sexta-feira, 8 de maio de 2015

Conselho Mundial da Paz relembra vitória dos povos contra o nazismo


A presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz, Socorro Gomes, participa do Encontro entre Organizações Internacionais Democráticas, que comemora o 70º aniversário da vitória dos povos contra o nazifascismo na capital russa, Moscou. Nesta quinta-feira (7), ela participa da mesa-redonda “1945-2015: Anos de Luta, Novos Desafios”. O evento ocorre na Duma (Câmara dos Deputados), organizado pelo Partido Comunista da Federação Russa.


Arquivo histórico
Soldados soviéticos depõem estandartes e pavilhões nazistas diante do Mausoléu de Lênin, na Praça Vermelha, na parada da Vitória de 1945
Soldados soviéticos depõem estandartes e pavilhões nazistas diante do Mausoléu de Lênin, na Praça Vermelha, na parada da Vitória de 1945

O programa do Encontro, do qual participam Socorro Gomes e cinco representantes de organizações-membro do Conselho Mundial da Paz (CMP), aborda, entre esta quinta e sábado (9), as consequências da Segunda Guerra Mundial e a vigorosa resistência dos povos contra o avanço Nazifascista, refletidos ainda na atualidade, quando se faz premente o fortalecimento e a unidade popular internacional na luta anti-imperialista.

O tema é central para o Conselho Mundial da Paz, que nasceu precisamente no bojo dos movimentos de resistência, no pós-guerra, com o compromisso de fazer avançar a luta dos povos pela paz, por justiça social, contra as guerras, o colonialismo e o imperialismo. Neste ano, em que o CMP também comemora seu 65º aniversário, a importância da trajetória histórica de resistência determinada contra os avanços das grandes potências contra os povos de todo o mundo é enfatizada em eventos como o que ocorre em Moscou.

Apontando para o papel central desempenhado pelo Exército Vermelho soviético na derrota contra o Nazifascismo, Socorro Gomes sublinhou, em sua intervenção, a disseminação da resistência popular contra o retrocesso civilizacional imposto pelas forças alemãs, italianas e japonesas, em episódios que mancharam a história da Humanidade, mas também mostraram o competência da luta dos povos contra a dominação. Socorro recordou as mais de 50 milhões de vítimas da Segunda Guerra Mundial e a devastação provocada pelo grande conflito, enfatizando:

“Os povos da União Soviética pagaram um terrível preço, com a vida de 27 milhões de pessoas e a insólita destruição de milhares de cidades, povoados, lares e fábricas. Inclinamos nossas bandeiras ante o sacrifício dos povos, aos mártires civis e militares que perderam suas vidas, muitos deles vítimas de inomináveis crimes, na luta para libertar a humanidade do nazifascismo, defender as liberdades democráticas, os direitos sociais, a soberania nacional e reconquistar a paz.”

A presidenta do CMP fez menção às resistências entre as amplas camadas da população, organizações sociais e partidos políticos, nos diversos países europeus ocupados ou ameaçados pelo avanço nazifascista e também da Ásia, contra a agressiva ação do Japão imperialista.

Neste sentido, sublinhou a importância do episódio histórico - a vitória dos povos contra o nazifascismo - para a atual luta internacional contra o imperialismo e as novas ameaças de guerra que se espalham pelo mundo. Socorro ressaltou o papel dos Estados Unidos como a potência imperialista representativa desta ameaça, junto com instrumentos de guerra como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aliados como Israel, que apresentam especial risco ao Leste Europeu e ao Oriente Médio.

A dissolução da Otan e a abolição das bases militares espalhadas pelo mundo pelos Estados Unidos, o fim das intervenções e agressões imperialistas contra povos inteiros e a reforma das instituições mundiais, criadas para a garantia mínima do direito internacional, também foram levantadas por Socorro como bandeiras centrais e atuais do movimento internacional pela paz. Por isso, durante o evento, as diversas organizações reúnem-se para debater ações e a unidade em torno dos objetivos da paz e do anti-imperialismo, com o respeito à soberania dos povos e à liberdade contra a dominação.

