quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Eleições no Canadá: o significado da derrota do Partido Conservador


Nas eleições que aconteceram no dia 19 de outubro, o partido conservador, do primeiro ministro Stephen Harper, foi derrotado após ter se mantido no poder por mais de uma década. O grande vencedor foi o Partido Liberal, liderado por Justin Trudeau, que obteve 40% dos votos e 184 vagas no Congresso. 

Por Alejandro Costa, em seu blog


Justin Trudeau, novo premiê do Canadá
Justin Trudeau, novo premiê do Canadá

O Partido Conservador ganhou 99 vagas e o Partido Novo Democrático, de centro esquerda, 44 vagas. Houve uma gigantesca campanha para evitar o deslocamento da situação eleitoral mais à esquerda. O Partido Novo Democrático tem como base os sindicatos; é uma espécie de Partido Trabalhista britânico.

Em 2008, uma manobra promovida pelo governo direitista impediu uma moção de desconfiança que levaria a um governo formado sobre a aliança dos dois principais partidos da oposição.

O novo governo foi eleito sobre a pressão do descontentamento popular devido ao aprofundamento da crise capitalista e da política exterior. O novo governo prometeu revisar e mudar as políticas relacionadas com a segurança interna, as relações exteriores e a tentativa de diversificar a economia para além dos hidrocarbonetos.

O Canadá e os Estados Unidos

A economia canadense enfrenta sérias dificuldades devido à dependência do vizinho, os Estados Unidos, e das matérias primas energéticas, que viram os preços despencarem no último período e que têm altos custos de produção. A tentativa de aumentar o escoamento para os Estados Unidos por meio do duto Keystone XL tem enfrentado sérias resistências devido à produção local de gás e petróleo a partir do xisto. 

A disputa pelo mercado mundial tem sido cada vez mais difícil, inclusive por tratar-se de uma potência imperialista menor, de segunda ordem. Uma das apostas é o novo Acodro Transpacífico (TPP), à qual o Partido Novo Democrático se opõe. Mas essa aliança representa um instrumento dos monopólios norte-americanos para salvar os lucros, contra a crescente pressão das potências regionais, principalmente a China, favorecendo acordos de livre comercio. O problema é que a essência da crise se mantem de pé, por tratar-se de uma crise de super produção.

A política do governo Harper se caracterizou por um claro alinhamento com o governo dos Estados Unidos, fundamentalmente alinhado com a ala direita. O Canada participou das aventuras militares do imperialismo norte-americano no Afeganistão, na Líbia, no Iraque, na Ucrânia e nos países Bálticos. O envolvimento no cerco contra a Rússia e a China foram componentes centrais do governo.

O novo governo Trudeau aparece alinhado com a atual política da administração Obama e representa um certo contrapeso à ascensão da ala direita nos Estados Unidos que tentam vencer as eleições presidenciais de 2016. Isso representaria uma fato de primeira ordem na evolução da situação política internacional.

O Partido Republicano já controla as duas câmaras do Congresso, onde a extrema direita, agrupada no Tea Party, desempenha um papel determinante. No último debate presidencial para a escolha do candidato, ficou bem clara a política. No âmbito doméstico, os lucros dos especuladores financeiros, da burguesia imperialista, serão defendidos a qualquer custo por meio da escalada dos ataques contra as massas. 

No cenário internacional, a direita norte-americana busca uma saída de força para controlar a crise. No Oriente Médio, os principais candidatos declararam que os recentes acordos com Irã deverão ser desconhecidos. Os principais aliados na região, os sionistas israelenses e a obscurantista monarquia saudita, deverão voltar ao primeiro plano, o que implica na possibilidade de uma guerra, inclusive nuclear, contra o Irã. A Rússia deverá ser controlada e enfrentada em termos militares. O mesmo em relação à China. Em outras palavras, essa ala do imperialismo busca impor um novo governo Bush, ainda piorado.

No olho do furacão da crise capitalista

A queda dos preços da energia levaram o Canadá à recessão não somente no setor da energia, mas também na construção civil e na produção industrial. A crise ainda não atingiu em cheio a população devido ao setor de serviços empregar 80% dos trabalhadores. Mas o orçamento público sim foi atingido em cheio.

A economia do Canadá funciona como um apêndice dos Estados Unidos e foi atingida pela recessão. Isso acontece tanto nas províncias que vivem da exploração dos recursos naturais, destinados na quase totalidade aos Estados Unidos, como Alberta, e as regiões industriais, como Ontário e Quebec. As tentativas de diversificação são tímidas e não têm ido muito além do projeto de criação de uma base para a exportação de gás natural liquidifeito na costa do Oceano Pacífico.

A crise no Canadá tem levado o país à destruição ambiental acelerada com o objetivo de garantir a “competitividade”. O custo de produção a partir das areias asfálticas é de US$ 80, muito acima do custo do barril hoje, o que levou aos métodos depredadores. O novo governo prometeu a revisão dos projetos e a adoção de medidas. Até que ponto isso será possível sem “afetar” os lucros já é outra história. Mas ainda há a Conferência climática das Nações Unidas, que acontecerá em Paris em novembro e dezembro e que poderá expor a “brutalidade” da produção de hidrocarbonetos a partir do xisto, que está na base do “sucesso” da produção energética nos Estados Unidos.

O que tem se tornado cada vez mais recorrente na imprensa canadense é a falta de competitividade por causa dos altos salários. Aumenta a pressão dos monopólios pela “solução final”, por ataques em larga escala contra os trabalhadores.

O “sonho canadense” está com dias contados, da mesma maneira que acontece com todos os demais “sonhos” capitalistas, em escala mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário