domingo, 30 de novembro de 2014

Karina Buhr: As mulheres abortam


Uma coisa curiosa nas discussões sobre aborto é o fato de muitos homens maravilhosos e que estão junto, somando forças, querendo a descriminalização e lutando por ela e pelos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres usando variantes da frase “para todas as mulheres o aborto é um procedimento traumático, doloroso, difícil…”.
Não, nem sempre! Não, não mesmo!

Por Karina Buhr*, na Carta Capital


Reprodução
"E você sendo contra ou a favor as mulheres fazem! Talvez sua mãe já tenha feito escondido""E você sendo contra ou a favor as mulheres fazem! Talvez sua mãe já tenha feito escondido"
Se feito do jeito seguro, no tempo certo, por vontade própria, pode sim não ser nem traumático, nem doloroso, nem difícil.

Esse trauma todo é justamente pela maneira como ele é tratado e incutido na cabeça de todo mundo.

Um aglomerado de células não é um bebê, logo essa dor toda aí só existe se a mulher faz na ilegalidade, em condições terríveis, ou se for obrigada a fazer. O que cria qualquer tipo de terror é a proibição, é a mulher se sentir abandonada pela lei, se sentir uma criminosa, ter risco de vida ou de ir presa, ou pagar grana que não tem pro médico ou como punição pelo “crime”.

Se ela quer fazer, no tempo certo e dão a ela o direito, as condições e o apoio não tem trauma nenhum não!

Qualquer desespero é justamente por toda essa aura de terror que é criada em torno desse assunto.

Conheço muita gente que fez e as que têm trauma são traumas em relação ao namorado (que não apoiou, não estava do lado, ligou o foda-se, ou insistiu muito para ela fazer e foi fazer meio na dúvida) e as que não tinham grana para fazer e tiveram que ir num açougue, escondidas, sem falar pra ninguém, comprando remédio com um traficante.

Sobre “ser a última opção” para as mulheres, isso é meio óbvio, né? Que coisa!

Alguém consegue mesmo imaginar que alguma mulher queira ficar se submetendo a aborto toda hora? Nem no dentista ninguém quer ir toda hora…

Enfim, o que importa é: o corpo é nosso, a gente que vai carregar na barriga 9 meses e a vida toda depois, é uma escolha muito séria, que só a gente que deve resolver, cada uma o seu caso.

Você é contra? Não faça!

Seu deus não quer? O da sua vizinha também não e ela fez mesmo assim, talvez sua irmã, sua prima, sua filha. E aquela sua amiga que não acredita em deus pode também cuidar do corpo dela por conta própria.

É um direito de toda mulher.

E quem tá morrendo é quem não tem dinheiro.

Pobres, maioria negras, de novo e sempre.

Ponto.

Simples e horrendo.

‪#‎PrecisamosFalarSobreAborto‬


Karina Buhr é cantora, mantém o blog Pane no Pântano na Carta Capital

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