terça-feira, 18 de abril de 2017

Desmanches, cinismo e oportunismo


Walter Sorrentino *

O que está em desmanche não é apenas a Constituição de 1988, mas toda a modernidade brasileira aberta em 1930, aos trancos e barrancos sob o ponto de vista democrático - a Era Vargas.


A proposta de reforma da CLT altera mais de 100 artigos da CLT e cria dois novos modelos de contratação: o de trabalho intermitente, por jornada ou horas de serviço e o teletrabalho, o chamado “home office”. O fim do imposto sindical está no texto. O projeto vai a plenário no dia 19 e cria garantias contra a terceirização. O texto prevê que o empregador e o trabalhador possam negociar a jornada de trabalho chegando a até 12 horas por dia e 48 horas semanais.

Também na Previdência. Até a própria FSP (para não falar de vastos setores sociais) aponta evidências de que o governo federal não tratou os dados sobre a reforma da Previdência com toda a clareza quanto ao cálculo do gasto que foi apresentado pelo governo se baseando só em aumentos reais do salário mínimo. A conclusão é a mesma anterior: havendo a aprovação da reforma, dificilmente a política de aumento do salário mínimo seria mantida, o que penalizaria o estrato mais desfavorecido dos segurados. Mais um pilar da Era Vargas e impulsionado por Lula e Dilma.

O cinismo e oportunismo não têm limites. Nada mais se fala de superávite fiscal no governo Temer. As garantias que a plutocracia exige do governo não é o superávite, mas as contrarreformas. Com isso, jamais se viu uma política tão frouxa no plano fiscal, com déficits recorrentes de mais de centena de bilhões de reais.

Na outra ponta da polarização, “Moro reconhece dificuldade de investigar vazamentos e diz que 'é como caçar fantasmas'” – Como assim? O resto é investigável mas esse crime não? Bem oportunista a declaração. Não aprenderam isso nas reuniões feitas nos EUA? Carmem Lúcia do STF se contorce para evitar que os vazamentos possam anular os processos e bate de frente com Gilmar Mendes.

Vai mal o projeto golpista.
* Walter Sorrentino é médico, paulistano. Membro do Comitê Central desde 1988, ex-secretário de organização do PCdoB (2002-2015), eleito vice-presidente do Partido na 10ª Conferência (maio/2015).

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