Mesmo tendo sido beneficiada por diversas políticas dos governos Dilma e Lula, uma parcela do empresariado está em campanha pelo impeachment. Políticas “estatizantes”, a perspectiva de uma guinada mais à esquerda na gestão petista e a tentativa de barrar o rentismo predatório, com a redução da Selic e do spread bancário, são algumas causas apontadas para a adesão de empresários ao golpismo. São os acertos do governo, e não os erros, que incomodam a Fiesp e seus comparsas.
Matéria publicada nesta sexta (15) peloValor Econômico, na qual são ouvidos empresários e analistas, de certa forma, reafirma essa tese. E, em grade medida, expõe que a crise atual está muito relacionada à reação conservadora a ações do governo que, aparentemente, feriram interesses do “mercado”.
Entre as atitudes da presidenta que teriam desencadeado a rebeldia do empresariado, o jornal cita, em primeiro lugar, a campanha pela redução do spread bancário e a tentativa de baixar a Selic.
Entre agosto de 2011 e outubro de 2012, a taxa básica de juros caiu 5,25 pontos percentuais. E os bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa, foram utilizados como instrumento de pressão para forçar uma redução na margem de lucro das instituições financeiras.
Centro irradiador de concentração de riqueza, o sistema financeiro e bancário – e aqueles que dele se utilizam - não gostou da medida. Afinal, quem lucra com rentismo e especulação não tem interesse em reduzir juros, mesmo que isso possa significar aquecer a economia.
Por sua vez, o próprio governo subestimou a força do vespeiro em que mexia e não mobilizou trabalhadores, sindicatos, a população em geral, que se beneficiava com tais ações.
Como bem ressaltou o economista Pedro Rossi, em entrevista ao Vermelho, irônico é que a redução da Selic tenha sido uma reivindicação da própria Fiesp, que hoje se coloca na linha de frente do golpe.
De acordo com o Valor, com a redução dos juros e também das tarifas de energia, “para uma parcela dos empresários, Dilma e sua equipe avançaram o sinal sobre regras básicas do capitalismo, dando um tom mais "estatizante" à condução da economia”.
"Os empresários se voltam contra o governo quando acaba o dinheiro. Isso não é ideológico. Eles mudam mesmo de lado quando acabam as benesses. Simples assim. A Dilma assinou o seu destino quando quis reduzir os juros e o spread bancário. Foi ali que começou. A indústria já estava sofrendo, mas é quando ela mexe com os bancos que a campanha contra ela começa", avalia uma empresária ouvida pelo jornal.
Um economista que fala ao periódico defende que o governo teria se deixado levar por uma visão de curto prazo, apelando para medidas que ele considera populistas. "Você pode baixar os juros quando as condições fiscais permitem", critica. Para outro especialista consultado pelo jornal, o PT alimentou a ilusão de que a indústria, que solicitava essas benesses, seria grata ao governo. “É um erro achar que, ao aceitar um benefício, o setor retribuirá com apoio político a quem o concedeu”.
O fato é que a gestão Dilma Rousseff fez várias sinalizações de apoio à indústria. Além do corte no preço da energia e da redução dos juros, estão entre estas medidas crédito subsidiado, redução do IPI, regras de conteúdo local, compras governamentais por preços superiores aos do exterior, desoneração da folha de pagamento e aumento das alíquotas de importação.
O fracasso no relacionamento com a indústria, então, pode suscitar várias explicações. Entre elas, tem grande peso a crise internacional, que impactou a economia não só do Brasil. Mas chama a atenção um outro motivo, listado peloValor. O jornal lembra que, hoje, a economia brasileira é muito mais globalizada, mais financeira, diversificada setorialmente e concentrada em grandes empresas e grupos.
“A indústria, que historicamente pediu redução dos juros, hoje tem parte de seu capital nas mãos do setor financeiro. Além disso, pondera um economista, o lucro financeiro é parte importante do resultado das empresas produtivas. ‘E a queda da taxa básica de juros afeta seu lucro’, diz”.
Outro empresário que se expressa na matéria avalia que o governo “começou a atender as demandas no ‘varejo’, em detrimento de negociações mais amplas com a indústria”. Ele critica a orientação de uma maior intervenção do Estado na economia, adotada ainda no governo Lula, caso do marco regulatório do pré-sal. "Mas essa política se exacerba com Dilma. É com ela que fica nítida a visão de que ter um Estado grande era parte da agenda", condena o capitalista, seguidor do laissez-faire.
O Valor cita ainda o cientista político André Singer. Segundo ele, a princípio, “a burguesia industrial pede ofensiva estatal contra os interesses estabelecidos, pois depende de política pública que a favoreça. Para isso, alia-se à classe trabalhadora. No segundo ato, os industriais 'descobrem' que, dado o passo inicial de apoiar o ativismo estatal, estão às voltas com um poder que não controlam, o qual favorece os adversários de classe (...). No terceiro episódio, a burguesia volta-se 'contra seus próprios interesses'".
Além do mais, há quem aponte que as sinalizações que a presidenta Dilma fez à classe trabalhadora, durante a sua campanha à reeleição, também teriam desagradado o empresariado, assombrado com a possibilidade de uma guinada à esquerda.
