O Brasil completa 30 anos da redemocratização, quando José Sarney foi empossado Presidente da República, e o país acompanhou atônito a agonia de Tancredo Neves, que havia sido eleito Presidente.
Por Orlando Silva, especial para o Vermelho
Neste domingo (15) aconteceram manifestações contra a corrupção e a Presidenta Dilma. Importa refletir sobre seu significado e impacto no processo político. Há dimensões na economia e na política.
Creio que a base objetiva que definiu os protestos de hoje está na economia. Sabemos que faz 8 anos que o sistema capitalista vive uma das suas mais profundas e complexas crises. O baixo crescimento da economia mundial é reflexo dessa crise, numa fase em que o rentismo alcançou dos patamares mais elevados da história.
O Brasil não é uma ilha, a crise lá fora nos pega de cheio, ainda mais que nossas exportações tem peso grande no nosso modelo de desenvolvimento. Lula-Dilma implementaram políticas que valorizaram o mercado interno e exploraram as possibilidades do Estado como indutor do desenvolvimento. Mas, essas políticas tem limites. Não produzimos correlação de forças para enfrentar adequadamente o capital financeiro.
O desafio da Presidenta Dilma será no próximo período, apontar uma agenda para a retomada do crescimento econômico, que garanta desenvolvimento para o país. Não é simples. As taxas de investimento no Brasil, mesmo nos melhores momentos, são baixas. O empresariado brasileiro é conservador. A Presidenta precisa apontar um programa mínimo, que faça a economia nacional retomar seu dinamismo. Precisa intervir na política cambial, cuidar da indústria e de setores sensíveis da pauta de exportações.
O Estado pode e deve enfrentar os gargalos da infra-estrutura logística e social. Esse caminho impacta na retomada da atividade econômica e enfrenta desafios no campo da produtividade.
A economia produz muitos danos na política. Mas, na política existe a política, e aqui o governo Dilma precisa agir. O Governo, todo ele, precisa ter compromisso com nosso projeto. Ministro que representa Partido tem que cuidar de sua bancada no Congresso Nacional. Se representa setor, tem que demonstrar relevância. Se tem função de Estado, que mostre competência. Ou cai fora, a Presidenta tem que exigir mais resultados da sua equipe.
Partidos da base parlamentar tem que decidir se são ou não da base, não dá pra ser só no amor, tem que ser na dor, também.
A Presidenta precisa realinhar sua base política e social. A agenda que ela vai apresentar para o país deve levar em conta isso. Se fala de "ajuste fiscal", ok, o país precisa de fazer um ajuste, mas a conta tem que ser dividida, não pode ficar apenas na conta dos trabalhadores e trabalhadoras.
O Governo, de fato, tem que ser de coalizão e não hegemonizado por um único Partido. A hora é de ampliar ao máximo!
A grande mídia massacra o PT, Lula e Dilma. O método é conhecido, "mentir mil vezes até converter essa mentira em verdade". Esse é o fundamento. Evidente que o governo, e nossos líderes podem ter cometidos erros. O PT, e qualquer outro Partido, ou dirigente, pode ter cometido algum erro, mas nem de longe produziram o que a mídia tenta fazer nosso povo crer.
Foram os governos Lula-Dilma que fortaleceram os mecanismos de fiscalização e controle do Estado, o que permitiu, inclusive, desbaratar quadrilhas que assaltaram os cofres públicos. Ou seja, nós combatemos a corrupção como nunca, não eles. Mas a grande mídia faz nosso povo crer que é o contrário. Nossa tradição nunca foi de contemporizar com corrupção, e seguimos nesse combate, apesar das mentiras que a mídia conta. Nosso povo tem que levantar a cabeça, confiante no caminho que construímos até aqui.
O certo é que foram grandes manifestações. O discurso das elites contaminou nossa gente.
É hora de convicção no nosso projeto, que há 13 anos produz dignidade para nosso povo e nossa nação. É hora de dialogar com nossa base social, esclarecer dos riscos a democracia que certos movimentos podem produzir. É hora de ampliar nossa base política, cujo programa mínimo é garantir a governabilidade da Presidenta Dilma, e criar as condições para retomar o desenvolvimento.
O momento exige serenidade, e combatividade! E formas novas de mobilização. Atenção: o verde-amarelo é do Brasil! É nosso! O Hino Nacional é do Brasil! É nosso! Não pudemos deixar que nós roubem os símbolos nacionais. Ainda que seja na dimensão estética, essa disputa nos interessa, não pudemos perder a luta no simbólico. E o vermelho também é nosso, como é vermelho o sangue de nossos camaradas que tombaram por essa democracia que está em risco. Eu falo isso desde a eleição. Quem foi na Avenida Paulista na festa da vitória deve lembrar, até cantei, cantamos o hino, do alto do carro de som. Vivemos em tempos de imagens, de símbolos. Que fazem penetrar, forte, idéias na consciência das pessoas.
Nos próximos dias, creio que devamos armar nossas lideranças e nossas militância com argumentos, palavras que devem chegar ao nosso povo, só ele pode sustentar as conquistas dos últimos anos, e apontar o sentido e o ritmo de mais avanços. Um ponto sensível é a união da esquerda. Teve gente que disse: "nem 13 nem 15!". E está de camarote assistindo a velha e boa luta de classes. É hora de unir os combatentes, em que pese diferenças de tática política e eleitoral. Deixemos para acertar contas dos nossos melindres, depois.
Nesse domingo, 15/03/2015, que marca 30 anos da redemocratização, precisamos estar vigilantes e dispostos para reinventar a democracia brasileira, ter um modelo que garanta mais participação de nosso povo. Isso as elites não querem. Precisamos de mais povo no jogo. Precisamos salientar a identidade de nosso projeto, afinal foi isso que nos deu a vitória em outubro passado.
A luta continua! Venceremos!
*Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB de São Paulo
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