Um avanço dramático, de sete pontos percentuais nas pesquisas, parece levar inesperadamente o candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon para uma disputa entre quatro candidatos, que decidirão o primeiro turno das eleições presidenciais francesas.
Por Jon Henley
Jean-Luc Mélenchon, em comício na cidade de Marselha
A dez dias das votações, em 23 de abril, o candidato de centro, Emmanuel Macron, e a líder ultradireitista Marine Le Pen, ambos com 23-24% de intenção de votos, ainda são os favoritos para seguirem adiante no segundo turno.*
A ascensão de Mélechon — um político ácido, com uma plataforma radical sobre impostos e gastos públicos — ocorre num momento em que que mais de um terço dos eleitores estão indecisos. Não há duas pesquisas totalmente iguais, por isso é impossível dizer com certeza quem seguirá para o segundo turno.
A extrema imprevisibilidade da disputa está sacudindo tanto o mercado financeiro quando os observadores. A campanha “cheira mal”, disse o presidente que deixa o posto, François Hollande, aos amigos, segundo informou Le Monde. Temendo o que alguns analistas chamam de onda destrutiva entre os eleitores, Hollande também alertou os perigos da “simplificação e falsificação” numa eleição marcada por raiva antissistema.
Muitos analistas estão agora contemplando o inimaginável confronto entre Mélenchon e Le Pen, um confronto entre extrema-esquerda e extrema-direita que poderia representar um abalo sísmico na política francesa e europeia.
Mélenchon, de 65 anos, saiu do Partido Socialista — de centro-esquerda e ao qual está ligado o presidente Hollande — em 2008. Formou e passou a liderar um movimento de base, A França Insubmissa [La France Insoumisse]. Aos poucos, atraiu os votos do candidato socialista oficial, Benoît Hamon.
Ajudado por sua retórica casuística, performances fortes nos debates pela TV e uma ágil campanha, que inclui manifestações com holograma e Fiscal Combat – um jogo para “caçar os ricos” — sua aprovação pessoal saltou de 22% para 68% em um mês, fazendo dele o político mais popular da França.
“Ele inventou o stand-up político — disse um ex-aliado do Partido Socialista, Julien Dray — ele tornou-se um showman”. O próprio Mélenchon afirma que se tornou uma figura “tranquilizadora” e “menos cabeça quente”.
As políticas de Mélechon incluem redução da jornada semanal de trabalho de 35 para 32 horas; redução da idade mínima para aposentadoria para 60 anos; aumento do salário mínimo e benefícios de segurança social — além de uma vasta reforma tributária, que inclui alíquotas de 100% sobre qualquer rendimento que ultrapasse 33 mil euros por mês (R$ 110 mil).
Comício de Mélenchon reuniu 70 mil pessoas em Marselha no dia 9 de abril; assista:
Ele também quer deixar de usar energia nuclear, que hoje responde por cerca de 75% da geração elétrica da França, e reformar radicalmente a Constituição francesa, abolindo o regime presidencial da Quinta República. Embora sua posição sobre a imigração seja oposta à de Le Pen, Mélenchon não está tão distante da líder da Frente Nacional na política exterior, ao defender um “novo papel” para a França na União Europeia, sua retirada da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e laços mais calorosos com a Rússia.
Seus planos incluem ampliar os gastos públicos em 173 bilhões de euros em cinco anos e retirar a França dos tratados da UE, se Bruxelas não concordar com reformas fundamentais. É o que mais irritou os conservadores e investidores. “Mélenchon: o programa louco do Chávez francês”, dizia uma recente manchete de capa do diário conservador Le Figaro, comparando o candidato apoiado pelos comunistas ao ex-líder venezuelano.
Pierre Gattaz, líder do principal grupo empresarial francês — o Medef — disse esta semana que um segundo turno entre Mélenchon e Le Pen seria “uma catástrofe” para a França, ao forçar os eleitores a escolher entre “o desastre econômico e o caos econômico”.
Pesquisas recentes sobre modelos hipotéticos de segundo turno preveem que Macron – um ex-ministro da Economia e banqueiro de investimentos que nunca ocupou um cargo eletivo, mas diz que deseja transcender a divisão tradicional entre esquerda e direita e governar “de maneira justa e eficiente” — derrotaria Le Pen, Fillon e Mélenchon.
Fillon, um ex-primeiro-ministro conservador que nega as alegações de que pagou a sua esposa centenas de milhares de euros de dinheiro público por um trabalhinho como assistente parlamentar, venceria Le Pen, mas perderia para qualquer um dos outros dois, enquanto Mélenchon venceria Le Pen e Fillon, mas perderia para Macron.
