B. Pedersen
A chanceler alemã, Angela Merkel, colheu uma vitória amarga nas eleições legislativas realizadas no último domingo, 24. A coligação que encabeçou (CDU e CSU) obteve apenas 32,9% dos votos, recuando 8,6% em relação ao pleito anterior. Ela terá dificuldades para compor um novo gabinete, uma vez que os sociais-democratas do SPD (com outro resultado magro, de 20,5%) decidiram abandonar o barco do governo, que já está fazendo água, e engrossar as fileiras da oposição
Por Umberto Martins*
A novidade ficou por conta da extrema direita, que pela primeira vez deste a derrota do nazismo em 1945 será representada no Parlamento. Seu partido, intitulado Alternativa para a Alemanha (AfD), ficou com mais de 12,6% dos votos válidos. A legenda de esquerda Die Linke conquistou cerca de 9%.
Um bom exemplo de austeridade
A Alemanha vinha sendo apresentada ao mundo pela mídia burguesa e os arautos do neoliberalismo como um exemplo bem-sucedido de austeridade e uma âncora de estabilidade na Europa. O velho continente está profundamente perturbado pela crise econômica e ameaças de secessão no interior da União Europeia (que já perdeu a Inglaterra) e entre seus próprios membros, como sugere o conflito com a Catalunha na Espanha. A Alemanha não é uma ilha de prosperidade no oceano de crises em que a UE se transformou.
O espectro do neonazismo não preocupa apenas homens e mulheres progressistas da nação que há pouco mais de um século foi dominada por Hitler e cometeu crimes inomináveis contra a humanidade. O avanço da extrema direita é uma tragédia que se abate sobre toda a Europa e abarca igualmente outras localidades do planeta. Donald Trump é uma prova viva de que a América não está à margem desta onda.
No Brasil, as intenções de voto para presidente em Bolsonaro podem ser vistas como parte da mesma tendência reacionária. Não se trata de acontecimento isolado. Conforme nos ensina a dialética, os fenômenos (naturais ou sociais) estão sempre entrelaçados, embora os laços e conexões mútuas que os unem nem sempre sejam aparentes ou apreensíveis à primeira vista. Bolsonaro não é filho apenas do golpe de 2016, é antes fruto da conturbada época histórica que vivemos.
O ovo da serpente
O pano de fundo de tudo isto é a crise do sistema capitalista e da ordem imperialista fundada em Bretton Woods após a Segunda Guerra Mundial com base na hegemonia econômica, política, ideológica e militar dos EUA. Esta ordem simplesmente caducou em função do declínio do poderio econômico relativo dos EUA e do chamado Ocidente no mundo e da ascensão da China e do Oriente.
A crise do capitalismo neoliberal no plano econômico também é patente. Os dados sobre a evolução dos PIBs ao longo dos últimos 10 anos não indicam recuperação. Prevalece um quadro de estagnação e instabilidade. O desfecho dessas duas crises em curso (da economia e da geopolítica, que também estão profundamente entrelaçadas) não é nem poderia ser pré-determinado.
É sempre bom lembrar que Hitler e o nazismo foram produtos de um tempo igualmente crítico, com o povo alemão dupla e duramente castigado pelos efeitos do draconiano Tratado de Versalhes e da Grande Depressão iniciada em 1929 nos EUA. Hoje, o ovo da serpente se agita em ambiente parecido e a grande tragédia é que as forças progressistas ainda parecem impotentes para apresentar uma alternativa de esquerda à crise capaz de ganhar o coração e as mentes das amplas massas.
É uma carência sensível no Brasil e em todo o mundo, um sinal da crise do marxismo e dos partidos e organizações ligados à classe trabalhadora. O capitalismo está em crise, quem sabe moribundo, mas seu potencial coveiro anda adormecido, entorpecido pela máquina de propaganda neoliberal. Será preciso despertá-lo para que o dilema entre barbárie e socialismo, recolocado de forma renovada, seja resolvido de forma favorável à humanidade.
* jornalista e assessor político da CTB
Fonte: CTB
Fonte: CTB
Nenhum comentário:
Postar um comentário