quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Grito dos Excluídos reúne milhares em defesa da democracia


O ato do Grito dos Excluídos, que aconteceu em todo o país nesta segunda-feira (7), reuniu milhares de pessoas contra a agenda conservadora do Congresso Nacional e em defesa da democracia. Na Praça da Sé, centro da capital paulista, a manifestação lembrou as mortes ocorridas nas escadarias da catedral na última sexta-feira (4).


G1
 O Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera em Sâo Paulo, foi tomado por manifestantes
 O Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera em Sâo Paulo, foi tomado por manifestantes

Os participantes deram um abraço simbólico na igreja, onde ocorreu o fato, que teve como desfecho a morte de duas pessoas. Uma delas era o pedreiro Francisco Erasmo de Lima, de 61 anos, que tentou desarmar um homem que mantinha uma mulher refém, segundo informações da Polícia Militar.

Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo e integrante da coordenação estadual do Grito dos Excluídos, lembrou que o ato já estava marcado para a Praça da Sé, mas ganhou um simbolismo especial com o fato da última sexta-feira. “O rapaz morava aqui na praça, era um morador de rua, e acabou dando a vida para salvar alguém que nem conhecia. Um excluído que dá uma lição dessa para a sociedade”, disse.

O ato, que ocorre tradicionalmente no 7 de Setembro, é organizado por pastorais sociais, movimentos populares e centrais sindicais. Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua, chamou a atenção para a exploração midiática do fato. “É a espetacularização da tragédia humana. O que se viu foi transformar isso em um espetáculo com a busca pela audiência”, avaliou. 

O papel da mídia faz parte do tema do Grito dos Excluídos deste ano Que País é Este, Que Mata Gente, Que a Mídia Mente e Nos Consome. Lancellotti criticou a abordagem da mídia em identificar bandidos e heróis nesta história. “Os dois são vítimas do mesmo sistema”, destacou.

Imigrantes

O ato na Praça da Sé começou com uma missa. Durante a Homilia, Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, lembrou a situação de imigrantes e refugiados pelo mundo. “Temos que ter abertura para acolher aqueles que vivem situação de conflito que vêm em busca de paz”, declarou. Ele destacou que é preciso agir com solidariedade e trabalhar para que se estabeleça o diálogo e se supere o clima de guerra.

A crise migratória e o papel dos brasileiros na recepção desses povos também são temas abordados nesta edição do Grito dos Excluídos, que completa 21 anos.

A irmã Margareth Silva, coordenadora do Centro Referência e Acolhida para Imigrantes, participa do ato os todos anos e reforça a necessidade de se construir um ambiente de solidariedade para acolhida de estrangeiros e para combater a xenofobia. “São pessoas excluídas do mundo, que já não tem uma pátria, paz, que são perseguidos religiosos, que não tem sequer uma língua, porque vão ter que adaptar a uma nova realidade”, disse. O centro é um equipamento da prefeitura de São Paulo, administrado Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras). Segundo Margareth, com um ano de funcionamento, pessoas de 35 nacionalidades passaram pelo centro – haitianos e sírios, na maioria.

Ana Caroline Garcia, da Rede Ecumênica de Juventude, participou do ato para reforçar a necessidade de política para os jovens e de ações de combate ao genocídio da juventude negra. “Faltam locais de lazer, educação de qualidade, políticas de participação”, afirmou. Em defesa da pauta dos trabalhadores, Edson Carneiro, conhecido como Índio, da Intersindical, destacou que as categorias precisam estar nas ruas, especialmente neste 7 de Setembro. “Na nossa opinião, não há independência política sem independência financeira. Vivemos em um país com muitas amarras com o sistema financeiro”, destacou.

Em outro ponto da cidade, mais de 10 mil manifestantes saíram em marcha da Avenida Paulista até o parque do Ibirapuera. Acompanhados de um carro de som e com bandeirantes de movimentos sociais, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra a política econômica.

"A democracia é o melhor processo pra gente avançar nas conquistas sociais, conquista das políticas públicas, no avanço democrático. Então, somos contra o golpe, somos a favor da democracia", afirmou o coordenador estadual da Central de Movimentos Populares, Ricardo Bonfim.

No Rio de Janeiro, após o desfile militar do 7 de Setembro, movimentos sociais saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas, região central. Segundo o diretor da Central de Movimentos Populares, um dos organizadores do Grito dos Excluídos, Marcelo Edmundo, a finalidade é discutir a violência, a repressão e a manipulação da informação pela mídia.

Edmundo resgata que o Grito dos Excluídos surgiu como um contraponto ao "momento de ufanismo" da época dos militares. "A gente está na rua desde então, a ideia do grito é mostrar o Brasil da miséria, o Brasil da necessidade, da falta de saúde, da falta de educação. Mostrar o que realmente esse país precisa e o que falta para a gente se transformar num grande país. Ele se transforma num grande país com saúde, com educação, com cultura, com lazer, com moradia, com reforma agrária, é assim que nós vamos nos tornar grandes."

Edmundo reconhece que nessas duas décadas houve avanços sociais, porém, para ele, faltou uma reforma estrutural. "A direita, as elites daqui não suportam nem essas pequenas conquistas, quanto mais uma mudança mais estrutural, mais profunda que não só esse país, mas o mundo necessita", defendeu. 


Do Portal Vermelho, com informações da Agência Brasil

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