Definitivamente, é impossível resumir a realidade num samba curto. Sobretudo num país como nosso, imenso e pleno de desigualdades sociais e diversidades regionais de toda sorte.
Mais ainda em tempo bicudo como este, em que sofremos os efeitos nefastos da crise global e nos movemos no movediço terreno de uma múltipla crise – política, econômica e institucional.
Isso frustra a quem gostaria de caminhar sob a inspiração de verdades retilíneas e absolutas, sem a necessidade de refletir a cada instante considerando a complexidade dos problemas e das situações.
Militantes do PCdoB e amigos mais próximos, e muitos dos que conosco dialogam nas redes sociais, tendem a cair em armadilhas que dificultam compreender a complexidade da luta política.
Uma armadilha comum é questionar uma suposta contradição antagônica entre a nossa presença em governos e a necessidade de assumirmos nossas opiniões próprias sobre questões complexas que envolvem posicionamentos desses governos.
Assunto muito bem resolvido no Partido, porém não compreendido plenamente. Daí ser recorrente a dúvida.
Militantes comunistas atuam nas mais diversas frentes da luta política e social, cumprindo distintos papéis.
Cada um no seu quadrado, como se diz comumente.
Quem está no governo, normalmente expressa opinião de governo consentânea com o programa pactuado entre as forças coligadas. Trava a batalha de ideias em torno de questões polêmicas nos fóruns próprios de governo, evitando o inconveniente de levá-las a público e fragilizar a unidade da frente que governa.
Sobre o mesmo tema, quando necessário, o PCdoB como instituição independente pode e deve se pronunciar oficialmente.
O Portal Vermelho, principal órgão de comunicação do PCdoB, jamais deixou de criticar os fundamentos macroeconômicas persistentes nos governos Lula e Dilma, por exemplo.
Além disso, na esfera dos movimentos sociais – sindicados, entidades estudantis, associações comunitárias, organizações populares diversas – que guardam independência e autonomia em relação ao governo, podem e devem se pronunciar conforme a opinião consensuada em seus fóruns próprios. Apoiando ou combatendo medidas ou política de governo.
No parlamento, se integramos a bancada governista, normal que votemos com o governo. Contudo, em determinadas questões de elevada relevância, sobre as quais o PCdoB tenha posição divergente, cabe ao líder da bancada, na hora do encaminhamento da votação, usar do expediente regimental que é a “declaração de voto” e expressar a opinião partidária.
Tudo às claras. Nada incongruente. E de modo compreensível e – vale acentuar – absolutamente educativo para a militância e a população em geral, que precisam assimilar a complexidade da luta política, espelho da realidade como ela é.
Simplificações reducionistas levam a lugar nenhum. Pior: levam à inconsequência ou a imobilismo.
Daí a necessidade de amplo, intenso e permanente debate, arrostando a complexidade dos problemas e a inarredável necessidade de adotarmos opinião própria em qualquer lugar ou situação. Raciocinando dialeticamente e tendo a linha política e a orientação tática partidária como norte.
* Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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