Saul Leblon: Ninguém aguenta mais, a Espanha vai às ruas
Mais de 100 mil pessoas ocuparam a praça do Sol, em Madrid, na
noite da última quinta-feira(19). Protestos tomaram outras 80 cidades
da Espanha. As centrais sindicais exigem um plebiscito para definir o
futuro da sociedade e da economia. As manifestações explodiram no mesmo
dia em que o Congresso -dominado pela direita do PP - aprovou o novo
pacote de arrocho ditado pela cúpula do euro à Madrid.
Por Saul Leblon, em Carta Maior
O governo conservador de Mariano
Rajoy já não comanda; o Palpacio de la Moncloa está sob intervenção
direta dos homens de negro de Bruxelas que impõem medidas, fiscalizam
políticas e fuçam as contas do Estado.
Em troca de empréstimos para salvar os bancos, cuja primeira parcela de
30 bi foi liberada esta semana, o Eurogrupo determinou cortes adicionais
da ordem de 65 bi no fragilizado tecido social espanhol. O pacote
sancionado impõe perdas salariais aos funcionários públicos, eleva
impostos e retalha adicionalmente orçamentos essenciais e restringe o
auxílio desemprego em meio a um quadro de reduçao epidêmica de vagas.
Bombeiros aplaudiam manifestantes nas ruas de algumas cidades --os
homens do fogo também foram atingidos pelo incêndio neoliberal em que se
transformou a Espanha.
O sacrifício é visto como inútil até pelos economistas conservadores: a
Espanha já quebrou. Ao alimentar a recessão com mais arrocho o governo
sabota sua própria capacidade de obter receita e pagar contas. Os
capitais sabem e fogem do país; mais de 200 bilhões de euros saíram este
ano da Espanha: é o dobro do volume que Bruxelas acena emprestar para
salvar os bancos.
A conta não fecha. Investidores preferem guardar o dinheiro na Alemanha,
e receber juro negativo, do que financiar o governo desastrado da
direita espanhola, que lhes paga taxas recordes insustentáveis de 7%. A
derrocada espanhola é a síntese de dois momentos do ciclo neoliberal: a
omissão estatal no ciclo de alta, feito de supremacia das bolhas de
crédito e desregulamentação especulativa; e a ausência de soberania
estatal agora, no colapso do modelo, quando a finança submete toda a
sociedade à opressão para salvar-se.
O que as ruas de Madrid estão dizendo, finalmente, é que os espanhóis
querem o Estado de volta para defendê-los; não para dilapidá-los com
aguilhões e espetos da impunidade rentista. Trata-se de uma agenda
universal.
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