Trata-se de demagogia sem desfaçatez a comemoração do “crescimento” trimestral de 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto), da economia brasileira, pelo governo Temer. Assim como pela mídia irresponsável que o apoia e os apologistas do mercado. Aliás, ontem [3] mesmo o jornal Valor Econômico, estampava que “analistas” previam uma alta de 0,3% dessa variável econômica.
Assim, frustração de especuladores financistas, que agora passam a chantagear o país, difundindo, imediatamente, que se a tal reforma da Previdência não for aprovada, haverá logo, logo elevação da taxa básica de juros!
Tal “comemoração” deve ser somada à constatação oficial de que o crescimento da dívida Bruta de 73,9% para 74,4% do PIB, bateu novo recorde na série histórica iniciada em 2006. Essa dívida do setor público não financeiro subiu de R$ 4,789 trilhões em setembro para R$ 4,837 trilhões em outubro, segundo informou ontem o Banco Central (BC).
Pior ainda: espera-se que esse crescimento atinja 75,5% no ano de 2017, e, segundo projeção do FMI, a dívida bruta do país chegará a 91,1% do PIB em dois anos, e atingirá 96,9% em 2022. Também aí o discurso dos golpistas da suposta política de “austeridade” para conter o endividamento bruto; ou contra as “pedaladas” que teriam sido cometidas pela honrada presidenta Dilma Rousseff, revelam-se falácia e manipulação cínica.
Precarização e desigualdades se alastram
De outra parte, viu-se nesta mesma semana que o registro de espantosos 12,7 milhões de desempregados, ao invés dos 13,3 milhões registrados (IBGE) no trimestre findo em outubro, 75% dos novos empregos são sem carteira assinada, ou empregos informais, precários.
O fato é que, no final de 2016, o ano do golpe, articulado pelo governo do atual ministro da fazenda, a desigualdade aumentou. De acordo com a PNAD do IBGE, as pessoas situadas na parcela de 1% dos maiores rendimentos de trabalho recebiam, em média, R$ 27.085, enquanto a metade de menor renda recebia R$ 747, em um país cujo rendimento médio mensal de todos os trabalhos foi de R$ 2.149. Nesse mesmo ano, os 10% com maiores rendimentos concentravam 43,4% de todas as fontes de renda recebidas no Brasil (IBGE, 29/11/2017).
Aliás, nas palavras grafadas pela mídia de “O Globo”, a desigualdade voltou a aumentar no país: ao atingir patamares recordes em 2016, o desemprego fez com que a disparidade da renda domiciliar per capita no Brasil registrasse o primeiro aumento em 22 anos, segundo mostra o índice de Gini calculado pela FGV Social. [1]
Propaganda enganosa
É preciso relembrar que ainda no último setembro, o falastrão e entreguista ministro da Fazenda Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal Estadão, afirmou textualmente: “Nossa expectativa, e isso é muito importante, é que o Brasil já termine o ano com crescimento acima de 2%” (O Estado de S. Paulo, 17/09/2017).
Ora, todas as fontes de pesquisa e estimativas reconhecem que o país, este ano, dificilmente alcançara 1% do crescimento da economia, quando em verdade este deverá se situar entre 0,8% a 0,9%.
Ademais, sabidamente, o golpe contra o pais tem por detrás uma verdadeira fúria entreguista e privatista, cujo Mentor, Meirelles, afirmara em 2016 que todas as empresas estatais que podem ser privatizadas, parcial ou integramente, devem ser vendidas. Não à toa, uma vez consumado o golpe, Temer anunciou a desestatização de 91 ativos de controle estatal, aí incluídos 18 aeroportos, duas rodovias, quatro empresas, duas rodovias, e 16 concessões de energia.
Em 27 de setembro deste ano, foram leiloadas quatro usinas da energia da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), a saber: São Simão, Miranda, Jaguara e Volta Grande.
Recuperação pífia
Desdobrando a sequência alguns dados gerais do PIB, incluindo os de divulgados na sexta-feira passada, registram-se:
a) 1,3% no 1º trimestre: puxado pelo setor agrícola;
b) 0,6% no 2º trimestre: empurrado pela liberação dos recursos de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a queda da inflação, que aumentou a renda real (relativa) da população.
c) 0,1% no 3º trimestre: cujo consumo cresceu 1,2%, note-se, também às custas de novo endividamento das famílias (crédito), e aliado a uma fração restante das contas inativas. Houve, segundo o IBGE, uma alta de 1,6% nos investimentos, o único fator substantivo para uma futura retomada da economia, entretanto um crescimento evidentemente pífio diante da queda histórica que veio a se verificar na taxa de investimentos.
