No debate sobre desigualdade no território nacional, organizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), nesta quarta-feira (21), o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, foi o convidado especial e admitiu o esfriamento dos movimentos de massa.
Foto: Reprodução/TV PUC-SP
“Nós estamos vivendo um período histórico de refluxo dos movimentos de massa, que atinge a luta no campo e a luta na cidade”, disse ele.
Ao ser questionado pelos participantes do debate, o militante do movimento sem-terra explicou os fatores que determinaram essa redução no número de lutas de massa e de ocupações no Brasil. Stédile contou que, a partir de 2005, a última grande marcha organizada pelo MST teve 17 mil caminhantes rumo a Brasília, durante 20 dias, mas depois disso houve uma queda nas organizações massivas.
E completou, “desde aquela marcha é fato que houve um arrefecimento da luta no campo e na cidade”. “Mas porque isso aconteceu? Por que o MST virou pelego? Isso não é decisão de direção, seria muito simplista. A luta de classe não é decidida em reunião. Nós, do MST queríamos quanto mais povo na rua, mais rápido as mudanças. Porém, há fatores que determinaram esse arrefecimento, embora até em termos estatísticos não foi tanto, nós vínhamos de uma média de 300, 400 por ano, agora baixamos para 200, porém essas 200 não aparecem mais. Que é um dos fatores”, explicou.
Stédile contou como foi a luta por reforma agrágria nos últimos ano e destacou dois fatores que comprometeram o engajamento do trabalhador na luta por terra. Positivamente, ele destacou o governo de “desenvolvimentismo de Lula que contribuiu para o aumento do emprego e da renda. Explanou ele, “os pobres que estavam na periferia do sistema foram trabalhar de carpinteiro, pedreiro porque tinham emprego e um bom salário. Para que vou ficar cinco anos acampado, se posso ir lá trabalhar na construção civil e ter uma renda melhor para minha família?”, exemplificou.
Segundo fator, afirmou Stédile, negativo para a luta pela reforma agrária no país foi que o capital financeiro e as transnacionais que com a crise mundial se voltaram para o Brasil, para a agricultura brasileira, fazendo com que a taxa de lucro aumentasse e consequentemente fizesse que a renda da terra aumentasse também. Disse ele, “como Marx nos explicou em 1856, cada vez que aumenta a taxa média de lucro na agricultura, aumenta o preço da terra, ou seja, o preço da terra é determinado não pelo mercado, mas pela taxa de lucro. E ao aumentar o preço da terra, bloqueia o avanço da democratização da terra, das desapropriações. Houve um bloqueio do capital, ou seja, quem disputou a reforma agrária conosco já não era o proprietário, quem disputou foi o capital internacional que veio para cá e comprava o latifúndio improdutivo”, ressaltou.
Crítica à imprensa
Stédile explicou também que as lutas dos movimentos sem-terra não cessaram, porém, a imprensa contribuiu para que a sociedade não acompanhasse as suas atividades. “Até a novela Rei do Gado”, disse Stédile, “que a Rede Globo se convenceu que quando falava do movimento rural, dava ‘ibope’ para o MST”. “Quanto mais a Globo nos denunciava, o povo nos tratava como se fossemos artistas. Olha, saiu na Globo”, ironizou. “A partir daí a Globo impôs aos jornalistas que era proibido sair notícia de ocupação do MST e a imprensa esconde até hoje. Nunca mais se teve notícia de ocupações”, ilustrou.
Contribuíram com o debate o economista Márcio Pochmann e as professoras da PUC-SP Marijane Lisboa e Carmem Junqueira.
Governo Dilma e os movimentos
Após o debate, informou o jornal Valor Econômico desta quinta-feira (22), João Stédile cobrou da presidenta Dilma Rousseff saídas para as crises política e econômica e que o ajuste fiscal implementado pela equipe econômica do governo dificulta o apoio dos trabalhadores à sua gestão.
Ao jornal, Stédile afirmou que pretende falar pessoalmente com a presidenta Dilma durante uma feira promovida pelo MST neste fim de semana, em São Paulo. Ainda, segundo o Valor, a presidenta estuda ir neste sábado (24) ao evento dos sem-terra. “Se Dilma confirmar a visita à feira, será o terceiro encontro com movimentos sociais em São Paulo em uma semana”, informou o periódico.
Contudo, o líder do MST afirmou que os movimentos populares lutarão para impedir tentativas de impeachment contra a presidenta. "Quem tem razão é o povo e o povo precisa criticar, dizer que o governo está errado. Mas o povo é sábio, não quer impeachment. Quer melhoria de vida", disse. “De que adianta mudar o governo? Não é solução para crise. Precisamos de medidas concretas, que ajudem a tirar a economia da crise.”
Do Portal Vermelho, Eliz Brandão
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