Leia a íntegra do discurso de Socorro Gomes na Duma Federal da Rússia:

A vitória sobre o nazifascismo: glorioso acontecimento na história da humanidade

O Conselho Mundial da Paz sente-se honrado de participar neste evento para celebrar o 70º aniversário de um dos acontecimentos mais gloriosos da história da Humanidade - a vitória dos povos sobre o nazifascismo, uma conquista das forças da paz, da democracia, da solidariedade e do progresso social.

A Segunda Guerra Mundial foi uma tragédia que custou a vida a mais de 50 milhões de pessoas e devastou principalmente a Europa, causando a destruição da infraestrutura e dos lares e impondo horrendas consequências à população.

Inclinamos nossas bandeiras ante o sacrifício dos povos, aos mártires civis e militares que perderam suas vidas, muitos deles vítimas de inomináveis crimes, na luta para libertar a humanidade do nazi-fascismo, defender as liberdades democráticas, os direitos sociais, a soberania nacional e reconquistar a paz.

Os povos da União Soviética pagaram um terrível preço, com a vida de 27 milhões de pessoas e a insólita destruição de milhares de cidades, povoados, lares e fábricas.

As vitórias do Exército Vermelho nas históricas batalhas de Moscou, Stalingrado, Kursk e Berlim permanecerão indelevelmente marcadas na memória da humanidade, como o tributo dos povos soviéticos para a causa da libertação.

A vitória sobre o nazifascismo foi fruto das heroicas ações nos campos de batalha e da união dos povos e das forças democráticas no âmbito de cada país, além da ação de uma grande aliança internacional, de que fizeram parte a União Soviética, o Reino Unido e os Estados Unidos.

Um poderoso fator para a vitória foi o combate dos povos dos países ocupados pelo fascismo, que organizaram a luta guerrilheira e a resistência entre as amplas camadas da população, organizações sociais e partidos políticos. No continente europeu, as resistências populares italiana, francesa, albanesa, belga, grega, holandesa, húngara, norueguesa, iugoslava, romena, polonesa, dinamarquesa, austríaca, tchecoeslovaca, britânica e mais de uma dezena de movimentos alemães antinazistas foram resolutas no enfrentamento às invasões e às ocupações dos seus países.

No restante do mundo, os povos também se levantaram contra a brutal ofensiva alemã, italiana e japonesa. Foi o caso dos movimentos de resistência na Ásia - na China, Índia, Coreia, Malásia, Tailândia, Vietnã, Cingapura, Filipinas, e dos movimentos japoneses de oposição à guerra. Entre os latino-americanos, foi intensa a luta antifascista e a mobilização de forças para se incorporarem ao esforço de guerra dos aliados alcançou êxito em diferentes países.

A vitória foi, assim, a expressão e o resultado da fraternidade internacionalista entre os povos, na busca pela liberdade, a democracia, a independência e a justiça.

A Segunda Guerra Mundial eclodiu como um confronto entre as grandes potências capitalistas, tendo sido provocada pelos países mais agressivos – a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão.

O grande conflito foi o resultado do desenvolvimento desigual no mundo capitalista. A luta por mercados e fontes de matérias primas era o pano de fundo que empurrava as potências capitalistas à guerra por uma nova divisão do mundo por meio da violência.

Tendo sua origem nas contradições entre países imperialistas, a Segunda Guerra Mundial foi gradualmente mudando de caráter. Os povos dos países ocupados, principalmente a partir da agressão nazista à União Soviética, ergueram-se na resistência popular-nacional antifascista, passando a realizar uma justa luta democrática e de libertação nacional.

Os próprios Estados capitalistas, a partir do desencadeamento da guerra, viram-se confrontados com uma ameaça à sua própria soberania nacional, o que criou condições para a formação de um amplo e poderoso movimento patriótico e antifascista.

Revoluções democráticas, populares e de libertação nacional foram vitoriosas. O caráter libertador da luta antifascista dos povos, o papel decisivo da União Soviética e das massas trabalhadoras e populares na vitória e a derrocada do fascismo deram impulso aos movimentos democráticos e socialistas em todo o mundo. Debilitou-se o sistema colonialista. Tudo isso acarretou uma nova correlação de forças favorável ao avanço das lutas pela paz. As forças da democracia, da paz e do progresso social saíram fortalecidas, acarretando importantes transformações geopolíticas.

