O governo federal liberou R$110 milhões para o agronegócio e
R$18 milhões para a agricultura familiar, que é responsável por 60% dos
alimentos produzidos no país. Para reverter essa situação que consideram
injusta, os trabalhadores e trabalhadoras, povos do campo, das águas e
das florestas reunidos no Encontro Unitário fizeram uma marcha pela
Esplanada dos Ministérios e manifestação em frente ao Congresso Nacional
e ao Palácio do Planalto, na manhã desta quarta-feira (22), em
Brasília.
Para os representantes das organizações sociais do
campo, o meio rural brasileiro está sendo “sequestrado” para satisfazer o
lucro de poucas grandes empresas multinacionais do agronegócio. O
quadro teria sido agravado como reflexo da crise econômica
internacional, a partir de 2008.
Na grande faixa que carregaram, os manifestantes explicitavam sua luta
“contra o modelo de desenvolvimento capitalista”. E explicavam – nos
discursos dos organizadores no carro de som ou nas declarações dos
manifestantes na rua – que a sociedade brasileira quer um modelo
alternativo de desenvolvimento, com valorização da agricultura familiar,
para quem devem ser destinados mais terras e recursos financeiros.
Foi
essa a reivindicação levada pelo grupo que foi recebido em audiência
pelo ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da
República. No encontro, eles falaram sobre o esvaziamento do meio
rural como consequência do atual modelo de produção grícola.
“Nosso mundo rural está cada vez mais deserto. Não dá para ter uma
agricultura familiar que produz a maior parte dos alimentos sem
pesquisa, sem tecnologia, sem assistência técnica e sem o acesso a
terra, pela reforma agrária”, criticou Elisângela Santos, da Federação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf).
Segundo Elisângela, o encontro e a manifestação servirão para reafirmar a
importância política da agricultura familiar para o desenvolvimento do
país. “O conjunto das medidas (do governo) não tem levado em conta a
importância da agricultura familiar, mas para acabar com a miséria e a
fome somente um setor produtivo diversificado”, defende.
Unidade e continuidade
Em meio aos sete mil manifestantes, Rogério Nunes, secretário de
Políticas Sociais, Esporte e Lazer da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB), destaca como fatores importantes da
manifestação a unidade dos movimentos sociais e a defesa da reforma
agrária – bandeira que uniu as entidades de camponeses, quilombolas,
indígenas, atingidos pelas barragens, etc.
O Encontro Unitário, que começou na segunda-feira (20) e termina nesta
quarta-feira, pretende manter a unidade dos movimentos sociais e a
continuidade da luta. Para isso, os movimentos sociais vão priorizar um
plano de ação local nos estados. O secretário de política agrária da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Willian
Clementino, diz que “continuaremos a pautar a luta por reforma agrária e
pelo direito ao território, desenvolvimento rural e produção de
alimentos saudáveis”.
Para Geovane Luiz Huff, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de São Luiz Gonzaga (RS), as demandas específicas de cada estado e
região vão manter a mobilização pela reforma agrária, que é a bandeira
que une os movimentos.
Inimigos antigos
Os quilombolas e indígenas vivem momento delicado, segundo relatos de
lideranças que participam do Encontro Unitário. Otoniel Guarani, da
etnia Guarani-Kaiowá, de Mato Grosso do Sul – um dos porta-vozes dos
indígenas no evento – citou os mais recentes episódios de violência
contra indígenas no país, como o desaparecimento de duas lideranças
Guarani em Mato Grosso do Sul e a perseguição contra Tupinambás no sul
da Bahia.
Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das
Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a pressão sobre indígenas
e quilombolas tem uma razão clara. “A mineração e a abertura de
fronteiras agrícolas são os ovos de ouro do agronegócio e do capital
especulativo. E terras indígenas e quilombolas, uma vez demarcadas, não
voltam mais para o mercado. Há vários setores que não querem isso”,
observou.
Considerado a maior articulação entre as organizações sociais do campo, o
Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos do Campo,
das Águas e da Floresta marca os 50 anos da realização do 1º Congresso
Camponês, de 1961. Na ocasião, também foram reunidos os principais
movimentos sociais. Dessa vez, aos movimentos camponeses se somaram
indígenas e quilombolas. “Nossos inimigos daquela época continuam sendo
inimigos de hoje, agora com a força do capital internacional do
agronegócio”, destacou Willian Clementino, da Contag.
De Brasília
Márcia Xavier
Com informações do MST
Nenhum comentário:
Postar um comentário