Na disputa em curso pelos rumos do Brasil pudemos vivenciar nos últimos 12 anos uma real mudança de paradigma do nosso padrão de desenvolvimento, agora baseado na valorização do trabalho como principal meio de distribuição de renda em nosso país. Mas, finalmente, a oposição encontrou seu mote para ferir de morte essa política a partir da paralisação da economia nacional, perpetrada pela operação “lava jato”.
Por José Bertotti*
José Bertotti é membro do Comitê Estadual do PCdoB.
O principal impulso à nossa economia se deu exatamente ao resgatar milhões de brasileiros da mais profunda miséria, movimentando uma economia que incorporou milhões de pessoas ao mercado de trabalho. Uma política articulada de investimentos públicos e privados em infraestrutura, moradia, educação e saúde, que contou com valorização real dos salários e consequente elevação do padrão de consumo de nossa população. Somente no quesito emprego, segundo o Relatório Anual de Informações Sociais no período 1985-2002, foram gerados novos 8.191.282. Em dez anos, apenas, 2002-2012, o Brasil chegou a 47.458.712 empregos, ou seja, 18.774.799 novos empregos formais.
Nesses dez anos tivemos quatro eleições presidenciais, liderados por Lula e depois por Dilma, à frente de uma ampla e heterogênea coligação de forças políticas que vem conduzindo o Brasil até os dias de hoje. No entanto, a oposição, formada por aqueles que ainda não apresentaram um caminho alternativo de desenvolvimento e por hora pregam que as profundas mudanças ocorridas no Brasil nesse último período foram produzidas em agências de publicidade, encontrou um caminho para provar que está certa: paralisar a economia brasileira.
A dita operação “lava jato”, fruto de investigações da Polícia Federal, conduzidas pelo Ministério Público Federal e assistida pelo Juiz Sérgio Moro, nada mais é do que a exposição das entranhas do modelo capitalista de fazer negócios, praticado no Brasil e no mundo. Afinal, esses escândalos não são exclusividade do Brasil. Lembremo-nos da quantidade de prisões realizadas nos Estados Unidos após a quebradeira dos Bancos, que iniciaram a crise financeira internacional de 2008, e do escândalo internacional do HSBC com suas 100.000 contas secretas para lavagem de mais de 100 bilhões de dólares.
No entanto, o uso político dessa operação, com seus vazamentos seletivos ilegais quase colocaram em risco a eleição da presidenta Dilma Roussef em 2014 (e isso por si só, já deveria ter colocado todos aqueles que sabem o valor da democracia com as barbas de molho). Agora, o furo é mais embaixo, fica claro que a operação “lava jato” tornou-se peça chave para derrotar o projeto em curso, que mudou os rumos do Brasil.
Dessa vez não se trata apenas de prisões seletivas, efetivadas para “arrancar” delações premiadas a todo custo, muitas das quais poderão, ou não, ser justificadas depois do devido processo legal, que deve ser conduzido até o final. Trata-se de paralisar o Brasil destruindo milhares de empregos. Muitos dos meus alunos no curso de Engenharia Mecânica foram demitidos do estaleiro no qual trabalhavam, por descontinuidade de contratos, assim como milhares de outros brasileiros estão sendo penalizados quando se quebra a espinha dorsal de setores importantes de nossa economia, inviabilizando qualquer possibilidade de novos investimentos para retomada de nosso desenvolvimento.
O trabalhador brasileiro, que precisa trabalhar 44 horas semanais nos seus postos de trabalho para garantir o salário no final do mês, sabe que a imensa concentração de riqueza ainda existente no Brasil é fruto de centenas de anos de espoliação e apropriação indébita da riqueza gerada por nosso povo. Por isso, apoia a investigação e a prisão de quem enriquece desviando dinheiro alheio. Mas, sabemos que esse apoio para por aí. Não podemos permitir que esse mote seja usado como arma política, principalmente, quando os principais prejudicados são os próprios trabalhadores, à custa de seus empregos. Prendam-se os culpados, mas não quebrem as empresas.
A disputa de hoje é política. Unir uma ampla frente democrática que defenda o desenvolvimento nacional, defenda a engenharia nacional e a democracia é fundamental para que se trave o debate em nível elevado e desmascare aqueles que não conseguiram vencer nas urnas e querem quebrar o Brasil para provar seus argumentos.
*José Bertotti é engenheiro mecânico, coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Faculdade Guararapes e membro do Comitê Estadual do PCdoB.
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