segunda-feira, 23 de maio de 2011

O manejo da caatinga

 Por Ricardo Braga


A caatinga é o único bioma exclusivamente nordestino, não  ocorrendo em qualquer outro lugar do mundo. Isso significa que, se não cuidarmos dela, dificilmente outros cuidarão. A partir de estudos mais recentes, tem-se evidenciada a sua importância em biodiversidade, não se constituindo meramente em uma uniforme “mata branca”, mas de múltiplos ecossistemas e fisionomias vegetacionais, que guardam espécies endêmicas e muitas delas ameaçadas de extinção.

Mas, desde muito tempo, a vegetação de caatinga é conhecida do sertanejo, sendo sua companheira e auxiliar na sobrevivência no semiárido, produzindo alimentos, forragem para o gado, produtos madeireiros e disponibilizando uma vital fonte energética, tanto para consumo doméstico quanto para atividades produtivas.

Mesmo diante do entendimento mais amplo da sua importância, as pressões que a levam à destruição continuam a ocorrer. São os fornos das olarias, casas de farinha, padarias, churrascarias e calcinadoras de gesso, essas na região do Araripe. O consumo de lenha e carvão continua a ter predominante participação na matriz energética do semiárido nordestino. Para mudar esta base energética, será preciso disponibilizar novas fontes de energia, necessariamente mais limpas e que, ao mesmo tempo, não sejam socialmente excludentes.
A vegetação de caatinga tem um porte geralmente baixo e apresenta enorme capacidade de rebrotar quando cortados e reagem rapidamente às primeiras chuvas


Porém, quando se pensa em exploração florestal, para fins energéticos ou não, tem-se uma profunda desconfiança sobre os seus resultados ambientais, nada sustentáveis. Motivos não faltam para essa descrença. Primeiro, o Brasil não tem tradição de manejo florestal de vegetação nativa, sendo comuns o desmate e a imediata substituição do uso da terra, sem possibilitar a recomposição da vegetação original. Segundo, as experiências vindas da Amazônia e da Mata Atlântica ou são muito incipientes ou foram negativas.

Assim, é preciso vencer essa desconfiança e atuar em bases técnicas seguras e com monitoramento das novas experiências que estão surgindo no semiárido, com manejo de caatinga na região de beneficiamento da gipsita.

A vegetação de caatinga tem um porte geralmente baixo, mas com uma grande quantidade de indivíduos arbóreos, que apresentam enorme capacidade de rebrotar quando cortados e reagem rapidamente às primeiras chuvas. Segundo os especialistas, uma vegetação cortada leva de 9 a 14 anos para voltar ao porte original, inclusive em biomassa. Isso evidencia forte resiliência, ou capacidade de autoafirmação biológica, embora seja esperado um empobrecimento gradativo da biodiversidade se não forem tomados cuidados que minimizem esse efeito adverso.

Por isso, o manejo não deve ser realizado em áreas de preservação e, sim, onde é legalmente aceitável se desmatar para fazer agricultura ou pecuária. Nesse caso, o ganho com o manejo é evidente porque manteria a vegetação de caatinga, mesmo que em processo de explotação.

Além disso, essa vegetação é forte manancial para produtos não madeireiros, como frutos para produção de polpa, geleia, compota, doce, ou mesmo in natura (umbu, caju e murici); para fabrico de artesanato, como aqueles com fibra do caruá, em bolsas, cintos e jogos de mesa; para produção de biojóias, como brincos, colares, pulseiras, arranjos em sandálias e chaveiros; e ainda, para usos medicinais, como em sabonetes, xaropes naturais, hidratantes e cremes.

O segredo, portanto, é encontrar o ponto de equilíbrio, que leve à sustentabilidade ecológica, econômica e social no bioma caatinga. Isso não exclui sequer o plantio e manejo de árvores exóticas, que também podem ser fonte energética, desde que isso não implique em mais desmatamentos de nativas.

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