O juiz Sérgio Moro foi, como se sabe, homenageado pelas organizações Globo como personalidade do ano no prêmio Faz a Diferença, honraria que recebeu por ser um magistrado imparcial e rigoroso, sendo apenas mera coincidência um eventual alinhamento de suas decisões com os desejos deste poderoso grupo de comunicação.
Que país é este? Vídeo sobre a sonegação da Globo
Uma das manchetes do jornal O Globo desta terça-feira (24) é “Tesoureiro do PT vira réu na Lava-Jato”, e acima do título: “Que país é este”? Para entender que país é este é preciso reservar apenas 17 minutos e assistir a esta excelente produção do Diário do Centro do Mundo. No vídeo abaixo, conta-se resumidamente a escabrosa história da fraude milionária da Globo, incluindo suborno à funcionários públicos e cumplicidades camufladas no judiciário e no aparelho policial. Proponho uma corrente de divulgação do vídeo como parte das comemorações dos 50 anos da Globo. Assistam e, pela democracia no Brasil, divulguem.
Mas muita gente boa opinou, inclusive, que pelos nítidos interesses políticos e econômicos que o grupo Globo persegue, o melhor para um juiz tão cioso de sua independência e imparcialidade, como Sérgio Moro, seria ter se recusado a receber o prêmio. Tememos que estas opiniões não tenham alcançado Moro a tempo, pois talvez o fizessem refletir sobre os perigos para a sua credibilidade desta tão estreita proximidade com uma empresa que é praticamente o órgão de um partido político (PSDB) e porta voz de um movimento golpista. E o que acontece? Um hipotético leitor malicioso, que não conheça a seriedade do juiz Moro, ao ler a edição desta terça-feira (24) do jornal O Globo, é capaz de pensar no impensável: que o magistrado e a empresa de comunicação têm interesses políticos comuns e traçam táticas em conjunto. Senão, vejamos. O juiz mandou transferir, nesta segunda-feira (23), 12 presos da Operação Lava Jato da carceragem da polícia federal, em Curitiba, para um presídio em Pinhais, onde os detidos (que ainda não foram julgados e muito menos condenados, sendo isto, é lógico, um mero detalhe muito justificadamente ignorado pelo novo e avançado ordenamento jurídico brasileiro) usarão uniformes, tomarão banho coletivo, além de outras regalias como a possibilidade, admitida pelo próprio juiz Sérgio Moro, de que venham a sofrer violências de outros detentos.
A esperança de Merval
Entre os presos transferidos está o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, que tem se negado de forma enfática a fazer o acordo de delação premiada. Só permaneceram na PF Nestor Cerveró e Ricardo Pessoa, que está em processo de negociação da delação premiada. Segundo escreve um dos principais colunistas amestrados da mídia hegemônica, Merval Pereira, na edição desta terça-feira do jornal O Globo, a transferência dos presos pode ser decisiva “para que surjam novas provas no processo do petrolão” e liga diretamente esta esperança ao envio de Renato Duque “para a cadeia do Complexo Médico-Penal em Pinhais”. Para Merval, isto “faz com que Renato Duque esteja mais próximo do que nunca do momento de decisão sobre sua própria delação premiada”. Merval lembra (com certeza neste momento já leram para Duque esta parte da coluna várias vezes) que enquanto o delator Barusco “está em liberdade devido à delação premiada, Renato Duque está na cadeia.” E, o mais espantoso, Merval já adianta qual será o veredito de Sérgio Moro, tanto em relação à Duque quanto em relação a Barusco: “Renato Duque está na cadeia próximo de uma condenação que será mais rigorosa do que a do próprio delator”.
Os aspectos irrelevantes
Notem que o jornalista não se preocupa sequer em tomar qualquer precaução ao fazer sua afirmativa. Ele não escreve que Duque “pode” estar próximo a uma condenação rigorosa. Ou que “deve” estar próximo a uma condenação rigorosa. Ele é enfático ao mostrar conhecimento antecipado não só do veredito mas também de sua extensão. Denota Merval uma inaceitável proximidade com o centro de condução da Operação Lava Jato, onde o grupo Globo seria (vejam anossa precaução: “seria”) encarregado de blindar qualquer coisa feita em nome de alcançar os resultados desejados. Merval termina ainda com um aviso que é uma clara ameaça (trecho que deve também estar sendo lido e relido para Duque por delegados atenciosos), depois de adiantar que as primeiras sentenças de Sérgio Moro serão dadas até o meio do ano, diz Merval, mais uma vez mostrando saber de antemão os vereditos: os “ex-dirigentes da Petrobras têm pouco tempo para decidir revelar seus segredos antes de serem condenados”. Só um último escrúpulo de consciência impediu Merval de sugerir métodos como simulação de afogamento, privação do sono, e outras práticas mais “eficazes”, infelizmente, pelo que sabemos, ainda não adotadas no moderno ordenamento jurídico brasileiro para, não só obrigar alguém a falar, mas a falar o que se deseja ouvir. Não se exige nem a verdade, nem provas do que se afirma, aspectos irrelevantes que não interessam ao que existe de mais avançado em nossa justiça. É a morte do direito.
O valentão que ameaça Dilma
A passeata neofascista do dia 15 deu fôlego a valentões de ocasião. Em declaração ao principal porta voz do movimento golpista, o jornal O Globo, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou que “A presidenta Dilma vai deixar o cargo, por vontade própria ou não.” Para quem não se lembra, o candidato a Mussolini é conhecido por iniciativas bizarras. Em 2013 entrou com ação na Procuradoria Geral de República pedindo a condenação da presidenta por improbidade administrativa por esta ter enviado cartões de natal aos servidores públicos. Depois disse que iria acionar o TSE pelo encontro de Dilma com Lula! Por estas e outras o deputado recebeu do jornalista Jânio de Freitas a alcunha que o acompanha até hoje: “aspirante à perda do senso de ridículo”. Ou seja, um bobo da corte que só um jornal como o da famiglia Marinho leva a sério.
Constrangidos
O Notas Vermelhas já mostrou seu pouco apreço pelas avaliações destas agências internacionais de risco, mas é engraçado assistir ao constrangimento dos jornalões, que apostavam no rebaixamento da nota do Brasil pela S&P para estampar, nesta terça-feira (24) em manchetes garrafais o “aumento da crise”. Como a agência não rebaixou a nota, reafirmando que o país é um local seguro para se investir, a matéria com a notícia foi relegada às páginas internas. O siteUOL (grupo Folha) tinha no início da manhã desta terça-feira (24) uma manchete hilariante, onde dizia que a agência S&P tinha dado “outra chance” ao Brasil. Imagino que o UOL, em um esforço de reportagem, presenciou o momento da decisão, que foi mais ou menos assim:
Diretor 1 da S&P: E aí, pessoal, vamos rebaixar mesmo a nota do Brasil?
Diretor 2 da S&P: Eu acho sacanagem, brasileiro é gente boa. Eu sempre passo o carnaval lá.
Diretor 3 da S&P: É verdade, e a caipirinha, e a caipirinha?
Diretor 1 de novo da S&P: Está decidido, vamos dar mais uma chance para o Brasil. Eles merecem.
Só mesmo o jornalismo de qualidade do grupo Folha para revelar o lado humano do mercado financeiro.
Para terminar com alegria, um poema que está circulando nas redes
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