Após aumentar a conta de água, no final do ano passado, e aplicar multa aos consumidores, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) agora quer novo reajuste na tarifa, desta vez, acima da inflação. A notícia é mais um motivo de preocupação para a população, que já convive com a crise de abastecimento de água.
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Governador estuda elevar novamente a tarifa; majoração nas contas pode ser superior a 7% e ocorrer a partir de abril, mas ainda depende de liberação da Arsesp; último aumento foi em novembro de 2014
No entanto, faz a alegria de um seleto grupo de pessoas: os sócios da Sabesp, que negociam as ações da empresa na Bolsa de Nova York. No final, quem vai pagar a conta dos prejuízos são os próprios paulistas. A majoração nas contas só pode ocorrer a partir de abril e ainda depende de liberação da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).
A pressão para o novo reajuste, que pode ser superior a 7% (valor da inflação oficial nos últimos 12 meses, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA), parte dos próprios acionistas. Isso porque, o que é bom para a população, não necessariamente é rentável para o mercado financeiro. Os descontos concedidos nas tarifas de água aplicados pela Sabesp em meados de 2014, associado à queda do consumo – já que poupar água é a única solução para crise –, diminuiriam a arrecadação da empresa, fazendo com que os investidores da bolsa ganhassem menos dinheiro.
Assim, desde que a notícia do novo aumento começou a ganhar força, as ações da Sabesp voltaram a subir na Bolsa de Nova York. Depois de confirmar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que “estuda” reajuste acima da inflação, na última segunda-feira (23), os papéis da empresa dispararam e os acionistas voltaram a lucrar. Nos últimos três dias, com a notícia do aumento, as ações subiram 5,4%.
O reajuste a ser aplicado pela Sabesp trouxe de volta o sorriso ao rosto de seus sócios, que, desde o final de junho, quando o governo começou a aplicar o bônus aos usuários que consumissem menos água, viram as ações da empresa despencar em 45% até os dias de hoje.
Em depoimento à Câmara de São Paulo, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, admitiu na quarta-feira (25) que o novo aumento acima da inflação se daria por conta dos descontos concedidos à população. “Não interessa a ninguém uma Sabesp que esteja, sob o ponto de vista econômico e financeiro, desequilibrada. Se ficar desequilibrada, ela não presta o serviço que precisa à população”, argumentou Kelman.
O último aumento da tarifa anunciado pelo governo ocorreu em novembro do ano passado, somente após a reeleição de Alckmin, quando o valor foi reajustado em 6,49%.
A Sabesp abriu o capital da empresa ao mercado financeiro em 1994, com a desculpa de que, com isso, teria mais dinheiro para investir em obras. Atualmente, 50,3% de seu controle acionário se encontram nas mãos do estado, enquanto 47,7% das ações são de propriedade de investidores brasileiros (25,5%) e estrangeiros (24,2%).
Embora o estatuto social da Sabesp determine que os acionistas podem receber 25% do lucro líquido anual da empresa, a concessionária entregou, em 2003, 60,5% do total aos cofres dos sócios.
Entre 2003 e 2013 (o balanço anual da empresa relativo a 2014 ainda não foi apresentado), dos R$ 13,1 bilhões que a Sabesp obteve de lucro com a cobrança de água da população, R$ 4,3 bilhões foram destinados aos acionistas, conforme relatório da diretoria econômico-financeira e de relações com investidores da Sabesp, apresentado em março de 2014.
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