sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O CASAMENTO TEM UM PREÇO



PEÇA TEATRAL PARA O FIPP (FESTIVAL DE INTERPRETAÇÃO DE PROSA E POESIA) 2016

Autoria: Professor Dedé Rodrigues


Título da Peça: O Casamento tem um preço.



Inspirado no filme O casamento de Gorete a pedido do aluno Alex do 4º Normal Médio. 

Em tempos de intolerância, preconceito, homofobia, pai matando filho, homossexuais sendo assassinados pelo Brasil afora, a escola pode ser um espaço de reflexão e de combate a todo tipo de intolerância, inclusive contra a lei da mordaça. Não construiremos uma democracia no Brasil sem liberdade de ensinar na escola e o respeito ao outro, seja qual for a sua opção política, esportiva, religiosa, sexual etc. Mesmo tendo pouco tempo para o ensaio quero agradecer a gestão da Escola Arnaldo Alves Cavalcanti pelo espaço cedido e, principalmente aos alunos do 3º Ensino Médio B  pelo esforço muito grande com um tempo muito curto para ensaiar, mas a peça com o título,   O Casamento Tem um Preço,  procurou  deixar uma  mensagem para os presentes, cuja peça transcrevo-a na íntegra para a leitura dos que gostam de democracia, poesia e cultura.




Responsabilidade por todo trabalho da peça: Cenário, ensaios, atores etc.

3º EM - B



PRIMEIRO ATO. 



Personagens: Casal jovem homossexual: Patrick e Júnior -  Pai - Coronel Tributino. Dois homossexuais. Ana e Valéria. ( Narradora - contadora da história) 

Sugestão. 

Cenário: Quarto de uma casa: Pai pega o casal de meninos se abraçando.   

Narradora:



Era uma vez dois meninos

Ainda na adolescência

Que se sentiam atraídos,

Na mais santa inocência.

Mas o pai conservador

Era um forte opositor

Sem  nenhuma complacência.



Certo dia o pai chegou

Com raiva e aperreado

E se deparou com os dois,

Bem juntinho e  agarrado

Com um chicote na mão

E brabo que só o cão

Foi bater no namorado.



Disse o Cel. Tributino:



Tome jeito cabra da peste

Pode largar desse imundo!



Se volta para o filho e diz:



 Vá embora dessa casa

A sua casa é o mundo

Deixe de ser depravado

Você está renegado

Suma daqui vagabundo. 



O Cel sai de cena e Patrick sai para o outro lado da sala como se fosse fora da casa. Ele fica sozinho e muito triste sentado em um banco.



Música do filme: Olhos tristes. 

Nesse momento aparece os dois homossexuais: Ana  e Valéria. (Também acompanhados de garotas)

Ana  vem agarrada em  Valéria que reage:



Me larga bicha safada!

Tu parece um carrapato.

Por que não procura um macho

E vai pra dentro do mato?

Vai procurar quem te quer

Eu não gosto de mulher

Eu gosto  mesmo é d’um gato.



Valéria ver o jovem triste e diz:



Ô Ana! olha um menino!

Veja como ele é lindinho!

Está chorando! que pena!

Vou falar com o coitadinho:

O que foi que aconteceu?

Por que você tá tristinho?



Patrick responde:



Eu fui expulso de casa

E agora eu tô Sozinho.



Ana pergunta:



Por que você expulso

Pra está nessa aflição?



Patrick responde:



Meu pecado foi amar

Entregar meu coração

A um jovem como eu...

Que tinha muita paixão.  

Meu pai separou a gente...

De amor eu tô doente...

Vou morrer de solidão.



Ana diz:



Fique tranquilo querido

Vamos lhe dar atenção.

Levá-lo pra nossa casa

Dar uma boa educação.

Todo mundo tem direito

A ter carinho e respeito,

Amor, lar  e proteção.

  

Música olhos tristes de novo. 

Saem os três abraçadas.



FIM DO PRIMEIRO ATO.



