O crescimento histórico do fascismo não se deu sem a cumplicidade passiva, primeiro, ativa depois, das autoridades legalmente constituídas. O fascismo começou assim: pequenos grupos ridicularizados e sem visibilidade eleitoral.
Por Lincoln Secco*, na Carta Maior
Imagem: Arquivo/CartaMaior
O crescimento histórico do fascismo não se deu sem a cumplicidade passiva, primeiro, ativa depois, das autoridades legalmente constituídas. Afinal, tanto na Itália quanto na Alemanha os fascistas só romperam a legalidade depois e não antes de chegar ao poder.
No Brasil, o recrudescimento da ideologia antipetista e a degenerescência das jornadas de junho deram a uma direita militante o ar da novidade. Mas assim como o anticomunismo no passado, o antipetismo não é um fenômeno contrário a um partido. O antipetismo já existia nos anos 1980 e as suas motivações profundas são as mesmas: o medo que os pobres chutem a escada ou que subam alguns degraus e se aproxime de você. (Negrito nosso)
O primeiro receio foi típico dos anos 1980 e o segundo é um resultado das políticas sociais de Lula.
A ideologia “anti” jamais é pacífica porque carrega sentimentos irracionais que o sistema legal não pode incorporar. Por isso, os fascistas sempre vivem numa legalidade paralela, manipulando racionalmente o irracionalismo de suas milícias.
Para liberais conservadores trata-se de um problema crucial. Seu modo de governo se baseia na apatia das massas e não em sua militância. Mas quando o partido de esquerda solapa este consenso e mobiliza seu exército, eles se veem nos braços dos fascistas.
É assim que assistimos à atual recusa dos tucanos em relação aos seus apoiadores mais entusiasmados. FHC e seus amigos passaram a vida toda querendo ser carregados nos braços do povo e quando isso se torna realidade, eles voltam para casa. É assim que em dois dias assistimos a autoridades do PSDB se desvencilhando da campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef.
Isso acontece devido ao elitismo de sua visão de democracia que não tolera massas, sejam de esquerda ou de direita. Mas sua recusa, num dado momento, se torna meramente ritual.
O governador paulista, por exemplo, disse que a defesa da Ditadura era algo “inaceitável”. Então por que aceita? Afinal, ao contrário das manifestações de movimentos sociais de esquerda nós não vimos repressão policial ou prisão de manifestantes.
Os que defendem a Ditadura violam a Constituição (ou alguém imagina alemães em Berlim defendendo hoje o 3º Reich?). O parlamentar que foi armado a um ato público descumpriu o artigo 5, inciso 16 da Constituição). Mas os “terríveis” black blocs com suas garrafas de água são processados...
Você sabe o que vai acontecer? Nada. Salvo quando são do PT, políticos não podem ir para a prisão. Salvo quando são manifestantes de esquerda ou são da oposição num país distante, digamos a Venezuela, a imprensa jamais pede que a polícia use a violência “desproporcional”. E quando se trata de manifestantes populares, a própria esquerda se encarrega de prendê-los pra mostrar seu compromisso republicano. Este é o mesmo compromisso que manteve impunes os criminosos da Ditadura e é só por isso que hoje seus apoiadores voltam às ruas.
*Historiador, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).
No Brasil, o recrudescimento da ideologia antipetista e a degenerescência das jornadas de junho deram a uma direita militante o ar da novidade. Mas assim como o anticomunismo no passado, o antipetismo não é um fenômeno contrário a um partido. O antipetismo já existia nos anos 1980 e as suas motivações profundas são as mesmas: o medo que os pobres chutem a escada ou que subam alguns degraus e se aproxime de você. (Negrito nosso)
O primeiro receio foi típico dos anos 1980 e o segundo é um resultado das políticas sociais de Lula.
A ideologia “anti” jamais é pacífica porque carrega sentimentos irracionais que o sistema legal não pode incorporar. Por isso, os fascistas sempre vivem numa legalidade paralela, manipulando racionalmente o irracionalismo de suas milícias.
Para liberais conservadores trata-se de um problema crucial. Seu modo de governo se baseia na apatia das massas e não em sua militância. Mas quando o partido de esquerda solapa este consenso e mobiliza seu exército, eles se veem nos braços dos fascistas.
É assim que assistimos à atual recusa dos tucanos em relação aos seus apoiadores mais entusiasmados. FHC e seus amigos passaram a vida toda querendo ser carregados nos braços do povo e quando isso se torna realidade, eles voltam para casa. É assim que em dois dias assistimos a autoridades do PSDB se desvencilhando da campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef.
Isso acontece devido ao elitismo de sua visão de democracia que não tolera massas, sejam de esquerda ou de direita. Mas sua recusa, num dado momento, se torna meramente ritual.
O governador paulista, por exemplo, disse que a defesa da Ditadura era algo “inaceitável”. Então por que aceita? Afinal, ao contrário das manifestações de movimentos sociais de esquerda nós não vimos repressão policial ou prisão de manifestantes.
Os que defendem a Ditadura violam a Constituição (ou alguém imagina alemães em Berlim defendendo hoje o 3º Reich?). O parlamentar que foi armado a um ato público descumpriu o artigo 5, inciso 16 da Constituição). Mas os “terríveis” black blocs com suas garrafas de água são processados...
Você sabe o que vai acontecer? Nada. Salvo quando são do PT, políticos não podem ir para a prisão. Salvo quando são manifestantes de esquerda ou são da oposição num país distante, digamos a Venezuela, a imprensa jamais pede que a polícia use a violência “desproporcional”. E quando se trata de manifestantes populares, a própria esquerda se encarrega de prendê-los pra mostrar seu compromisso republicano. Este é o mesmo compromisso que manteve impunes os criminosos da Ditadura e é só por isso que hoje seus apoiadores voltam às ruas.
*Historiador, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).
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