A lógica e o bom senso recomendam que os que ganham governam e os que perdem fazem oposição, salvo aqueles que sofrem de “governite aguda” e estão sempre em busca de uma sinecura governamental, seja qual seja o governo, com bem evidencia o diálogo entre uma repórter e um deputado do PFL logo após a eleição de Lula em 2002.
Assim que as urnas proclamaram a vitória de Lula, essa repórter entrevistou o deputado do PFL, partido que depois de vários anos ocupando posições no governo central finalmente era apeado do poder político.
A repórter, portanto, abordou o eminente deputado pefelista já lhe dando a receita: "quer dizer então deputado que, finalmente, o senhor vai ser oposição?”
Ao que o deputado prontamente respondeu: "deus me livre!”.
Mas o governo não mudou?, ponderou a repórter entre atônita e desconfiada de que, talvez, não tivesse ouvido direito a resposta.
Para não deixar dúvidas quanto à sua vigarice e apego às hostes governamentais, o deputado retrucou, ainda mais enfático, exclamando: "quem mudou foi o governo, não eu; eu sou governo e não tenho culpa se o governo muda".
Parece que toda direita tucana foi tomada por essa síndrome, procurando inverter a lógica do bom senso: querem governar, nomear ministros, escolher a presidência da Petrobras, etc., sem terem ganhado as eleições.
Após terem conseguido nomear o ministro da fazenda, cuja primeira providência foi aumentar a taxa de juros (Selic) e transferir alguns bilhões de reais para as contas de seus verdadeiros patrões, os banqueiros brasileiros e estrangeiros, imaginavam que podiam continuar nomeando a equipe de um governo que não lhes pertence.
Cada 1% de aumento no custo da dívida pública brasileira representa uma transferência de 2,5 bilhões de reais do dinheiro público para o bolso dos especuladores. Hoje, a taxa de juros pós Levy é de 12,25%. Eh alta, absurda mesma! Mas na época de FHC chegou a taxas astronômicas de 26%, ou seja, 14% a mais, o que significa dizer que a banca financeira deixou de faturar mais de 35 bilhões de reais. Não é difícil entender, portanto, porque a direita tem tanto ódio desse governo.
O povo, por três vezes seguidas, lhes disse não!
O não sonoro foi pela roubalheira nas privatizações, pela corrupção sistemática que culminou com a compra de votos para aprovar a reeleição de FHC, pela roleta financeira que caracterizava o governo no período deles e, por após 20 anos de governo continuado em São Paulo, não terem tido competência sequer para garantir água para a população.
A nomeação do novo presidente da Petrobrás foi mais uma oportunidade para escancarar o caráter reacionário e de servilismo dos partidos de direita em relação aos banqueiros. Gritam apopléticos: "o mercado não gostou da nomeação", o ideal, dizem, seria alguém que desse mais segurança ao mercado, ou seja, aos seus patrões.
O governo é o sócio majoritário da Petrobrás, razão pela qual não apenas tem o direito, mas o dever, de nomear alguém de sua confiança, com um mínimo de afinidade com a política geral do governo e não com o "deus mercado".
Avisem pra direita que ela perdeu a eleição. Se, eventualmente, algum dia eles voltarem ao governo, então podem nomear seus patrões banqueiros. Por enquanto, apenas assistam as nomeações e se contenham para não parecem mais caricatos e ridículos do que naturalmente já o são.
* Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.
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