O racha dos verdes
Alijada da direção nacional do PV, Marina Silva declara guerra ao presidente da sigla e começa a articular a criação de um partido para chamar de seu
02 de Abril de 2011 às 09:11
Hugo Marques
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FRUSTRAÇÃO Marina esperava ter espaço para reformular o PV
Há 15 dias, a Executiva Nacional do Partido Verde decidiu adiar por um ano qualquer discussão sobre mudanças internas. Sepultou, de vez, as perspectivas de renovação da cúpula da legenda, defendida pelo grupo de ex-senadora Marina Silva e levou a ex-senadora a comentar com correligionários que já pensa em deixar a sigla. Antes disso, no entanto, ela e seu grupo decidiram entrar em confronto direto com a atual Executiva Nacional do partido. Sem espaço para realizar a tão prometida refundação, os aliados de Marina declararam guerra ao deputado José Luiz Penna (SP), há 12 anos no comando do PV. Um dos políticos mais afinados com a ex-senadora, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) diz que o grupo de Penna é fechado e protegido por uma burocracia que tem por objetivo a preservação de seus cargos. “O adiamento foi uma manobra oportunista, visando à presidência vitalícia, o que vai contra o ideário do partido inteiro”, critica Sirkis.
Marina tem se mantido relativamente longe da polêmica, mas silenciosamente prepara seu desembarque da breve aventura verde que a levou a conquistar 20 milhões de votos como candidata à Presidência da República. A exemplo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, Marina estuda a possibilidade de criar um partido para chamar de seu. A ex-parlamentar já começou a fazer consultas informais com aliados políticos e especialistas em direito eleitoral sobre a possibilidade de construção de uma nova sigla. Apesar de ainda não ter um plano de voo claro, Marina já teria decidido o nome da legenda que gostaria de criar: Partido da Sustentabilidade.
O movimento ainda é muito embrionário, mas mostra que o clima no PV azedou de vez. No mais recente encontro, que decidiu postergar qualquer mudança na estrutura partidária, Penna convocou seus correligionários para uma “reunião circunstancial” e ninguém do grupo da senadora foi avisado de que haveria uma votação. O presidente do PV considerou sua atitude legítima: “Eles entraram agora no ônibus e já querem ir para a janela”, comentou Penna em conversa com filiados do PV. Marina deu o troco: “Há um grupo no PV que tratou de se encastelar em suas posições e não quer largar o poder.” O plano da ex-senadora e principal nome do PV para futuras eleições era colocar na presidência do partido o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier, alinhado com o PSB do governador Eduardo Campos.
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“Eles entraram agora no ônibus e já querem ir para a janela” José Luiz Penna, deputado e presidente do PV
Avesso às mudanças, José Luiz Penna tem dito a outros parlamentares do PV que não vai bater boca em público. Considera que há temas mais importantes para resolver. A ex-senadora, no entanto, tenta forçar um debate fora das salas fechadas da Executiva Nacional, rumo ao que ela chama de modernização do partido. Em seu site oficial, Marina publicou uma carta lamentando a posição da cúpula da legenda. Para ela, deixar de lado a renovação política do PV é acabar com a moral dos “verdes” para falar em ética e sonhos.
Do outro lado da trincheira, Penna não está sozinho. Para garantir sua cadeira na presidência do PV, ele tem o apoio do deputado Sarney Filho (PV-MA). Durante a campanha eleitoral, Sarney evitou pedir votos para Marina nos palanques que ele dividiu com a irmã, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que apoiou na campanha a presidente Dilma Rousseff. Sem saber quem, ao fim e ao cabo, vai vencer essa queda de braço, outros setores do partido preferem ficar o mais longe possível do tiroteio. Não militam nem de um lado nem do outro. Optaram pelo caminho da neutralidade, por exemplo, os candidatos do PV que perderam as eleições e, portanto, saíram do pleito fragilizados. Candidato derrotado ao governo do Rio de Janeiro, o ex-deputado Fernando Gabeira revela descontentamento com a decisão da legenda contrária à renovação interna, mas prefere não polemizar. “Adiaram o prazo da convenção do partido. Queríamos fazer a convenção agora. Estamos tentando fazer de tudo para que se chegue a um entendimento”, disse Gabeira, sem a paixão que marcou os tempos de fundação do PV.
Enviado por Sandro Ferreira - PV - Tabira.
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