"Eduardo comunicou a criação da pasta do Meio Ambiente e que havia convidado ninguém menos do que Sérgio Xavier para ocupá-la (...) Eu próprio o apoiei"
27 de Março de 2011 às 08:19
Clóvis Cavalcanti Economista ecológico e pesquisador social
Perto da eleição majoritária de 2006, encontrei-me casualmente na UFPE com Edílson Silva, candidato a governador do estado pelo Psol (votei nele e em Heloísa Helena para presidente no primeiro turno). Aproveitei para puxar conversa sobre sua plataforma eleitoral (ele não me conhecia; nunca mais nos falamos). Fiz sugestões na direção da promoção do desenvolvimento sustentável e proteção ao meio ambiente. Ele me contestou, declarando: ´Não somos um partido ambientalista`. No pleito de 2010, sua posição havia mudado, incorporando propostas do ambientalismo. Uma evolução sensata. Elogiável. Na campanha passada, em debate na TV, dirigindo-se ao candidato do Partido Verde - o meu -, Sérgio Xavier, indicou: ´Você será meu secretário de Meio Ambiente`. Pernambuco sequer possuía espaço, então, no secretariado, para o tratamento das questões cruciais para a vida e o bem-estar humano relacionadas à ecologia. Edílson sinalizava positivamente nesse sentido. Presente ao debate, o governador Eduardo Campos não deve ter feito ouvidos de mercador ao problema. Depois de ignorar solenemente o meio ambiente nos seus quatro primeiros anos de governador, terminou cedendo à evidência de que não se pode fazer política pública sem considerar as sérias e, muitas vezes, incontornáveis restrições ecológicas.
Imagino que foi nesse panorama que, ao anunciar seus secretários para o período 2011-2015, Eduardo comunicou a criação da pasta do Meio Ambiente e que havia convidado ninguém menos do que Sérgio Xavier para ocupá-la. Este último encontrava-se de férias com a família em Nova York. Foi apanhado de surpresa. Não aceitou de imediato o convite. Antes consultou quem pôde no PV (fui um dos contemplados por essa iniciativa louvável) para saber se convinha responder positivamente ao governador. Muitas pessoas fizeram restrições, mas a tendência foi para que Sérgio aceitasse. Eu próprio o apoiei, apesar de todo meu mal-estar quanto à direção anti-ambientalista da política de desenvolvimento de Pernambuco nos últimos 50 anos. Quando Miguel Arraes foi eleito em 1986, tive com ele uma conversa (Arraes uma vez foi me visitar no meu gabinete na Fundação Joaquim Nabuco, sem anunciar-se, juntamente com seu genro e meu amigo Maximiano Campos, tio de Eduardo). Defendi ardorosamente uma atitude de conciliação do progresso com o respeito ao meio ambiente. Propus, inclusive, por escrito, uma completa revisão do projeto de Suape. Arraes não efetivou um convite que insinuara para eu colaborar com seu governo.
Tenho todos os motivos, portanto, para desconfiar da aproximação de Eduardo do ambientalismo. Mas prefiro dar-lhe o benefício da dúvida. Assim como Edílson Silva assimilou a perspectiva ambientalista, o governador pode ter amadurecido uma visão de mundo menos dominada pela estupidez do economismo. De qualquer forma, o PV não pode se negar a influir na formulação de políticas públicas em qualquer nível. Sem abdicar de seus princípios básicos.
Clóvis Cavalcanti Economista ecológico e pesquisador social
clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
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