domingo, 26 de agosto de 2012
O TERROU DO NOSSO ESTADO MONÁRQUICO BRASILEIRO.
Não havendo mais homens adultos, crianças assumiram a resistência na frente de batalha (Foto de autor desconhecido. 1870)
Episódio ocorrido em 16 de agosto de 1869 foi dos mais sangrentos da guerra da Tríplice Aliança, que envolveu Brasil, Argentina e Uruguai obedecendo ao império inglês. Movimentos sociais e escolas do Paraguai recordam nesta semana a sangrenta Batalha de Acosta Ñu, ocorrida durante a Guerra do Paraguai (1864 a 1870) há 143 anos e que culminou com a morte de um exército formado por aproximadamente 4 mil crianças.
Por: Vanessa Ramos
Adriano Muñoz, engenheiro agroecológico e integrante da Organización Campesina del Norte (OCN) e da Via Campesina Internacional, lembra que foi o maior massacre bélico do mundo, não existindo antecedentes de outros exércitos integrados completamente por crianças.
Muñoz ressalta que as crianças tiveram de enfrentar 20 mil soldados do exército brasileiro. “A violência foi resultado da realidade imposta pela guerra da Tríplice Aliança na qual os países vizinhos - Argentina, Brasil e Uruguai, decidiram se aliar, obedecendo ao império inglês para nos declarar guerra”, relatou.
O militante político explica a resistência do Exército no momento anterior ao massacre das crianças. “Nosso heróico povo guarani resistiu por cinco anos. Carregado mais de valor e patriotismo do que de armas, se lançou para defender até a morte a soberania dos anos anteriores, construída desde a nossa independência. Nesse período, o Exército não possuía mais soldados porque mesmo os homens adultos mais cheios de coragem foram mortos pela artilharia da coalizão que, em números, era muito maior.”
Não existindo mais soldados, em 16 de agosto de 1869, nos campos de Acosta Ñu entrou a cavalaria de vinte mil homens para acabar definitivamente com a população que havia restado. “Foi em um dia como hoje, na madrugada, que as crianças resolveram deixar seus lápis e brinquedos para enfrentar a tropa inimiga. Elas foram corajosas”, afirmou Muñoz.
Segundo Adriano, as mães das crianças acompanhavam a seus filhos, escondidas no matagal para dar apoio. “As mães auxiliavam no enfrentamento, entregando paus e pedras às crianças. A coragem esteve junto com o pavor. O escritor José Chiavenato descreveu que as crianças de seis a oito anos, no ápice da batalha, assustadas, se agarravam nas pernas dos soldados brasileiros chorando para que não os matassem. Mas foram degolados no ato”, explicou.
“Depois da insólita batalha de Acosta Ñu, ao cair da tarde, as mães das crianças paraguaias saíam da mata para resgatar os cadáveres de seus filhos e socorrer aos poucos sobreviventes. Então, o conde d'Eu, dom Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, mandou incendiar a todos, matando as crianças e as mães. Sua ordem era matar do feto ao ventre das mulheres”, relatou Muñoz.
Nos dias de hoje
Para Adriano, essa história não somente acabou com a população paraguaia, mas abalou, até a atualidade, o desenvolvimento de um povo que desde 1811 havia decidido, segundo ele, ser livre e independente. “Atualmente o Paraguai é um país empobrecido, dependente, assediado pelo capitalismo e submetido às garras de grandes corporações”, disse.
O ativista ressalta a importância de recordar a resistência das crianças nesse momento. “Hoje, depois do golpe que sofremos nos últimos dois meses, que depôs o ex-presidente Fernando Lugo, a lembrança de nossas crianças é fundamental. A batalha mostra a coragem que as elas tiveram naquele momento e deve nos motivar a resistir”.
“Esta página sangrenta de nossa história, longe de ficar em nosso esquecimento, alimenta ao nosso povo a seguir lutando frente ao novo império e seus representantes em nosso país porque as crianças que lutaram há 143 anos são as mesmas que vivem hoje nas ruas, que não vão à escola porque são pobres. Elas todas, nos faz perceber a necessidade de seguirmos em frente, buscando nossa segunda independência”, concluiu Muñoz.
Fonte: Rede Democrática
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