Tais avaliações, assim como as formulações retratadas na reportagem, confirmam que a adesão à tentativa de remover a presidenta eleita do seu posto centra-se não na crença de que ela tenha cometido qualquer crime – Dilma inclusive é vista como “honesta” pelos entrevistados pelo Valor. Mas em divergências programáticas e ideológicas - e em interesses muito, mas muito particulares.
Entre as atitudes da presidenta que teriam desencadeado a rebeldia do empresariado, o jornal cita, em primeiro lugar, a campanha pela redução do spread bancário e a tentativa de baixar a Selic.
Entre agosto de 2011 e outubro de 2012, a taxa básica de juros caiu 5,25 pontos percentuais. E os bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa, foram utilizados como instrumento de pressão para forçar uma redução na margem de lucro das instituições financeiras.
Centro irradiador de concentração de riqueza, o sistema financeiro e bancário – e aqueles que dele se utilizam - não gostou da medida. Afinal, quem lucra com rentismo e especulação não tem interesse em reduzir juros, mesmo que isso possa significar aquecer a economia.
Por sua vez, o próprio governo subestimou a força do vespeiro em que mexia e não mobilizou trabalhadores, sindicatos, a população em geral, que se beneficiava com tais ações.
Como bem ressaltou o economista Pedro Rossi, em entrevista ao Vermelho, irônico é que a redução da Selic tenha sido uma reivindicação da própria Fiesp, que hoje se coloca na linha de frente do golpe.
De acordo com o Valor, com a redução dos juros e também das tarifas de energia, “para uma parcela dos empresários, Dilma e sua equipe avançaram o sinal sobre regras básicas do capitalismo, dando um tom mais "estatizante" à condução da economia”.
"Os empresários se voltam contra o governo quando acaba o dinheiro. Isso não é ideológico. Eles mudam mesmo de lado quando acabam as benesses. Simples assim. A Dilma assinou o seu destino quando quis reduzir os juros e o spread bancário. Foi ali que começou. A indústria já estava sofrendo, mas é quando ela mexe com os bancos que a campanha contra ela começa", avalia uma empresária ouvida pelo jornal.
Um economista que fala ao periódico defende que o governo teria se deixado levar por uma visão de curto prazo, apelando para medidas que ele considera populistas. "Você pode baixar os juros quando as condições fiscais permitem", critica. Para outro especialista consultado pelo jornal, o PT alimentou a ilusão de que a indústria, que solicitava essas benesses, seria grata ao governo. “É um erro achar que, ao aceitar um benefício, o setor retribuirá com apoio político a quem o concedeu”.
O fato é que a gestão Dilma Rousseff fez várias sinalizações de apoio à indústria. Além do corte no preço da energia e da redução dos juros, estão entre estas medidas crédito subsidiado, redução do IPI, regras de conteúdo local, compras governamentais por preços superiores aos do exterior, desoneração da folha de pagamento e aumento das alíquotas de importação.
O fracasso no relacionamento com a indústria, então, pode suscitar várias explicações. Entre elas, tem grande peso a crise internacional, que impactou a economia não só do Brasil. Mas chama a atenção um outro motivo, listado peloValor. O jornal lembra que, hoje, a economia brasileira é muito mais globalizada, mais financeira, diversificada setorialmente e concentrada em grandes empresas e grupos.
“A indústria, que historicamente pediu redução dos juros, hoje tem parte de seu capital nas mãos do setor financeiro. Além disso, pondera um economista, o lucro financeiro é parte importante do resultado das empresas produtivas. ‘E a queda da taxa básica de juros afeta seu lucro’, diz”.
Outro empresário que se expressa na matéria avalia que o governo “começou a atender as demandas no ‘varejo’, em detrimento de negociações mais amplas com a indústria”. Ele critica a orientação de uma maior intervenção do Estado na economia, adotada ainda no governo Lula, caso do marco regulatório do pré-sal. "Mas essa política se exacerba com Dilma. É com ela que fica nítida a visão de que ter um Estado grande era parte da agenda", condena o capitalista, seguidor do laissez-faire.
O Valor cita ainda o cientista político André Singer. Segundo ele, a princípio, “a burguesia industrial pede ofensiva estatal contra os interesses estabelecidos, pois depende de política pública que a favoreça. Para isso, alia-se à classe trabalhadora. No segundo ato, os industriais 'descobrem' que, dado o passo inicial de apoiar o ativismo estatal, estão às voltas com um poder que não controlam, o qual favorece os adversários de classe (...). No terceiro episódio, a burguesia volta-se 'contra seus próprios interesses'".
Além do mais, há quem aponte que as sinalizações que a presidenta Dilma fez à classe trabalhadora, durante a sua campanha à reeleição, também teriam desagradado o empresariado, assombrado com a possibilidade de uma guinada à esquerda.
Tais avaliações, assim como as formulações retratadas na reportagem, confirmam que a adesão à tentativa de remover a presidenta eleita do seu posto centra-se não na crença de que ela tenha cometido qualquer crime – Dilma inclusive é vista como “honesta” pelos entrevistados pelo Valor. Mas em divergências programáticas e ideológicas - e em interesses muito, mas muito particulares.
Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho, com Valor Econômico
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