Em carta dirigida aos filiados do Partido Comunista da Ucrânia, terceira força política do país e que mantinha apoio crítico ao governo do deposto presidente Viktor Ianukovitch, o secretário-geral do partido, Piotr Simonenko, descreve o papel da burguesia na atual crise política e assinala quais são as tarefas que o partido deve cumprir para manter-se unido, em alerta e não cair em provocações dos fascistas.
Leia a seguir a íntegra da carta:
Caros camaradas comunistas,
Dirijo-me a vocês em um dos momentos mais dramáticos na história do nosso país. Durante os trágicos acontecimentos dos últimos três meses, derramou-se muito sangue, morreu muita gente. A integridade territorial da Ucrânia se viu ameaçada, mesmo sua existência como Estado soberano, independente e unido.
Esses acontecimentos têm um caráter ambíguo. A participação neles de grande quantidade de gente reflete o profundo descontentamento na sociedade com a política do regime de Ianukovitch e de seu entorno, que mostrou sua incapacidade na hora de governar o país, enganando o povo, descumprindo todas as promessas eleitorais e abandonando covardemente seu posto no momento mais difícil.
A falta de vergonha com a qual se enriqueceu o clã formado ao redor de Ianukiovitch, que recebeu o nome de "família", distanciou deles a maioria de seus partidários e eleitores.
No entanto, as manifestações de protesto das massas não adquiriram o caráter de luta de classes. Essa luta cruenta se produziu entre os dois grupos da mesma classe de exploradores, a burguesia oligárquica, dos quais a melhor preparada resultou no grupo que uniu as forças pro-ocidentais, nacionalistas de ultradireita, estas forças souberam habilmente usar o descontentamento popular e com sua ajuda consumar o golpe de Estado.
Ao mesmo tempo, o ocidente abertamente, sem cerimônias, se imiscuiu nos assuntos internos do nosso país, apoiando a atuação das forças ultradireitistas, encaminhados para agir a favor de uma profunda transformação da situação política na Europa e no mundo, a destruir os laços de vários séculos, econômicos, culturais e espirituais dos povos ucraniano e russo e dos demais povos irmãos da ex-União Soviética, entregando a Ucrânia como um protetorado dos Estados Unidos, da União Europeia, da Otan, do FMI e de várias multinacionais.
A ação dos grupos ultradireitistas, encabeçados por forças abertamente neonazistas, surgidas no calor do regime de Ianukovitch e herdeiras ideológicas dos ocupantes hitleristas, vão acompanhados por um novo e extremamente perigoso ressurgimento da histeria anticomunista, que se manifesta na destruição generalizada de monumentos a Lênin, aos heróis da Grande Guerra Patriótica (Como a segunda guerra é lembrada nos países da ex-URSS), por assaltos criminosos às sedes do nosso partido, em Kiev e em outras cidades do país, pelo terror moral e físico contra os comunistas e nas exigências de proibir as atividades do Partido Comunista.
Tudo isso torna muito claro que as forças que chegaram ao poder podem recorrer a qualquer ato ilegal, sem deter-se ante possíveis represálias, não só contra os dirigentes do partido, mas também contra os comunistas da base.
É preciso que estejam preparados para isso.
Nesta situação gerada, a mais importante das tarefas que teremos adiante é manter a estrutura do partido, seus quadros, estar alerta e não cair em provocações.
É vital utilizar todas as possibilidades para explicar aos trabalhadores o sentido do golpe que se deu e o perigo das consequências que acarretarão para as parcelas mais simples da população: uma dramática piora da economia, o crescimento do desemprego, o não pagamento de salários e aposentadorias, a subida de preços e taxas, a elevação da criminalidade e o empobrecimento da população.
A direção do partido, nosso grupo parlamentar no Conselho Supremo (Verhovna Rada, em ucraniano), fará todo o possível para, nestas dificílimas condições, defender os interesses dos trabalhadores, conservar o partido e defender a unidade do país.
Caros camaradas,
Ante o partido, ante cada um de nós, se apresentam novos e difíceis desafios. Unamos nossas filas, multipliquemos os esforços na luta por uma causa justa, como é o socialismo.
Piotr Simonenko, secretário-geral do Partido Comunista da Ucrânia
Tradução de Josafat S. Comín, em seu blog
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