Por Altamiro Borges
O Dia Nacional de Lutas com Greves e Mobilizações, na
quinta-feira passada, teve vários saldos positivos. Os trabalhadores entraram
em cena, de forma organizada e com suas pautas bem definidas, na onda de
protestos que agita o país. As centrais sindicais deixaram de lado suas
divergências e se uniram na defesa da democracia e dos direitos trabalhistas.
Fábricas, bancos, lojas e outros estabelecimentos foram paralisados; estradas
foram bloqueadas; e milhares de trabalhadores saíram às ruas em atos e passeatas.
Afora tudo isto, as mobilizações serviram para revelar a postura raivosa da
mídia patronal e para indicar a urgência da luta pela democratização da
comunicação. Esta é uma bandeira estratégica para o avanço das lutas sindicais.
Os editoriais dos jornalões e os comentários venenosos na tevê reforçaram esta
necessidade.
Os três maiores jornalões do país tentaram desqualificar o
protesto sindical, como se os filhos dos Marinho, Frias e Mesquita tivessem se
reunido para acertar as manchetes e a cobertura “jornalística”. Todos falaram
em “fracasso” das mobilizações, o que foi repetido pelos “calunistas” das
emissoras de rádio e tevê. No sábado, eles voltaram à carga com editorais
hidrófobos. “Limitações do sindicalismo oficialista”, esbravejou o Globo. “A irrelevância
das centrais”, rosnou o Estadão. “Sindicalismo vencido”, decretou a Folha. A
argumentação foi a mesma nos três editoriais, num “pensamento único”
autoritário e tacanho.
Segundo o jornal da famiglia Marinho, “enquanto as
manifestações de junho, com muito mais jovens, trataram de questões amplas,
capazes de sensibilizar todos - combate à corrupção, ética na política, baixos
investimentos em transporte, educação e saúde -, os sindicatos oficialistas
colocaram a tropa nas ruas com a velha agenda trabalhista, corporativista:
redução da jornada de trabalho com manutenção dos salários, fim do fator
previdenciário, aumentos salariais etc. Alguns dos pedidos são inexequíveis,
sob o risco de explodir de vez as contas públicas... Mas nada de mirar na corrupção,
pois o oficialismo de cada um os impede disto. Até porque há sempre a
possibilidade de alguma pedra atingir o próprio telhado de vidro”. Na maior
caradura, o jornal nada falou sobre as denúncias de sonegação fiscal do
poderoso império.
Já o Estadão – que nasceu vendendo anúncios de trabalho
escravo e rogando pela repressão às greves anarquistas – não escondeu seu ódio
ao sindicalismo, que deve “a sua prosperidade exclusivamente à aberração do
Imposto Sindical”. Para o jornalão da famiglia Mesquita, a jornada de 11 de
julho foi “o retrato acabado do definhamento” das centrais, que “ou são
criaturas de agremiações políticas, como a CUT em relação ao PT, ou trampolim
para carreiras políticas, como a do notório Paulo Pereira da Silva, o Paulinho
da Força, ex-PTB, hoje no PDT e com planos de ter um partido para chamar de
seu, o Solidariedade”.
Por último, a Folha tucana afirmou que “as manifestações
organizadas no país para o chamado Dia Nacional de Lutas foram uma tentativa
das diversas centrais sindicais de recuperar terreno perdido. Não apenas em
relação aos protestos de junho, mas também aos anos de atuação domesticada pela
simbiose com o governo petista... Já ficaram para trás as reivindicações em
prol do ‘sindicalismo autêntico’, defendido pelo então líder operário Lula, que
postulava organizações trabalhistas autônomas. Com a ascensão dos sindicatos ao
poder, a reboque do PT, consolidou-se a versão repaginada do modelo varguista.
O sistema continua a ser tutelado pelo Estado e mantido por tributos compulsórios”.
Todo este ódio ao sindicalismo tem vários motivos. Entre
eles, o fato dos barões da mídia serem um dos piores empregadores do país e
temerem qualquer resistência trabalhista. Eles pagam péssimos salários,
precarizam as relações de trabalho (através da nefasta figura dos PJs) e
demitem milhares de profissionais sem dó nem piedade. Pena que alguns
jornalistas não percebam esta realidade, não se sintam pertencentes à classe
dos trabalhadores e sejam até mais realistas do que o rei. Como sempre ironiza
Mino Carta, o Brasil é o único lugar do mundo em que o jornalista chama o
patrão de companheiro! Lamentável!
Postado por Miro às 11:51
Nenhum comentário:
Postar um comentário