O jornalista Merval Pereira, das organizações Globo, é reconhecido por ser um sujeito coerente: mente e manipula invariavelmente. Sempre com o objetivo de cultivar em seu leitor o ódio ao PT e à esquerda. Para isso, utiliza a máscara de todo hipócrita bem sucedido: a defesa da ética. Mas em sua coluna desta quarta-feira (18), em O Globo, ele deixou desnuda sua face.
Merval é muito menos jornalista e muito mais ativista político de direita. E ativista disciplinado. Quando seus chefes ideológicos (por coincidência, seus patrões) colocam uma tarefa, Merval não titubeia e se empenha em cumpri-la. Foi assim, por exemplo, quando o conservadorismo se uniu em torno da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para presidente da Câmara. Pensou Merval: “como manter minha fachada ética e ao mesmo tempo apoiar Eduardo Cunha, o probo?”. A hesitação durou pouco, afinal tratava-se de derrotar a Dilma e concluiu Merval em pensamento: “nós ganhamos parcela importante da população para um sentimento: o ódio ao PT, e o ódio não precisa ser coerente, não precisa de argumentos, precisa apenas existir e ter um alvo”. Assim, ele atuou como um consciencioso cabo eleitoral de Cunha, chegando ao ponto de escrever em sua coluna “contra o uso político da operação Lava a Jato”, quando vazou ainda durante a disputa para a presidência da Câmara que o nome de Cunha estava entre os investigados da operação. Pouco importava para Merval que o público para o qual ele se dirigia era o mesmo que lia e lê diariamente o colunista fazer da Operação Lava a Jato um instrumento da luta política contra o PT e a esquerda.
Tirando a máscara
A lógica do ódio, que amortece o senso crítico, dá o suporte necessário para Merval assumir tranquilamente as posições mais contraditórias, tendo em vista apenas suas metas. Na coluna desta quarta-feira ele brada pela permanência das contribuições empresariais nas campanhas eleitorais. Merval, que defendeu ardorosamente o Supremo Tribunal Federal (STF), quando este condenou petistas no caso da AP 470 (chamada pela mídia hegemônica de mensalão) agora acusa o STF de se prestar à “judicialização” da política, porque o mesmo Supremo considerou inconstitucional a contribuição empresarial para as campanhas eleitorais, em uma votação que não terminou graças a uma chicana feita por Gilmar Mendes. Acusa o colunista amestrado de que o instrumento para esta “judicialização” foi a OAB, a serviço do PT. Merval faz, portanto, um hábil malabarismo: usa um discurso centrado na ética para atacar o PT mas defende com todas as forças o que é a principal fonte de corrupção parlamentar no Brasil. Consegue com isso cumprir seu papel de militante direitista (encoberto pela capa de jornalista) e também servir agradecido aos interesses da poderosa organização que o transformou (um sujeito medíocre sob todos os pontos de vista) em uma “personalidade” bajulada por imortais que já morreram, Eduardos Cunhas, FHCs e congêneres.
Vã esperança
Defender a contribuição empresarial é ponto nodal para um fiel servidor da bilionária famiglia Marinho. São as “famílias Marinho” da vida que, pelos mais variados canais, compram e sempre compraram deputados através do financiamento privado das campanhas. A manutenção desta forma de financiamento é a manutenção também do poder de empresários como os donos do grupo Globo, decadente mas ainda muito influente. O cinismo aberto com que o comentarista global manipula a informação revela a arrogância de quem vê sua corrente política na ofensiva e acha que nunca será desmascarado. Vã esperança. Assim como o tempo passa mais rápido para quem está atrasado, a vida é a principal inimiga para quem se sustenta na mentira.
Apenas algumas perguntas
Os leitores vão notar que o redator do Notas Vermelhas é realmente fã da música “A banca do distinto” (Billy Blanco), já citada na coluna de terça-feira (17) e que será citada de novo agora: “A vaidade é assim, põe o tonto no alto, retira a escada / Fica por perto esperando sentada / Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão”. O Notas Vermelho também é fã de Machado de Assis que dizia que "a vaidade é um início de corrupção". O motivo das citações? Nenhum, já que a presente nota trata apenas da entrega ao ínclito juiz Sérgio Moro, nesta quarta-feira (18), pelas organizações Globo, do título de “Personalidade do Ano” no prêmio “Faz a diferença”. Como até as pedras da calçada do Ministério Público sabem, a escolha de personalidade do ano pelo grupo Globo é pautada pelos elevados critérios de um júri composto pelos jornalistas Aluizio Maranhão, Ancelmo Gois, Ascânio Seleme, Merval Pereira, Míriam Leitão e pelo presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira. Tomo a liberdade de sugerir aos jornalistas que aproveitem a oportunidade e no coquetel que será oferecido, entre um brinde e outro pelo sucesso da manifestação do dia 15, perguntem ao Moro em nome do interesse jornalístico: ao doleiro Yousseff, que confessou ter atuado no escândalo do trensalão tucano, foi oferecida a famosa “delação premiada” neste caso? Por que esta declaração do Yousseff foi enviada para investigação para o Ministério Público de São Paulo? Será que a nobre equipe de delegados (eleitores do Aécio), que já estava com a mão na massa, achou que era muito trabalho? Foi indagado aos empreiteiros presos se os R$ 34 milhões de reais que eles deram ao Aécio para a última campanha eleitoral era propina lavada por doação, ou isso só acontece com o PT? Vou comprar o Globo amanhã ansioso pelas respostas.
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