A resistência e o combate à ditadura militar serão lembrados em extensa programação elaborada para marcar os 50 anos do golpe militar que instalou no Brasil uma ditadura que durou 24 anos. Na próxima terça-feira (1º), além da sessão solene, haverá um ato político, à tarde, precedido de homenagem ao ex-deputado Rubens Paiva.
O ato político vai reunir representantes do PCdoB, PT e PDT e as fundações Maurício Grabois, Perseu Abramo e Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, além de familiares de Rubens Paiva, João Goulart e Honestino Guimarães, os dois últimos também vítimas da ditadura militar.
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Antes do ato político, marcado para às 18h30min no auditório Nereu Ramos – o maior da Câmara dos Deputados –, haverá aposição do busto do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto pela ditadura, cujo corpo continua desaparecido.
Ainda como parte da programação, haverá o lançamento do livro Perfil Parlamentar de Rubens Paiva, biografia do ex-deputado federal assassinado em 1971 em um quartel no Rio de Janeiro. Ele foi um dos principais opositores da ditadura militar.
Escrito pelo jornalista Jason Tércio, o livro traz informações inéditas sobre a prisão e a morte do ex-parlamentar. A publicação apresenta, por exemplo, o documento, com carimbo de confidencial, a respeito da detenção de Rubens Paiva e informa que ele foi levado no dia 25 de janeiro de 1971 para o Quartel General da 3ª Zona Aérea e de lá para o extinto Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro.
História de Rubem Paiva
Engenheiro civil de formação, Paiva começou sua curta carreira política em 1962 como deputado federal pelo PTB de São Paulo. No ano seguinte, foi vice-presidente da CPI que investigou irregularidades no Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), órgão que combatia o comunismo no país. Jason Tércio diz que o livro traz novidades sobre o trabalho ativo de Rubens Paiva na CPI, que provocou a cassação de seu mandato pelo Ato Institucional nº 1, em 1964.
No dia 20 de janeiro de 1971, a casa de Rubens Paiva em Ipanema foi invadida – o ex-deputado foi levado por militares da Aeronáutica sem mandado de prisão. Autoridades militares justificaram a detenção sob o argumento de que Paiva mantinha correspondência com brasileiros exilados no Chile. Havia a suspeita de que ele servisse de contato do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e também do homem mais procurado do país, Carlos Lamarca, o que Jason Tércio desmente no livro.
Rubens Paiva foi dado como desaparecido pelo Exército, que declarou que ele havia sido sequestrado ao ser levado por agentes do DOI-Codi. A versão foi contestada por sua esposa, que, baseada em depoimentos de testemunhas, afirmou que ele teria sido torturado até a morte.
A biografia apresenta as diferentes hipóteses de desaparecimento de Rubens Paiva, inclusive a mais provável, na opinião de Jason Tércio, de que ele teria sido enterrado na Floresta da Tijuca. "Porque ali havia uma delegacia vinculada aos órgãos de repressão. Um militar (em depoimento à Comissão Nacional da Verdade) informou que o corpo foi desenterrado de lá, enterrado na praia do Recreio dos Bandeirantes e, dois anos depois, jogado no mar ou no rio."
O atestado de óbito de Rubens Paiva foi emitido apenas em 1995, após a publicação da Lei dos Desaparecidos Políticos.
De Brasília
Márcia Xavier
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