domingo, 22 de março de 2015

Rilton Primo: As Crianças e a Matemática


 Veiculou-se dia 20 último que Maria Rosa Sanchez, Mestre em Ciências da Educação, mulher de pequena estatura e olhos vivos, desde sua experiência de mais de três décadas no setor do ensino cubano, um dos melhores do mundo, defende que se desenvolva uma cultura matemática desde as primeiras idades. Crianças de 3 anos são capazes de operar 3 – 2 e outros cômputos, lidar com grandezas e espaço-tempo. 

Por Rilton Primo*


 
 

Tive a oportunidade de dar aulas de matemática para estudantes do Brasil em sete séries diferentes e concordo: cognitivamente, pode-se ensinar matemática para crianças, especialmente geometria; claro, a aritmética; teoria dos conjuntos, funções de primeiro grau, bases da teoria dos números; relação, proporção. Fundamentos físicos em cinemática, dinâmica e sistemas de vetor simples; ondas, magnetismo, eletricidade. Experiências ou métodos indutivos podem e devem substituir as abstrações, com a sua lógica vívida. Recreações mesclar-se a experiências. Na própria educação física é possível cultivar relações quantitativas, sublinha Sánchez. Fiz algumas tentativas. Os frutos e sementes, são incalculáveis. Sondagens de aprendizagem indicam o melhor caminho aqui, outro ali - sem regras lineares.


Devem ser tentados todos os enlaces do pensamento lógico-abstrato com acognição sensorial da qual as crianças não devemafastar-se antes dos sete anos, para que experimentem o mundo real das representações antes das representações do mundoreal. As leis matemáticas são rigorosas não por capricho, imposição docente;mas pela materialidade objetiva da realidade exterior que só representam. As leis, não as inventamos ou modificamos, apenas deduzimos. As deduções evoluem, por aproximações. As aproximações geram saltos qualitativos, revoluções metodológicas no modo de perceber o mundo real. Isto já inspira não apenas a liberdade e o lazer, mas o respeito pelo poder adquirido das leis matemáticas. 

O procedimento mais seguro, por simples exemplo, com números pares, no algoritmo de sua decomposição em números primos, é começar por 2 e ficar com ele até quando possível e, tato geral, na lista dos números primos não passar para o sucessor, se o antecessor ainda é possível. Lembrete dos primos até 100: 2 3 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47 53 59 61 67 71 73 79 83 89 97. A alguém pode interessar saber que a lista é interminável, e que o demostrou Euclides três séculos antes de nossa era. Ou que, indevidamente, matemáticos do século XVII tentaram estabelecer um algoritmo para determinar quando um número α era primo ou não: 2 elevado à potência α, dividindo a resultadopor α - seria primo se a resposta fosse 2.Ou que em 1819 este algoritmo mostrou-se falho, como para o número 341, que foge à regra, conforme se inferiu de um algoritmo de Gauss. Muitas informações históricas podem ser adicionadas sem esclarecer a questão em nada. Não interessa o lugar de onde saiu a lista exata, mas o seu interesse. Esclarecer isto não pode ser fácil sem compreender a teoria dos números erevisar a história do pensamento matemático, o que exige uma graduação; mas há um atalho: irdireto aooperativo.

A pergunta é: para que serve a decomposição em primos? Uma dos seus usos é determinar, entre dois ou mais números, seu menor múltiplo comum. Mas, para quê? Estas são perguntas não para os alunos, para os mestres. De sua resposta deve partir a reflexão crítica de um problema prático e sua solução com os alunos nas aulas. Serve, por exemplo, para reduzir expressões ao mesmo denominador comum e podermos operar suas parcelas mais facilmente. O exercício da razão deve ter finalidade prática. Há que fazer perguntas dessa natureza até alcançar a realidade objetiva. Só depois calcular, de uma forma ou de outra. Os diferentes algoritmos são meros meios, ainda que sejam meios para outro meio e este, por sua vez, um meio para outros, em cálculo escalonado ou complexo. Em uma palavra: os números são e não são coisas, fins, emenos ainda devemparecerser fantasmas intransigentes, misteriosos paraas crianças.

Isto é muitas vezes mais profundo e consequente para a vida e o desenvolvimento intelectual geral que operar,para um algoritmo ou problema, o algoritmo de decomposição ou outro qualquer. A razão está ausente quando a lógica é posta a serviço de si mesma. Isso, certamente, é, para muitas crianças, a raiz de seu desinteresse. Como afirma a especialista Rosa Sanchez, "trata-se de buscar diferentes vias para motivar os alunos”, e "trata-se de ver a matemática naturalmente, como sucede com outras matérias; que para os alunos seu estudo não se torne um trauma, mas a descoberta de seus segredos e beleza." E acrescenta: a vocação para seguir uma carreira profissional nas áreas de ciências exatas pode manifestar-se ainda bem cedo. Este é, talvez, o caminho culturalmente revolucionário, a ressemeadura dos intelectos. 


* Economista atuante na Investigação Operacional (ramo da matemática aplicadoà tomada de decisões), consultor do Centro de Estudios por la Amistad de Latinoamérica, Asia y África – Ceala.

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