segunda-feira, 2 de junho de 2014

Carla Liane: Vamos juntos, salve a Seleção



Sempre é tempo de questionar as desigualdades sociais, lutar por direitos e reivindicar pela democracia conquistada a duras penas. São graves os problemas sociais em nosso País, mas na Copa do Mundo não vamos negar o nosso País, torcer pelo seu fracasso, queremos construir a imagem de que lutamos pelo Brasil. 

Por Carla Liane*



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Carla Liane é Professora Adjunta e vice-reitora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb)Carla Liane é Professora Adjunta e vice-reitora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb)
A opressão e a subalternidade dos moradores de rua que afetam o direito à moradia no Brasil, a rede de prostituição e exploração sexual contra mulheres e contra crianças que se multiplica cotidianamente, a precarização das condições de vida e de trabalho dos vendedores ambulantes historicamente revelaram a face perversa do capital afetando não somente o direito ao emprego, mas, por consequência, a própria dignidade humana. 


As práticas racistas que assistimos entranhadas nas relações sociais nos informam o quanto ainda precisamos de civilidade e respeito às diferenças. 

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A perversão do capital não surge com a Copa do Mundo. Isso é superficialismo e artificialismo. A violação de direitos e a ameaça ao Estado democrático batem à nossa porta todos os dias de inúmeras formas.

O episódio da Copa, assim como tantos outros eventos mundiais, é uma das ocasiões que revelam a selvageria do capital e trazem à luz com lentes agigantadas tais desigualdades. 

O movimento anticopa traz no seu bojo o risco da temporalidade das reivindicações, o esvaziamento de um debate politico acerca de um projeto de desenvolvimento para o país, assim como projeta consequências autofágicas para o sentimento e a consciência coletiva de nação. 

Não sejamos hipócritas! Apesar de todas as assimetrias, sempre torcermos pelo Brasil em todas as copas do mundo, sempre vestimos a camisa verde e amarela e nos destacamos por nossa alegria, garra e por nossa avassaladora paixão pelo futebol. Majoritariamente nos sentimos representados como uma das melhores seleções de futebol do mundo, se não a melhor, formada por negros que levavam para o palco mundial a representação das verdadeiras cores do nosso país.

É certo que isso por si só não basta, queremos ter acesso aos estádios, acessibilidade, ter direito à cidade, queremos ser melhores em inclusão, em politicas reparatórias, em educação, em equidade e reconhecimento social. Esta é uma luta dos diversos movimentos sociais nos doze meses do ano, uma luta histórica que se reproduz por décadas e décadas. Por isso, não podemos cair na armadilha e no jogo da autodesclassificação temporária. Não precisamos dos megaeventos esportivos para mostrar o nosso potencial reivindicativo. 

Por que desde 2007, quando o Brasil foi escolhido como país-sede da Copa do Mundo não hasteamos incessantemente as bandeiras da justiça e contestamos mundialmente a representação capitalista e imperialista da Fifa e por tabela de outros organismos mundiais a serviço da exploração e das desigualdades dos povos? Será que é isso mesmo que está em questão?

Vamos nos perguntar: a quem interessa um ataque ao patrimônio cultural, à autoestima e à imagem do nosso País? De forma tão contextualizada e pontual? 

Temos uma herança de colonização do pensamento e subestimação da nossa capacidade crítica. Mais uma vez iremos nos permitir as manipulações politicas mediadas pela tecnologia interativa tendenciosa?

Não vamos negar o nosso País, torcer pelo seu fracasso, queremos construir a imagem de que lutamos pelo Brasil, vestindo a camisa dele e não a queimando, vamos às ruas de verde e amarelo, deixar o coração acelerar, torcer pela nossa Seleção, pelo hexacampeonato, torcer pelo nosso Brasil, torcer pela nossa vitória, como sempre fizemos, antes e também depois da Copa!

*Carla Liane é Doutora em Ciências Sociais (Ufba), Professora Adjunta e vice-reitora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

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