quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Califado dos ladrões: Qual é a base da economia do Estado Islâmico?


Os milhares de refugiados que fogem da guerra e da miséria são somente um dos efeitos da catástrofe que está ocorrendo no Oriente Médio. A organização terrorista mais importante do mundo atualmente, o Estado Islâmico, parece ter se convertido já em um Estado real: conta com orçamento, impostos e uma bárbara e completa estrutura social.


Terrorista do Estado Islâmico retoca pichação em muro em Palmira, na Síria
Terrorista do Estado Islâmico retoca pichação em muro em Palmira, na Síria

"Atualmente, o Estado Islâmico é a organização terrorista mais rica do mundo. E até certo ponto já é um governo. O religioso iraquiano abu Saad al-Ansari inclusive já revelou o orçamento do EI para 2015: US$ 2 bilhões, com superávit de cerca de US$ 250 milhões. Segundo suas palavras, este dinheiro será utilizado na guerra", afirma o colunista Alexandr Zotin, no diário russo liberal Kommersant.

Zotin cita o orientalista do Centro Carnegie de Moscou Nikolái Kojánov, que afirma que no primeiro lugar do financiamento do grupo terrorista se situam os "doadores", seguido do petróleo, os impostos internos, o sequestro de pessoas e a venda de bens culturais no mercado negro.

Doações

"Muitos apontam que a principal doadora é a monarquia árabe fantasticamente rica e ambiciosa do Golfo Pérsico, o Catar. A reputação de patrocinador do EI a persegue tanto que, durante a visita do emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Zani, a Londres, o premiê britânico David Cameron pediu a ele que parasse de ajudar com dinheiro os terroristas", escreve Zotin.

Por sua vez, o professor arabista da Escola Superior de Economia, Andrei Korotaiev, sustenta que "a nível estatal" não existe evidência da participação do Catar no financiamento do EI, já que a "doação" deve partir de indivíduos.

Petróleo

"Outra fonte de renda é o petróleo. Felizmente, o território controlado pelo EI é relativamente pobre", discorre Zotin. Além disso, o colunista indica que as rendas do petróleo e do gás são extremamente voláteis, devido à mudança dos limites fronteiriços controlados pelo grupo terrorista e os volumes de produção.

Os analistas do Conselho sobre Relações Exteriores, Zachary Laub e Jonathan Masters, acreditam que o EI controle a produção de 44 mil barris por dia no território síria e apenas 4 mil no Iraque. Isto gera uma renda de US$ 1 milhão por dia. Mesmo assim, eles destacam que a zona de influência do EI está muito longe dos maiores campos petrolíferos do Iraque, que estão no sul do país e nos territórios do norte, controlados pelos curdos.

Neste sentido, na última segunda-feira a organização terrorista se apoderou da última jazida de petróleo que estava sob controle do governo da Síria, o de Yezl, situado a oeste da província de Homs. 

Roubo e extorsão

Uma Califado, como qualquer outro Estado, financia suas atividades com impostos, embora no caso de um grupo terrorista seja mais correto falar de crime organizado, segundo afirma o colunista. Os impostos são aplicados a todos os "bens, empresas de telecomunicações, bancos", entre outros, afirma a arabista Nadiejda Glébova, e representam "até 5% sobre os salários em conceito de seguro social, o imposto de circulação no norte do Iraque, os direitos de alfândega sobre cada caminhão que cruza o posto de controle nas fronteiras do Iraque com a Jordânia e com a Síria (US$ 800)".

"Há impostos surreais, como o sobre o saque de sítios arqueológicos (20% em Alepo, 50% em Raqqa) e um com a finalidade de proteger as comunidades muçulmanas", cita Zotin.

Sequestros

O Estado Islâmico não deixou de realizar sequestros com a finalidade de pedir resgates. Segundo dados do Conselho de Relações Exteriores, em consequência da liberação de reféns em 2014, os lucros do EI chegaram a US$ 20 milhões (a maior parte desse dinheiro chegou por pagamentos de resgates de jornalistas europeus).

A organização afirma que esta fonte de financiamento está se esgotando gradualmente: os europeus tratam de não se aproximar mais dos territórios controlados pelos terroristas e cada vez há menos empresários sírios ricos na região.

Alguns setores da população se converteram em um alvo do tráfico de escravos, como a comunidade religiosa jazidi (religião que tem base no zoroastrismo) que vive nos territórios controlados pelo EI.

Cultura à venda

"Os impostos sobre o saque não teriam sentido sem a ação de saquear. E isso é também uma fonte de renda. Alepo, uma das cidades mais antigas, declaradas patrimônio da humanidade pela Unesco; Palmira, a pérola do período tardio da antiguidade. O EI se dedica à "arqueologia": imagens de satélite mostram escavações ativas ao redor dessa cidade de mais de 4 mil anos de idade", diz Zotin.

O colunista afirma que, apesar de se saber a quantidade exata de artefatos furtados, "estamos falando de centenas de milhões de dólares". "Os tesouros culturais estão indo parar em silêncio nas coleções privadas de milionários ao redor do planeta", sentencia.



Fonte: Russia Today. Traduzido por Humberto Alencar

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