domingo, 16 de setembro de 2012

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José Dirceu: Por que Chávez deve vencer?

A erradicação do analfabetismo, assegurado pela Unesco, a melhor distribuição de renda da América do Sul, segundo o índice de Gini, o melhor salário mínimo regional, conforme dados da OIT e o mais acelerado padrão de crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no continente, de acordo com relatório recente das Nações Unidas, são alguns dos títulos que nos ajudam a entender por que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, deverá triunfar de novo nas eleições de outubro deste ano.


Chávez Evento de Chávez com mulheres venezuelanas
Por José Dirceu*, no Sul21





Sob efeito de uma brutal oposição da mídia monopolista tanto a local, quanto a internacional, da direita conservadora e do grande empresariado, Chávez deverá confirmar nas urnas o imenso apoio popular que vem recebendo ao longo dos últimos 12 anos e que é fruto dos incontestáveis avanços sociais que o país caribenho alcançou sob seu comando.

Quando decidiu retomar o controle da PDVSA, petrolífera que detém a maior reserva de petróleo do mundo e que sempre foi a principal fonte de riquezas do país, direcionando parte dos recursos da estatal para retirar da extrema pobreza milhares de venezuelanos, Chávez começou a reverter a herança neoliberal para afirmar a independência político-econômica da Venezuela em relação aos EUA.

O enfrentamento de problemas sociais graves, como o analfabetismo, a insegurança alimentar, a precariedade da saúde pública e o déficit habitacional, desde então tem sido a tônica de um modelo de governo que toma para si o papel de indutor do desenvolvimento e do combate às desigualdades sociais, produzindo e distribuindo riquezas, ao mesmo tempo em que fortalece a sua soberania.

Em 2002, parte das respostas a esses problemas crônicos começou a ser dada com a criação das missões, os programas sociais que transformaram a realidade da população. Em parceria com Cuba, criou-se uma rede de atendimento médico que chegou às localidades mais carentes e de mais difícil acesso, levando exames e vacinas para comunidades até então excluídas do sistema de saúde. Em 1998, quando Chávez assumiu, havia 1628 médicos para uma população de 23,4 milhões. Depois de dez anos, eram quase 20 mil médicos para 27 milhões. Ampliado, o programa passou a oferecer atendimento de especialidades e intervenções cirúrgicas, além de investir em capacitação. Cerca de 8 mil médicos venezuelanos formaram-se na Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV) a fim de continuar o trabalho dos médicos cubanos que integraram a missão.

Já as missões de alfabetização, implantadas a partir de 2003 e realizadas também com o apoio de Cuba, em três anos livraram a Venezuela do analfabetismo, segundo a Unesco. Ao todo, mais de 1,6 milhão de venezuelanos aprenderam a ler e a escrever. O programa expandiu-se e criou também oportunidades de acesso ao ciclo básico, secundário e superior.

Além destes resultados, a Venezuela praticamente teve reduzida pela metade a taxa de mortalidade infantil. O acesso à água potável atinge hoje mais de 90% da população; o índice de desemprego, que era de 19% em 1998, caiu pela metade e o consumo de alimentos mais que dobrou. Além disso, a produção agrícola nacional cresceu 44% durante a era Chávez, aumentando o percentual de alimentos nacionais no prato dos venezuelanos, cuja dependência do mercado externo chegou a 70%.

Desafios

É verdade que apesar dos avanços, ainda há muito por fazer. Nova integrante do Mercosul e grande parceira do Brasil, a Venezuela hoje olha para seus vizinhos e acredita na integração regional como importante instrumento para superar seus desafios, diversificar sua infraestrutura energética e sua economia como um todo. Sua adesão confere força ao bloco, que deve avançar em uma agenda positiva, capaz de contemplar não apenas integração comercial, mas, sobretudo, produtiva e política.

É bom lembrar que para colocar em prática este projeto arrojado, que está devolvendo a cidadania para os venezuelanos, o presidente Chávez teve que enfrentar muitas adversidades, derrotando uma a uma as batalhas anticonstitucionais que lhe foram impostas, inclusive um golpe militar em 2002.

Para continuar liderando esta transformação, Hugo Chávez enfrentará, em outubro, talvez, o menor de seus desafios até aqui: o candidato Henrique Capriles, representante dos interesses das elites conservadoras que foram afastadas do poder. A polarização é clara. Nas urnas, a população decidirá se consolida sua independência e dá continuidade a uma era que tem lhe proporcionado, além do acesso aos seus direitos básicos, a possibilidade de fazer parte da história política de seu país.

*José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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