Walter Sorrentino *
Em cada Congresso, nós fundamentamos o trabalho político, ideológico e organizativo do Partido para um período determinado, singular. Os fundamentos gerais permanecem mas são reordenados os componentes de nossa ação política em todos os terrenos.
Não há dúvidas de que este é um Congresso em meio a uma grande viragem política em nosso país e no mundo, o que está bem formulado em nosso PRP e no Informe apresentado por Luciana Santos. Nosso grandes temas são as saídas para a crise brasileira na perspectiva de nossa estratégia, e os desafios do Partido para isso.
Quais nossos desafios? Em primeiro lugar, nós precisamos colocar a construção política do Partido no posto de comando. Como dizemos os marxistas, destacar claramente a política constitui uma exigência fundamental do nosso Partido. O papel do Partido é político, antes de tudo, no sentido amplo, até porque isso decide a direção, caminhos e objetivos da construção partidária.
Precisamos nos compactar em torno da política fixada neste Congresso, seu sentido tático e estratégico, elevar a confiança e tirar todas as consequências dela. Todo o Partido deve aplicar persistentemente a linha política do Partido, respeitar rigorosamente a disciplina e as normas, para acentuar a unidade e a confiança de todo o partido em torno dela, assegurar a convergência de toda e qualquer ação do partido em torno do Comitê Central que governará a aplicação da orientação deste Congresso.
Nossa identidade e acumulação de forças é uma grande questão hoje, dada a situação da derrota política sofrida e da divisão da esquerda brasileira, e também pelos desafios da reforma política para o presente e o futuro. O PCdoB precisa ser mais forte nas ruas, nas urnas, nas ideias, na ação política institucional. Fortalecer o PCdoB é fortalecer as saídas para a crise brasileira e emular toda a esquerda brasileira em torno dessa grande luta.
A pré-candidatura com Manuela D´Ávila é uma construção tática irrecusável dadas as incertezas acerca das eleições de 2018, chamadas a ser um divisor de águas entre se sofremos uma derrota tática ou se o inimigo lograr impor-nos uma derrota de caráter mais estratégico no sentido de seu objetivo que é extirpar a alternativa de esquerda do cenário por um ciclo político longo.
Temos a responsabilidade, assim, de constituir uma nova agenda para as saídas da crise brasileira (centro de nosso Congresso) e afirmar que, nós da esquerda política e social, das forças progressistas, patrióticas e democráticas, unidos seremos mais fortes. Mas tem, por isso, também sentido estratégico, no sentido de emular a esquerda a se reconfigurar programática e organizativamente numa grande frente única pela salvação nacional, pelo desenvolvimento soberano, a defesa da democracia e dos interesses do povo. Ou seja, no curso dos enfrentamentos táticos em combate à nova ordem que vai se impondo no país – ultraliberal, autoritária, antipopular e neocolonial – carece-se, ao mesmo tempo, de constituir uma nova agenda para o Brasil, NPDN, e a força político-social intelectual frentista, a Frente da Unidade Popular como bandeira da esperança.
Em segundo lugar, ponho a construção ideológica do Partido, que embasa essa perspectiva política. Temos que assegurar em todo o Partido o pensamento sobre o NPND como caminho brasileiro ao socialismo. Essa é a originalidade, maturidade e fortuna do PCdoB que nos diferencia perante a esquerda, o povo e as forças políticas. Temos um pensamento rico e original. Precisamos decididamente aplicá-lo como guia da ação em todos os terrenos, tirar todo o proveito dele.
Não é suficiente o que fizemos em torno disso. Temos sido fortes na luta de ideias em torno disso; na luta política, ainda não tiramos todas as consequências, há diversos matizes e vieses na sua aplicação em todo o partido, porque atuamos em meio a pressões objetivas e subjetivas das demais forças da esquerda; na luta social, dos nossos bravos e bravas lutadores sociais, mais ainda se faz necessário, ao lado da combatividade, intensificar a disputa de ideias nesse sentido pois se apresentam aí influências ideológicas nefastas e disputas de estratégias políticas que desligam as lutas do povo de um projeto de desenvolvimento da nação, exploram anseios e reivindicações sem sentido classista e, até, fragmentam a unicidade do povo brasileiro.
Em terceiro lugar, outro grande desafio desta hora, é a construção organizativa que assegure a realização da política. Perante a situação de radicalizada lutas de classes dos inimigos contra nós, as ricas definições construídas em nossos últimos congressos precisam superar decididamente a “crise de realização” apontada já no 13º Congresso, dadas as dificuldades que se apresentaram ao nosso campo político a partir de 2013. Tivemos então uma fase de diástole por assim dizer, ampliando as fronteiras do partido e correndo atrás para organizá-lo melhor. Agora, é uma fase de sístole, justamente. É o que está em curso. É preciso se apoiar nas realizações anteriores, corrigir as insuficiências e lacunas, avançar e isso precisa ser assegurado por todos nós, do primeiro ao último quadro do partido.
O primeiro grande componente para isso são os quadros. Os quadros constituem a ossatura que representa a essência do partido, como força capaz de impulsionar a realização dos objetivos do partido e impulsionar a causa da nação e do povo.
Devemos persistir na forma correta de selecionar e nomear os quadros, controlar regularmente o seu desempenho, desenvolver a política de quadros em consonância com as exigências, priorizar os trabalhadores, os jovens, as mulheres e os quadros intelectuais orgânicos. Neta hora de tormentosas lutas de classes dos trabalhadores, se exige mais rigor na seleção dos quadros, mais disciplina consciente, mais alocação seletiva dos quadros para cumprir a linha política do partido, valorizar mais e sem receio os talentos, apoiar e controlar melhor o trabalho dos quadros.
Devemos dirigir o Partido pelos quadros. É em torno deles, e só por meio deles, que podemos de fato cumprir a realização de um partido comunista de massas, que é o que o Brasil precisa. PC de massas dirigido por quadros para assegurar identidade mais demarcada, força eleitoral, força de massas, força das ideias, força nos governos e instituições.
O outro componente é fortalecer o trabalho militante de base, a construção das células. Elas são o alicerce materiais para garantir a aplicação da linha, princípios e políticas do Partido. Precisamos elevar a capacidade organizacional ao mesmo tempo destacando a função política de seu trabalho. Hoje, elas são ainda mais indispensáveis para dar maior força ao partido e sua influência de massa, inclusive para a formação de um eleitorado próprio mais extenso e fidelizado, renovar as inserções sociais face aos novos fenômenos do tempo, dar guarida ao trabalho militante para que não se esmoreça ou disperse.
Camaradas, nosso partido foi pioneiro mais uma vez com a política de Permanência, Renovação e Alternância. Estamos vivendo isso quando se fez a ousadia de uma transição na presidência do Partido. Sua implicação é ainda maior: uma transição geracional no núcleo dirigente do partido, com a geração nova tomando os destinos nas mãos, contando com o apoio de quadros experientes dando-lhe sustentação. É uma grande vitória, um grande orgulho para o partido, demonstrando que é um partido do presente que tem assegurado seu futuro, caminhando para os cem anos de vida.
Viva o PCdoB!
* Walter Sorrentino é médico, paulistano. Membro do Comitê Central desde 1988, ex-secretário de organização do PCdoB (2002-2015), eleito vice-presidente do Partido na 10ª Conferência (maio/2015).
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