Por Altamiro Borges
Na maior crise hídrica da história de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ainda comete o crime de demitir centenas de funcionários da companhia responsável pelo setor, a Sabesp. Segundo balanço do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), desde janeiro já ocorreram 320 cortes e a empresa prevê mais 160 dispensas – a maioria de operários das áreas operacionais. A Sabesp emprega em torno de 15 mil funcionários. Em assembleia agendada para a próxima terça-feira (10), o sindicato deverá propor a deflagração de greve por tempo indeterminado contra as demissões. A redução do quadro funcional é uma das principais causas da crise de abastecimento no Estado.
No longo reinado do PSDB no Estado mais rico do Brasil, que já dura 20 anos, os tucanos priorizaram os rendimentos dos acionistas e cortaram os investimentos nesta área nevrálgica para a população. Os reservatórios não foram ampliados a contento e a manutenção foi sucateada, o que explica os recordes de vazamentos de água. Houve queda do número dos trabalhadores do setor operacional, exatamente dos que operam diretamente na manutenção e ampliação da rede. Diante deste quadro sombrio, o governo tucano ainda anuncia novas demissões, visando “a readequação no quadro de pessoal”, e garante que os cortes “não irão comprometer a qualidade dos serviços”, segundo a direção da estatal.
Todo este “choque de gestão” tucano – que alegra os rentistas e penaliza os trabalhadores da empresa e a população em geral – tem sido feito sem qualquer transparência. Na semana passada, o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, voltou a cobrar explicação sobre a real situação do Sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Ele questionou o falso otimismo do governador Geraldo Alckmin, sempre amplificado pela mídia chapa-branca. “O reservatório não está com 11,7% de sua capacidade. Ele está com menos 17% em relação ao seu volume útil. Ao se divulgar 11,7%, dá uma sensação diferente da real”, protestou.
Mas o grão-tucano, pré-candidato à eleição presidencial de 2018 e totalmente blindado pela mídia venal, segue com seu jeito de "picolé de chuchu" – como se tudo estivesse em ordem. Na última terça-feira (3), o racionamento de água em São Paulo, que atinge milhões de paulistas com cortes temporários de fornecimento e redução da pressão na rede distribuidora, completou exatamente um ano. Neste período, a tragédia foi ofuscada para garantir a reeleição de Geraldo Alckmin. Na campanha, o tucano jurou várias vezes que “não haverá racionamento” – num típico estelionato eleitoral. Agora, até a mídia chapa-branca é forçada a registrar este “triste aniversário”, conforme editorial publicado pela Folha tucana.
“A Sabesp estima que 200 mil moradores sofram os efeitos mais drásticos da medida, com falta de água constante. Milhões, porém, deparam-se com torneiras secas de maneira intermitente: 71% dos paulistanos relataram ao Datafolha, em fevereiro, ter ficado sem água ao menos uma vez no mês anterior. É como se as agruras vividas por essas pessoas não tivessem importância, a julgar pelo comportamento recente de alguns políticos”, afirma o “indignado” editorial. Como sempre, porém, a Folha responsabiliza “alguns políticos”, evitando concentrar as críticas no seu “queridinho”. Afinal, Geraldo Alckmin garante generosos anúncios publicitários e a mídia hegemônica não vacila nas suas preferências políticas.
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