sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Deputados comunistas repudiam discriminação contra nordestinos na web

 

 

 Postagens ofensivas serão investigadas pela Polícia Federal. Bancada do PCdoB na Câmara defende punição rigorosa para internautas que cometeram o crime.

Basta pesquisar a hashtag nordestinos nas redes sociais para encontrar inúmeras mensagens preconceituosas contra a população da região. A onda de discriminação virtual se intensificou durante a disputa do segundo turno da eleição presidencial deste ano e chegou ao ápice após o resultado do pleito que confirmou a reeleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. Os atos, no entanto, não devem ficar impunes. A Polícia Federal (PF) começará a investigar esses perfis nas redes sociais a partir desta semana.


A abertura de inquérito foi pedida pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coelho, com base na Lei de Racismo, que também considera crime a discriminação por procedência nacional. Desde 1989, o Brasil criminaliza e pune este tipo de ato.

A Bancada do PCdoB na Câmara repudiou as ações dos internautas que postaram as ofensas e espera que eles, de fato, sejam punidos. De acordo com o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), existem provas suficientes para identificar os envolvidos. “Não podemos tolerar crimes como estes, principalmente para que a sensação de impunidade não prevaleça e aqueles que cometem esse tipo de crime não se sintam livres e estimulados para promover outros tipos de discriminação, de intolerância”, afirma.

O fato, no entanto, não é novidade no Brasil. Nas eleições de 2010, episódios semelhantes de preconceito contra a população do nordeste aconteceram. Na ocasião, em meio a várias mensagens preconceituosas, uma estudante de direito publicou uma mensagem no Twitter dizendo: “Nordestisno (sic) não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”.

A estudante perdeu o estágio e foi condenada pela Justiça Federal paulista pelo crime de discriminação. Condenada a 1 ano, 5 meses e 15 dias de prisão, ela teve a pena convertida em prestação de serviço comunitário e pagamento de multa.

“Vimos essa falta de respeito na última eleição e isso se repete agora. Essa é a feição clara de uma nova direita, que olha com olhos de punhais para a democracia e para as vitórias do povo brasileiro”, reforça a deputada baiana Alice Portugal.

Neste ano, uma das mensagens mais fortes foi postada no Facebook pelo perfil com o nome de Regina Zouki Pimenta. O texto dizia: “Bando de filhos da p... que destruíram nosso país e a economia por migalhas! Desejo que sejam tomados pela desnutrição, que seus bebês nasçam acéfalos, que suas crianças tenham doenças que os médicos cubanos não consigam tratar, que o Ebola chegue ao Brasil pelo Nordeste e que mate a todos!”, afirmava o post. O perfil já foi retirado do ar.

Para o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), o grande problema “é que o país melhorou”. “As pessoas não aceitam que a vida do povo do Nordeste tenha melhorado. Temos simpatia por aqueles que melhoraram a vida do nosso povo, mas temos que lembrar que Dilma não ganhou só no Nordeste. Ganhou em Minas Gerais e no Rio de Janeiro também”, lembra.

As mensagens, de acordo com a ONG Safernet – entidade que monitora violações de direitos humanos na web –, são enviadas principalmente por moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, que atribuem a vitória de Dilma Rousseff aos moradores do Norte e Nordeste.

“A gente não pode assistir a atitudes antidemocráticas como estas, colocando os nordestinos como analfabetos, ignorantes porque votaram na Dilma, como se os moradores de outras regiões não tivessem dado um voto à presidenta. Precisamos identificar essas pessoas, e, assim como fizemos com os torcedores do Grêmio, punir esses internautas racistas”, reforça o deputado João Ananias (PCdoB-CE), ao lembrar o caso do goleiro do Santos, Aranha, que foi xingado de ‘macaco’ e ‘negro fedido’ por torcedores do time gaúcho durante partida em Porto Alegre (RS) em agosto deste ano.

O deputado Osmar Júnior (PCdoB-PI) lembra ainda que o uso de perfis falsos para este tipo de fim torna a prática ainda mais “inaceitável”. “Quando se utiliza desse tipo de subterfúgio para perpetrar uma ação fica ainda mais clara a intenção dessas pessoas. Isso não pode ficar impune.”

Preconceito na mídia

Além de perfis pessoais, a grande mídia também reforçou o preconceito. O jornalista Diogo Mainardi, da Globonews, no programa que foi ao ar depois de ser anunciado o resultado das eleições, disse que a população da região é “bovina” e chegou a desqualificá-la com alcunhas como “retrógrado”, “subalterno e “pouco educado”. No último domingo (2), o comentarista de política se retratou e disse que queria se referir, no calor das declarações, ao apoio maciço da população da região à Dilma.

Descontente com a declaração, a deputada pernambucana Luciana Santos, vai entrar com uma representação contra o jornalista na Procuradoria Geral da República (PGR). Segundo a deputada, o que se viu nas redes sociais também foi estimulado pela imprensa. “Articulistas de peso, como é o caso de Diogo Mainardi, difundiram repetidamente o preconceito, a intolerância. Nós temos que reagir à altura”, diz.

A deputada deve ir à PGR para dar entrada à representação contra o jornalista.

Fonte: Blog Liderança do PCdoB

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