Neste quadro, o imperialismo estadunidense inicia uma contraofensiva para assegurar posições hegemônicas e ordenar o sistema internacional segundo seus próprios interesses. O lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki pela aviação estadunidense foi o ato inaugural da nova ordem que os Estados Unidos pretendiam impor.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial até os nossos dias, o imperialismo estadunidense seguiu uma política e praticou ações contrárias aos interesses dos povos, da democracia, da independência nacional e da paz mundial. Foi esse imperialismo que desencadeou as agressões contra a Coreia, o Vietnã e demais países da Indochina, no Oriente Médio, na África, e fomentou golpes militares na América Latina. Foi também esse imperialismo que mais tarde, a partir do final do século 20 e início do século 21, agrediu e destruiu a Iugoslávia, fez duas guerras contra o Iraque, invadiu o Afeganistão, destruiu a Líbia e confirmou sua condição de potência corresponsável pelo martírio do povo palestino ao apoiar a ocupação sionista israelense.

Desde o fim do conflito, o imperialismo estadunidense fomentou a corrida armamentista, intensificou a produção de armas nucleares, espalhou bases militares em todos os continentes, promoveu intervenções de diferentes tipos, numa constante ameaça à paz mundial e à segurança internacional.

Este imperialismo cravou as suas garras em todos os continentes, saqueou as riquezas nacionais dos povos, impôs seu modelo econômico e políticas escravizadoras e neocolonialistas. Organizou sua política externa com o objetivo de desestabilizar os países socialistas e anti-imperialistas, concentrou suas energias no cerco e destruição da União Soviética durante o período da chamada Guerra Fria.

Um dos principais aspectos da ação imperialista é a militarização, que cobrou impulso a partir da criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em abril de 1949, originalmente com a participação dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Portugal, Dinamarca, Noruega, Islândia e Itália, ampliando-se logo em seguida, em 1952, com a presença da Turquia, Grécia e República Federal da Alemanha.

A organização tem hoje 28 Estados membros da América do Norte e da Europa. Outros 22 países estão engajados no chamado Conselho de Parceria Euro-Atlântico. Ao seu lado, outros 19 países estão ligados à Otan através de programas como o “Diálogo do Mediterrâneo”, a “Iniciativa de Cooperação de Istambul” ou a “Parceria para a Paz”.

Desde 1991, a Otan expandiu o quadro de membros e o teatro de operações, o que por si só revela o seu objetivo fundamental de ser uma ferramenta primordial na dominação imperialista ocidental sobre o planeta, uma inimiga da paz, comprometida com as doutrinas do primeiro ataque e dos ataques preventivos. Como uma aliança militar ofensiva, a Otan está sempre pronta para intervir antes mesmo de a diplomacia ter sua chance, caso ela seja de interesse das potências imperialistas. O agigantamento da Otan, que a torna mais poderosa, agressiva e intervencionista – como a atual crise na Ucrânia demonstra – constituem um fator ponderável para aumentar a instabilidade, as turbulências e o perigo de guerra.

No momento em que comemoramos o 70º aniversário da vitória sobre o nazifascismo, o mundo enfrenta novos perigos, as intervenções militares se repetem, a paz é ameaçada, e o fascismo volta a se apresentar com novas e velhas roupagens. Mais do que nunca, impõe-se extrair as lições da experiência histórica e adquirir elementos de convicção para unir as forças democráticas e progressistas a fim de impedir que ocorram novas tragédias. Os fatos evidenciam o caráter desestabilizador e potencialmente destrutivo das políticas agressivas dos EUA e seus aliados na Otan. Tendo fracassado na criação de um ambiente de hostilidade no passado recente, como foi o caso do conflito na Geórgia, os EUA coordenam agora as forças reacionárias e fascistas para tentar cercar a Rússia, a exemplo da crise instalada na Ucrânia. Mais uma vez, os povos pagam o preço: o sofrimento infringido aos civis ainda é inestimável e a turbulência no leste europeu traz grande retrocesso à construção da paz na região, com a reinstalação das forças fascistas, a soldo do imperialismo.