INÍCIO DO 2º ATO

Personagens:

Cel Tributno e Chico -  o assistente dele.



Narradora:



O tempo cobra a fatura

Do mal que foi praticado

A um parente querido

Que um dia foi humilhado.

Aquilo que a gente faz

Não se esquece jamais!

Um dia será cobrado. 



Narradora:



Com muito tempo depois

O velho ficou doente

Deitado em cima da cama

Chamou o seu assistente:



Coronel Tributino diz:



Ô Chico vá procurar

Patrick e traga ele cá!

Quero vê-lo novamente.



Já estou perto da morte!

Vá correndo, bem ligeiro!

Vá procurar por meu filho

Por esse país inteiro.

Eu quero ter a certeza

Que toda minha riqueza

Não será de aventureiro.



Narradora:



Depois de muita procura

Patrick foi encontrado

Tornou-se uma linda moça

Depois que foi operado.

Até seu nome mudou

E o cartório alterou

O nome de batizado.



Narradora:



Entra agora Patrícia, Ana e Valéria



Quando entrou naquela sala

O pai ficou assustado

Com aquela metamorfose

Que o filho foi transformado.



Cel Tributino fala se dirigindo a Chico:



O que foi que aconteceu

Meu zóio tá enganado

Isso aí é três mulé

Ô é três home safado?



Chico responde:



O seu filho coroné

agora virou  mulé!

Está todo transformado.



O Cel diz:



Eu bem que desconfiava

Que pra home ele não dava

Só brincava com boneca

Lavava a roupa e passava

Cozinhava o feijão

Pintava os dedo da mão...

Sempre foi afeminado.



Bate na cama ou na mesa e diz:



Quero um macho pra cuidar

Da minha terra e do milho,

Pois a mãe dele morreu

Sem nunca me dar um filho.

Mas eu quero um macho forte

Que tenha um grande porte...

Um verdadeiro caudilho.



Ana fala se dirigindo ao coronel:



Meu Deus, que homem machista!

E cheio de preconceito!

A sua herdeira é Patrícia,

É ela que tem direito!



O Cel responde:



Patrícia?  que diabo é isso

Que tu trouxesse contigo?

Isso é um bicho do mato

Que tá procurando abrigo?



Amélia responde:



Que homem mais sem pudor!

Me respeita aí vovô

Não quero papo contigo!



O cel. Diz:



Vem cá Chico, me responda:

Isso é mulé ou home?

Que diabo de bicho é esse!

Que parece um lobisomem?



Valéria reage ao Cel.



Eita quanta homofobia!

Regada de preconceito!

Parece com o Bolsonaro

Que não respeita o direito...

Pobre também tem valor

Respeite a gente vovô

Para poder ter respeito.



Cel Tributino



Vamos parar de conversa

Pois eu preciso pensar...



(pausa) Caminha mesmo com dificuldade de um lado para o outro da sala.



Como fica a minha herança

Pra quem é que eu vou deixar?



 Para um pouco, pensa e diz:



Já decidi seu destino

Vou casá-la com um granfino

Para poder partilhar...



Só  posso deixar  herança

Nas mãos d!um  macho bem forte

Que saiba administrar

A terra e o gado de corte.

E Já q’eu não tenho um filho

Só tem uma solução

Avisem pra todo mundo

Que vai ter competição.

Passei a régua e o traço

Vai ser na queda de braço

A disputa do quinhão. 



Quando parou de falar

Tribuntino estremeceu...

Caiu em cima da cama

Na mesma cama morreu.

para que tanta riqueza

Explorada da pobreza

Depois quele faleceu?



Fim do 2º ATO



Narradora.



A notícia se espalhou

por este Sertão a fora

Muitos jovens disputaram,

Quem perdia tava fora.

Na seleção desse porte

Ficou dois caras bem fortes 

Que vocês vão ver agora.



