luta contra os retrocessos, agora amarga o gosto perverso da descrença e apatia generalizada, não tendo acumulado forças para derrotar o projeto golpista nas ruas, destruindo a auto-estima do povo brasileiro.
A estratégia socialista se defronta com a realidade social do período pós-golpe, e requer uma decisão mais aprofundada sobre a tática para o próximo período histórico.
A esquerda que acumulou no último Ascenso da luta de massas da década de 80, precisa reinventar-se sobre novos símbolos, tentando capitanear os saldos das ultimas lutas de massa, buscando vencer na narrativa do golpe, aumentando ainda mais o trabalho de base na sociedade brasileira para derrotar o projeto conservador nas ruas e nas urnas.
Assim como na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, as forças democráticas apresentaram um modelo eleitoral subestimando o inimigo, tratando a globalização, os direitos civis e as liberdades individuais como verdade absoluta. O resultado eleitoral demonstra exatamente o contrário.
Se por um lado a integração das economias latino americanas provocou um fortalecimento do continente na ultima década, por outro a crise econômica forçada dos commodities foi gerada para colocar em xeque os governos da Rússia, Venezuela e Brasil, para enfraquecer o grande bloco que se formava com os BRICS.
A direita cresce em todo o continente sem conseguir provocar o desenvolvimento que o mesmo neoliberalismo provocou nos anos 80 e 90. Mesmo assim demonstra uma articulação regional nas narrativas e nas ações, com o mesmo conteúdo para os golpes de estado no Brasil, Honduras, Paraguai e as investidas golpistas contra todos os governos que constrói a sua gestão com autonomia.
Para a esquerda, as velhas receitas não resolvem os novos problemas. O crescimento exponencial de Lula nas pesquisas eleitorais do Brasil reflete que o povo brasileiro quer a volta daquele Governo que ampliava o Estado e a política, garantindo o crescimento econômico com garantias sociais. Mas o problema é maior que esse!
O próximo governo terá que enfrentar o congelamento dos gastos públicos e a desestruturação completa do mundo do trabalho. A mesma esquerda que aprendeu a lutar contra o imperialismo construindo um novo bloco econômico, poderá ter que aprender a fazer os seus investimentos no mercado e na produção interna.
A esquerda precisará de um novo aglutinador continental, com um conteúdo programático capaz de impulsionar um novo ciclo de crescimento e integração frente a nova ofensiva neoliberal; pautando além do debate econômico e político, deve resgatar todo o acúmulo do ultimo período, como a defesa da mãe terra, a luta pela reforma agrária, a defesa do meio ambiente e dos animais, o direito a cidade e tantas outras pautas nessa diversidade que é a América Latina.
*Mestrando do programa em desenvolvimento territorial na América Latina e Caribe, UNESP. Militante do MST, da Frente Brasil Popular e do Partido dos Trabalhadores.
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
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