*Nota dos tradutores: uma nova pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (14) pelo jornal francês Le Monde, indica que a diferença caiu para apenas dois pontos. Macron e Le Pen têm 22% dos eleitores; Mélenchon subiu dois pontos e tem agora 20%.
A ascensão de Mélechon — um político ácido, com uma plataforma radical sobre impostos e gastos públicos — ocorre num momento em que que mais de um terço dos eleitores estão indecisos. Não há duas pesquisas totalmente iguais, por isso é impossível dizer com certeza quem seguirá para o segundo turno.
A extrema imprevisibilidade da disputa está sacudindo tanto o mercado financeiro quando os observadores. A campanha “cheira mal”, disse o presidente que deixa o posto, François Hollande, aos amigos, segundo informou Le Monde. Temendo o que alguns analistas chamam de onda destrutiva entre os eleitores, Hollande também alertou os perigos da “simplificação e falsificação” numa eleição marcada por raiva antissistema.
Muitos analistas estão agora contemplando o inimaginável confronto entre Mélenchon e Le Pen, um confronto entre extrema-esquerda e extrema-direita que poderia representar um abalo sísmico na política francesa e europeia.
Mélenchon, de 65 anos, saiu do Partido Socialista — de centro-esquerda e ao qual está ligado o presidente Hollande — em 2008. Formou e passou a liderar um movimento de base, A França Insubmissa [La France Insoumisse]. Aos poucos, atraiu os votos do candidato socialista oficial, Benoît Hamon.
Ajudado por sua retórica casuística, performances fortes nos debates pela TV e uma ágil campanha, que inclui manifestações com holograma e Fiscal Combat – um jogo para “caçar os ricos” — sua aprovação pessoal saltou de 22% para 68% em um mês, fazendo dele o político mais popular da França.
“Ele inventou o stand-up político — disse um ex-aliado do Partido Socialista, Julien Dray — ele tornou-se um showman”. O próprio Mélenchon afirma que se tornou uma figura “tranquilizadora” e “menos cabeça quente”.
As políticas de Mélechon incluem redução da jornada semanal de trabalho de 35 para 32 horas; redução da idade mínima para aposentadoria para 60 anos; aumento do salário mínimo e benefícios de segurança social — além de uma vasta reforma tributária, que inclui alíquotas de 100% sobre qualquer rendimento que ultrapasse 33 mil euros por mês (R$ 110 mil).
Comício de Mélenchon reuniu 70 mil pessoas em Marselha no dia 9 de abril; assista:
Ele também quer deixar de usar energia nuclear, que hoje responde por cerca de 75% da geração elétrica da França, e reformar radicalmente a Constituição francesa, abolindo o regime presidencial da Quinta República. Embora sua posição sobre a imigração seja oposta à de Le Pen, Mélenchon não está tão distante da líder da Frente Nacional na política exterior, ao defender um “novo papel” para a França na União Europeia, sua retirada da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e laços mais calorosos com a Rússia.
Seus planos incluem ampliar os gastos públicos em 173 bilhões de euros em cinco anos e retirar a França dos tratados da UE, se Bruxelas não concordar com reformas fundamentais. É o que mais irritou os conservadores e investidores. “Mélenchon: o programa louco do Chávez francês”, dizia uma recente manchete de capa do diário conservador Le Figaro, comparando o candidato apoiado pelos comunistas ao ex-líder venezuelano.
Pierre Gattaz, líder do principal grupo empresarial francês — o Medef — disse esta semana que um segundo turno entre Mélenchon e Le Pen seria “uma catástrofe” para a França, ao forçar os eleitores a escolher entre “o desastre econômico e o caos econômico”.
Pesquisas recentes sobre modelos hipotéticos de segundo turno preveem que Macron – um ex-ministro da Economia e banqueiro de investimentos que nunca ocupou um cargo eletivo, mas diz que deseja transcender a divisão tradicional entre esquerda e direita e governar “de maneira justa e eficiente” — derrotaria Le Pen, Fillon e Mélenchon.
Fillon, um ex-primeiro-ministro conservador que nega as alegações de que pagou a sua esposa centenas de milhares de euros de dinheiro público por um trabalhinho como assistente parlamentar, venceria Le Pen, mas perderia para qualquer um dos outros dois, enquanto Mélenchon venceria Le Pen e Fillon, mas perderia para Macron.
*Nota dos tradutores: uma nova pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (14) pelo jornal francês Le Monde, indica que a diferença caiu para apenas dois pontos. Macron e Le Pen têm 22% dos eleitores; Mélenchon subiu dois pontos e tem agora 20%.
Fonte: Outras Palavras. Traduzido por Cauê Ameni e Inês Castilho
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