Personagens: Juiz – (dois jovens fortes) Eduardo e Marcelo. Uma mesa para a queda de braço. Patrícia triste sentada de um lado da sala de competição.



Narradora:



O juiz bateu o pé

e atirou para cima.

Começou o rapapé

Do destino da menina.



Narradora:



Vejam que a queda de braço

Está bem equilibrada...

Cada um puxa p’rum lado

Pra resolver a parada.

Quem será o garotão

Que vai ganhar o quinhão

E ficar com a prendada?



Depois de um certo tempo da queda de braço..



Narradora diz:



Já temos um vencedor

Que vai casar com a princesa

Mas ela não tá feliz

Está cheia de tristeza.

Pois ela nunca esqueceu

O jovem que conheceu

Que vivia na pobreza.



Narradora



Mesmo tendo um vencedor

Preparado pra casar

Ela pouco se lixava

Para ter um novo lar.

O seu amor de criança

Que estava na lembrança

Nunca deixou de amar. 



Música Olhos triste



Fim do 3º ato.



Inicio do 4º ato.



Cena de casamento com música e tudo.



Personagens: O padre – o casal Patrícia e Eduardo – Ana e Valéria – mulheres de programa - todos felizes .



Narradora: (música de casamento)

Casal entra em cena pela entrada do Auditório. 



Enfim chegou o casório

E o padre deu a bênção.

Ela triste, ele alegre

São coisas do coração!

Depois de abençoados

Saem os dois abraçados:

Ele feliz! Ela não!



Em seguida ela se separa dele que fica triste em um canto da sala.

Tem início a festa do casório com novos personagens: Entra em cena todos para a festa.



Música a gosto.



Ana se aproxima de Patrícia e diz:



Menina! o teu  gatão!

É o mais lindo da cidade,

Forte, robusto e rico!

Menina por caridade!

Deixa de lado a tristeza

E agarra essa beleza

Pra tua felicidade.



Patrícia responde:



Como posso minha amiga

Se sinto grande paixão

Por meu amor da infância

Que ganhou meu coração?



Valéria diz:



Menina se fosse eu

Agarrava esse gatão

Lhe dava um beijo na boca

Jogava ele no colchão.

E fazia um escarcéu

Na  minha lua de mel

Que parecia um vulcão.



Eduardo fala pela primeira vez:



Dá licença minha gente

Posso dar uma opinião?



Patrícia responde brava com ele:



Nada do que você diga

Vai mudar meu coração.



Ana intervém:



Calma Patrícia, tem calma!

Vamos ouvir o gatão!



Eduardo continua:



Eu também já fui bem pobre

Passei fome nesse chão

Sem morada, sem trabalho

Vivia na privação.

Até que um governante

Se lembrou desse Sertão.   



Se dirige a Patrícia e diz:



Não me casei com você

Pensando em sua riqueza,

Pois eu não preciso dela

Digo isto com franqueza.

Toda parte que me cabe

Eu vou doar a pobreza.



Eu também tive um amor

Quando era bem criança

Passei minha vida inteira

Sem tirá-lo da lembrança.

Essa música que eu tocava

Com ele eu  sempre sonhava

Pra manter a esperança.



Se desloca para o som e liga a música: Olhos tristes.



Patricia surpresa diz:



Será meu Deus que é um sonho?

Ou será uma visão?

Vem Ana, vem aqui Valéria!

Vem me dar um beliscão!

Esse cara é  Eduardo,

Meu amor, minha paixão?



Eduardo Responde:



Sou eu mesmo meu amor

O homem da sua vida

Aquele que foi expulso

Com você minha querida.



Patricia se solta das mãos de Ana e Valéria e corre para os braços de Eduardo.

Ana e Valéria ficam pulando ou vibrando de alegria. Todos na sala vibram com o final feliz.

FECHA O PANO COM UM FORTE ABRAÇO (Fim)  

                            



Depois abre-se  em seguida o pano para a despedida de todos. De braços dados saúdam o público. Fecha o pano.      





































































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