A decisão unânime, nesta semana, do Comitê de Política Monetária (COPOM) de aumentar em 0,25% a taxa SELIC – que alcançou o disparate de 12,25% ao ano – não pode ser recebida naturalmente. Além de o Brasil ser o país com as maiores taxas de juros do mundo, superior em três vezes a da segunda colocada (Austrália), o que vem à tona é a mesma discussão sobre que país e que estrutura econômica estaremos entregando às futuras gerações de brasileiros.
Por Sob outro ângulo de visão, é importante notar que apesar do discurso de austeridade e controle rígido dos “gastos”, inclusive anunciando cortes de R$ 50 bilhões no orçamento, com este aumento último de 0,25%, a dívida pública, em apenas seis meses de governo, teve acréscimo de R$ 19 bilhões e a previsão de economia do setor público para redução e pagamento de juros da dívida interna é de 45% do PIB, chegando a R$ 210 bilhões neste ano.
O efeito se espraia para todos os campos da economia. Combater a inflação utilizando a taxa de juros está fazendo o dólar despencar, chegando a R$ 1,55. De 2004 até agora, a valorização do real – diante do dólar – foi de 119%. A desindustrialização vem a reboque desta valorização: as exportações primárias (minério de ferro e soja, por exemplo) que eram de 22% em 2000, aumentaram para 46% em 2010. A concorrência externa toma de assalto os mercados de empresas nacionais, dentro e fora do país: segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 45% das empresas industriais que concorrem com produtos chineses perderam participação no mercado nacional entre 2006 e 2010; e com 67% das empresas exportadoras aconteceu a mesma coisa.
Seremos o país em que os juros, somente os juros, da dívida pública consomem recursos anuais 20 vezes maiores do que os destinados ao recém-anunciado programa de combate à miséria? Existe um paradoxo nada aparente no atual estado de coisas. Algo que está colocando em xeque a própria capacidade deste ou daquele governo ser soberano diante dos grandes desafios da nacionalidade. Aos banco tudo, à esmagadora maioria do povo algumas migalhas e restos dos banquetes regados por juros da dívida pública.
Renato Rabelo*
Editado por Dedé Rodrigues
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