O mundo de hoje é cenário de uma situação instável e crítica. As grandes conquistas democráticas do período do imediato pós-guerra, a independência nacional, os valores civilizacionais sofreram brutal retrocesso a partir da década de 1990 do século passado, quando o traço principal da situação passou a ser uma intensa e abrangente ofensiva do imperialismo estadunidense e seus aliados para assegurar posições de domínio no mundo.

Para além das políticas intervencionistas e militaristas, fazem parte dessa ofensiva o ataque aos direitos dos trabalhadores e povos como “saída” da crise do capitalismo, os golpes na democracia, o racismo, a xenofobia, a falsificação da história.

Num quadro internacional em mutação, está em jogo uma nova divisão do mundo, o saque das riquezas nacionais, a ocupação de territórios, a implantação de uma ordem imperial que além de ter globalizado a economia e padronizado os comportamentos, pretende uniformizar os regimes políticos, a vida cultural, a ideologia reacionária como pensamento único.

Malgrado a retirada das tropas estadunidenses e da Otan do Iraque e outras recentes flexões táticas na política externa norte-americana, a humanidade continua confrontada por uma feroz investida do imperialismo estadunidense para impor sua vontade no mundo, o que faz crescer o intervencionismo, as ameaças e as agressões.

O direito internacional e as instituições criadas para assegurar o exercício de relações internacionais equilibradas não subsistem como tais, em decorrência da instrumentalização pelos interesses de potências hegemônicas. A Organização das Nações Unidas, criada para promover a coexistência pacífica entre nações soberanas, assegurar o equilíbrio no mundo, garantir a aplicação das normas do Direito Internacional, dirimir os conflitos internacionais e promover a paz mundial, atua sob pressão das potências imperialistas que cada vez mais impõem o seu ditame no mundo pela força.

A política hegemonista do imperialismo destrói países, devasta nações antes prósperas, derruba governos legítimos, assassina presidentes eleitos, substitui o diálogo pela força implantando o terror, sob o pretexto de combater o terrorismo, com a finalidade de garantir seus desígnios de domínio e saque. Esta política é a principal ameaça à paz e é o principal fator da instabilidade, dos desequilíbrios e das crises políticas, diplomáticas e militares no mundo.

Por outro lado, é preciso reconhecer importantes transformações na situação internacional, em que se fortalecem profundas demandas emancipatórias que colocam em questão a política dominante e a desigual distribuição do poder. Embora os EUA ainda detenham a maior força econômica e militar, assim como a maior influência política, há elementos na situação que fazem crer que se trata de uma potência em declínio, que já não pode fazer o que quer, pois se confronta com a resistência dos povos e de nações que defendem a paz.

Também notamos o surgimento de novos polos de poder político, econômico e militar, cuja expressão maior é a ascensão vertiginosa da China, o fortalecimento do poder nacional da Rússia, depois de um momento de desagregação e de crise econômico-financeira, e a emergência de uma América Latina fortalecida por posições democráticas e independentistas.

No processo emancipatório, verificamos o agravamento dos conflitos sociais, das contradições entre os países da África, Ásia e América Latina e a dominação imperialista. Estão em curso lutas de variados tipos e intensidades, nos mais diversificados cenários, revelando as potencialidades dos povos e das forças da paz, que se insurgem contra a opressão, o intervencionismo, o militarismo e o belicismo.

No curso dessas lutas, emerge e fortalece-se a solidariedade internacional e a unidade em torno de reivindicações de interesse comum pelo fim das bases militares estrangeiras em países soberanos, pela abolição das armas de destruição em massa, pela dissolução da Otan, pela democratização das relações internacionais com o resgate dos preceitos da carta da ONU, pela autodeterminação dos povos e a solução pacífica dos conflitos internacionais, pelo fim das políticas intervencionistas e das guerras de agressão.

O Conselho Mundial da Paz, fundado no imediato pós-guerra para conjurar o perigo de nova catástrofe de proporções ainda maiores, com a ameaça do conflito nuclear, ao fazer essas reflexões sobre o passado e o presente, invoca o heroísmo dos povos e da resistência antifascista nas suas lutas atuais e na renovação do seu compromisso pela paz a libertação da humanidade.

Fonte: Cebrapaz

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