Noutras palavras, o problema crucial é a queda violenta queda na taxa de investimentos, a variável mais importante para o crescimento econômico.
Segundo pesquisas do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, 18/10/2017):
1) os investimentos (dos primeiros três meses de 2014 ao segundo trimestre de 2017), setor mais afetado da recessão profunda, encolheram 29% e deve ser o último dos componentes do PIB a recuperar as perdas, o que deve ocorrer somente a partir de 2024. 2) O consumo das famílias, responsável por cerca de dois terços do resultado geral do PIB pela ótica da demanda, encolheu 7% e não deve reverter essa perda antes de 2019. 3) A indústria de transformação, que recuou 18% durante a recessão, só se recuperaria em 2021.
“A má notícia adicional” – afirma aquele importante documento do IEDI - é que: a) esse tempo de recuperação deve ser ainda mais longo, tendo em vista que essas projeções do Instituto foram feitas com base em taxas de crescimento de outros períodos pós-crise, na casa dos 5% ao ano; e, b) taxas que não se repetirão desta vez, dadas as peculiaridades e a profundidade da recessão atual.
Analisando esse quadro, do ponto de vista da indústria, Luciano Coutinho afirmou então que, “temos um processo de digestão da capacidade ociosa. Eu só vejo recuperação intensa de investimentos para depois de 2019. Isso dependerá de uma mudança política, de um novo governo, cujo perfil nós não sabemos qual será. Então há muita incerteza ainda no mapa."
Em outras considerações (03/11/2017), levantamento do IEDI, feito a pedido do jornal Diário do Comércio e Indústria, aponta que, entre os 24 ramos pesquisados pelo IBGE, apenas quatro (os segmentos de fabricação de móveis; informática, produtos eletrônicos e ópticos; de veículos automotores, reboques e carrocerias; e de produtos alimentícios) apresentam uma evolução positiva neste ano, trimestre contra trimestre anterior na série com ajuste.
Chantagem descarada do capital
Esse quadro levou – inclusive - ao neoliberal Armando Castelar a admitir a ficção dos festejos do “pibinho”: nesse ritmo, “levaremos anos para voltar ao patamar de atividade que tivemos no passado”. E reconhece, a seguir: “Se pensarmos em termos [do crescimento do PIB] per capita, a narrativa é ainda mais triste”. Defensor radical das “reformas”, Castelar define a situação atual como de boas notícias, “ mas em um contexto geral que continua tétrico” (“Recuperação avança, mas celebração deve ser breve”, Valor Econômico, 04/12/2017).
Na verdade, a divulgação pelo BC do resultado do PIB do 3º trimestre revela uma preocupante tendência do desempenho da economia brasileira. Pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), também informada esta semana, concluiu com uma “releitura da recessão”, que de 2014 a 2016 a contração do PIB no período foi de 8% e não de 8,6% conforme os indicadores originais do IBGE.
Uma queda brutal!
Quer dizer, qualquer análise que projete a retomada do crescimento econômico brasileiro tem necessariamente que partir de uma base anterior depressiva, donde se conclui por outro longo caminho que o Brasil precisa, urgentemente começar a trilhar.
E não vai adiantar a nova cantilena do mercado, de que agora é “a agenda política” que vai definir o tom do entusiasmo com 2018. Como vivenciamos, antes era o governo de Dilma Rousseff que precisava ser varrido, para a retomada do crescimento, assim como para a “chuva de investimentos”, que viria após o golpe.
O economista-chefe do banco Safra, o especulador Carlos Kawall é claro, em sua chantagem: as eleições presidenciais de 2018, são “o principal definidor do futuro do Brasil”, uma vez que, “não há apetite por grandes apostas, novos projetos de investimentos” (Valor Econômico, idem, p.A-6).
Diz ele ainda que a economia só melhora com “um cenário eleitoral favorável” - à burguesia e seus funcionários, por suposto.
Na ordem do dia enfrentar a cantilena ideológica ultraliberal destruidora da nação. E defender o Novo Projeto nacional de Desenvolvimento
*Artigo bastante ampliado do publicado em “Vermelho”, 1/11/2017
NOTAS
[1] Em:https://oglobo.globo.com/economia/com-crise-desigualdade-no-pais-aumenta-pela-primeira-vez-em-22-anos-21061992#ixzz50JVFlmS6]
[2] Divulgado neste 4 de dezembro, o percentual de famílias endividadas alcançou 62,2% em novembro de 2017, com aumento de 0,4 ponto percentual na comparação com outubro, sendo o quinto mês seguido de altas no indicador, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A Peic aponta ainda um recuo no percentual de famílias inadimplentes.
* Médico, doutorando em Economia Social e do Trabalho (Unicamp), membro do Comitê Central do PCdoB
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